O Brasil é o segundo país com mais casos de burnout no mundo, de acordo com a International Stress Management Association (Isma). No país, 30% dos profissionais são acometidos pela doença, segundo pesquisa da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt). O distúrbio é reconhecido pelos sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante. O problema recebeu a classificação de doença ocupacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1º de janeiro de 2022.

A Invenis, legaltech que ajuda a resolver litígios, adotou a chamada gestão descentralizada, modelo que prega a extinção da pirâmide hierárquica tradicional. Nesse caso, a companhia permite que os profissionais se sintam livres para cumprir as atividades que consideram confortáveis, além de dar autonomia para que eles possam tomar decisões que julgarem necessárias dentro de sua área de atuação.

Segundo a startup, a empresa agora tem um clima organizacional mais cooperativo e congruente, diminuindo a pressão exercida sobre os funcionários e, consequentemente, cooperando para que não haja incidência de burnout.

Para o psicólogo Rossandro Klinjey, um dos principais motivos para o aumento dos casos da doença no ambiente de trabalho é a complexa estrutura hierárquica adotada nas empresas. Segundo ele, o modelo de gestão tradicional coloca foco exagerado nos resultados, negligenciando outras variáveis importantes, o que acaba impactando negativamente os colaboradores e, em alguns casos, levando ao esgotamento profissional.

“Muitos gestores tratam todas as pessoas como se tivessem o mesmo perfil profissional e não levam em conta que estão lidando com seres humanos únicos, cada um com suas peculiaridades, qualidades e áreas de desenvolvimento”, analisa Klinjey.

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O psicólogo destaca que essa abordagem de gestão tradicional frequentemente resulta em um controle excessivo sobre os funcionários, deixando pouco espaço para o exercício da criatividade e, consequentemente, contribuindo para o esgotamento mental dos colaboradores. “Essa perspectiva leva a erros como a falta de autonomia dos funcionários, que têm pouco controle sobre seu trabalho e não são incentivados a tomar decisões, gerando sentimentos de frustração”, alerta o profissional.

O cofundador da Invenis, Matheus Bombig, defende que o modelo tradicional com uma pirâmide hierárquica não era adequado ao contexto da empresa. “Acreditamos que quando colocamos o poder de decisão nas mãos de cada um do time dentro da sua área de competência, devolvemos a motivação para que as pessoas desenvolvam suas habilidades, criatividade, que testem e errem. Isso gera um sentimento de dono e culmina com cada um entendendo os limites do lado profissional e pessoal para que um não atrapalhe o outro”, avalia Bombig.

“A empresa convive com uma taxa de retenção de talentos bem acima da média do mercado, tendo em vista que o Brasil apresenta uma média de turnover na casa dos 48%, de acordo com um levantamento realizado pela Robert Half, a corporação possui uma média de 18,8%”, diz nota da Invenis.

Para Bombig, da mesma forma que a gestão descentralizada concede autonomia para os profissionais, ela também os condiciona a exercer a autogestão, a criar e se arriscar para funcionar. “Não é uma fórmula que necessariamente beneficiará todos os tipos de colaboradores ou empresas. É preciso que o perfil dos talentos da companhia seja compatível com essa ideia, para que de fato resulte nas melhorias desejadas”, completa.