Existem crises. E existem crises extremas. Estas acontecem quando uma varejista gigante entra em colapso por camuflar números bilionários sem que o mercado ou órgãos reguladores notem (Americanas). Ou quando bancos viram mingau em horas (VSB, Signature e o centenário Credit Suisse). Nesses momentos, o capitalismo mostra suas fragilidades. E aí o by the book prova ser a melhor das bússolas. Por esses motivos é boa notícia narrar a atuação de quem joga pelas regras da consistência. É o caso do Grupo Bamaq. “Tradição, solidez e alta performance são nossos guias”, afirmou à DINHEIRO Clemente de Faria Jr, CEO da empresa.

Em muitas organizações isso é apenas storytelling para stakeholders. Na Bamaq é atitude. Que vira resultado. Em 2021, o faturamento foi de R$ 1,5 bilhão (lucro líquido de R$ 71 milhões). No ano passado, R$ 2,3 bilhões (lucro de R$ 120 milhões). Para este ano, a previsão é de R$ 3 bilhões (e lucro de R$ 100 milhões). O grupo se divide em três grandes áreas. A primeira vertical é a de Pesados (Máquinas & Caminhões), que faturou R$ 1 bilhão no ano passado (44% do total do grupo). A segunda é a Automotiva (com revendas Mercedes, Porsche, área de seminovos premium e a recém-incorporada montadora chinesa GWM), que teve receitas de R$ 480 milhões (21%). Por fim, o setor Financeiro (Consórcios, Seguros e a mais nova, uma Financeira). “Fomos autorizados agora pelo Banco Central. Vamos assim financiar toda a nossa cadeia de valor.” A vertical financeira teve receitas de R$ 810 milhões (35%). As três frentes apontam para onde seguirá o grupo, que é tornar-se cada vez mais um ecossistema movido a crescimento orgânico.

Números que impressionam. Em especial numa empresa low profile — trata-se de um grupo mineiro, afinal. Mas o que ainda assim é raro, já que falamos de uma trajetória de quase meio século (é de 1974), cujo DNA remete a 1925. Foi quando um bisavô do CEO da Bamaq, também chamado Clemente, tornou-se um dos fundadores do tradicional Banco da Lavoura de Minas Gerais, que existiu até 1971. Seus herdeiros se dividiram e criaram outros dois bancos. Aloysio, o Real (vendido ao ABN e este ao Santander). Gilberto criou o Bandeirantes (vendido em 1998 ao português Caixa Geral de Depósitos e este ao Unibanco, hoje Itaú-Unibanco). O pai de Clemente de Faria Jr era filho de Gilberto e quis empreender longe do setor bancário. Nasceu a Bamaq, para atuar no segmento de veículos pesados. Uma história essencialmente de negócios em família. “A gente deseja que a quinta geração venha para cá”, afirmou o CEO. “Sou um defensor da empresa familiar.”

“Nosso lema é atuar na cultura ganha-ganha. Tudo tem de ser bom para todos. Clientes, fornecedores, colaboradores…” Clemente de Faria Jr CEO do Grupo Bamaq.

CONSISTÊNCIA Não leia nisso uma defesa da família pela família. Clemente de Faria Jr tem uma formação robusta. Fez MBAs em instituições de prestígio no Brasil, como Ibmec e Fundação Dom Cabral, e um pós-MBA na americana Northwestern University. E conhece a empresa como poucos, já que começou a atuar no grupo com 17 anos (hoje tem 35). Paralelamente, construía uma vitoriosa carreira como piloto de automóveis — chegou a vencer o Sul-Americano de Fórmula 3 em 2007. Isso até a morte de seu pai, em 2012, num acidente aéreo. Foi quando assumiu de vez o papel dentro da Bamaq.

Há três anos, Clemente é o CEO, tendo um primo como presidente do Conselho de Administração. “A partir daí a gente focou muito em governança, estruturou o Conselho, trouxemos dois membros independentes, montamos o comitê de auditoria, governança e finanças…” Dessa reestruturação nasce um trabalho de planejamento estratégico que baseia o futuro do grupo nas três verticais.

Familiar, sim. Mas profissionalismo sempre. “Eu defendo, mas as regras têm de ser muito bem estabelecidas, muito claras.” Essa clareza está na essência do dia a dia do CEO. “Temos de focar muito na criação de talentos, em seu desenvolvimento, já que atuamos em metade do Brasil. É uma questão de perpetuação de nossa cultura.” O grupo opera em 16 estados mais Distrito Federal. De forma resumida, de São Paulo para cima.

E o Estilo Bamaq de Gestão parece ter encontrada fórmulas ideais. Em Salvador, a marca Porsche terá a primeira aberta por eles em julho. Até lá, foi montada uma pop up store e 300 unidades do carro foram vendidas. Sim, 300 modelos Porsche. Nas outras duas frentes o crescimento também tem avenidas pela frente. Clemente diz que para cada uma máquina pesada vendida no Brasil há 270km² de área. “Nos Estados Unidos, é uma máquina pra 39km². Na China, uma máquina pra 20km².” Se fizer a conta pela população os números se repetem. “Aqui, uma máquina pra cada 6,6 mil habitantes. Nos Estados Unidos, uma para cada 1,4 mil habitantes. Na China uma para cada 2,9 mil.” Esse potencial será sustentado pelo braço financeiro e segurador do próprio grupo. Ou seja, o potencial está todo dentro da própria Bamaq.

“Aqui trabalhamos sempre com a cultura do ganha-ganha. Tudo tem de ser bom para todos os envolvidos”, afirmou o CEO. Vale para clientes. Para fornecedores. Para os 800 colaboradores. Clemente diz que sua experiência na época do automobilismo deu ensinamentos que ele aplica na companhia. “Ter sido piloto me ensinou três coisas: saber perder, saber trabalhar em equipe e saber a ter a boa ambição. Porque a ambição nos move.”