Em quatro anos, a paisagem da cidade de Sinop, no norte do Mato Grosso, vai ser marcada por um arranha-céu de 154 metros de altura. O chamado ‘Gigante do Nortão’ marca o momento de verticalização da cidade, marcada pela economia movida a agropecuária.

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O Raízes SB tem previsão de entrega para agosto de 2029, com 132 apartamentos espalhados por 42 andares com opções desde 164 metros quadrados (m²) a 766 metros quadrados. Somente a fundação tem 50 metros de profundidade. A construção, sob um terreno de 5 mil m², prevê utilizar mais de 15 mil metros cúbicos de concreto e 350 mil quilos de aço, sendo necessários aproximadamente 1.900 caminhões de concreto e 13 carretas de aço.

O metro quadrado, com o projeto na planta, está sendo negociado a R$ 15 mil, com expectativa de que esse valor pode até dobrar após a obra finalizada. Para efeitos de comparação, conforme o Índice Fipe Zap de junho, o valor está próximo ao praticado em Balneário Camboriú (SC), que concentra os prédios mais altas do país, e é mais que o dobro da média da capital Cuiabá. O crescente grupo de profissionais liberais e empresários que acompanham a evolução econômica da região concentra o público-alvo do empreendimento.

Gigante do Nortão
  (Crédito:Divulgação/São Benedito)

O investimento de R$ 500 milhões no projeto é da São Benedito, construtora fundada há 42 anos no Mato Grosso e que mantém seu foco de investimentos no estado, definido pelo diretor de Marketing, Amir Maluf, como o “Texas brasileiro”.

“Mato Grosso está sendo comparada como um Texas brasileiro, pelo franco crescimento e rápido crescimento atrelado ao agro, mas que também passa por gás natural e exploração de minérios, além do turismo, já que o estado abriga três biomas”, avalia Maluf.

O Texas é o segundo maior estado dos Estados Unidos, que fica ao sul do país, fazendo fronteira com o México, e abriga diferentes paisagens, como florestas e regiões áridas, e tem no petróleo e na agricultura as principais atividades econômicas.

“Pela alta demanda do estado. O foco atual é no Mato Grosso. As cidades do estado estão crescendo muito rápido”, afirma. O otimismo da empresa com o Mato Grosso é de olho nas projeções. A safra de grãos 2024/2025, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), será recorde, podendo alcançar 322,25 milhões de toneladas, aumento de 8,1% na comparação com a de 2023/2024. Ainda apostam que Centro-Oeste retomará posto de região que mais cresce no país. Em 2022 e 2023, o avanço do PIB da região foi de 5,9% e 4,9%, respectivamente.

Além do potencial econômico do estado, a São Benedito também se ancora na característica dos imóveis como investimento conservador e de menor risco. “No máximo, você não perde. Pode ser que diminua a sua taxa de valorização do imóvel. Mas perder investimento, você não perde”, afirma.

No portfólio da São Benedito está 1,5 milhão de m² de áreas construídas e entregues em mais de 55 empreendimentos verticais que somam cinco mil moradias. Maluf diz que a construtora cresceu perto de 50% nos últimos quatro anos. O VGV (valor geral de vendas) da construtora no período é de R$ 2 bilhões.

A São Benedito é hoje uma holding, que além da construtora, abriga negócios na área de energia solar, pecuária e 16 unidades da academia SmartFit espalhadas por diferentes regiões do país, de Manaus (AM) a Chapecó (SC).

A construtora espera um crescimento de 60% no faturamento em 2025, alcançando 0 bilhão. Maluf diz que não descarta ampliar sua atuação para projetos comerciais ou do Minha Casa, Minha Vida, assim como parceria com hotéis.

O Raízes é o primeiro empreendimento da empresa em Sinop e o segundo fora de Cuiabá, onde a construtora concentra seus projetos. Outro fica na Chapada dos Guimarães, mas é um condomínio horizontal com terrenos a partir de 300 m².

Hoje, outros dois ‘espigões’ então em fase final na capital. Um deles, o Baalbek, será o maior edifício residencial da região centro-oeste, segundo a construtora, com 183 metros de altura e 50 andares, com uma piscina de 48 metros que teve como referência o projeto do hotel Marina Bay Sands, em Cingapura. O nome do edifício é inspirado na cidade histórica do Líbano, país de origem do fundador da São Benedito.

Vista da área da piscina do Baalbek, o residencial mais alto da região Centro-Oeste. (Divulgação/São Benedito)
Vista do Baalbek na paisagem de Cuiabá. (Divulgação/São Benedito)

Em comum, os empreendimentos são tratados vendidos como de luxo, e exibem fachadas suntuosas – uma tendência no mercado imobiliário em São Paulo também – iluminação led, móveis planejados, amplas sacadas e muita área de lazer, com academia, quadras esportivas, área gourmet (que abrigam churrasqueira ou fornos).

No Harissa, outro empreendimento nas alturas da construtora em Cuiabá, há a possibilidade, por exemplo, de um home-office que pode ser integrado à unidade ou como anexo no mesmo corredor. Algumas plantas desse prédio acomodam até sete banheiros.

Segundo a construtora, seus investimentos criaram 178 novos postos de trabalho em 2024. E nos três primeiros meses deste ano contabiliza mais 100 novas vagas. Inclusive, um dos desafios da empresa hoje, relata Amir, não são os patamares elevados dos juros, mas mão-de-obra.

Sinop: tradição agrícola e sulista

A cerca de 500 km da capital Cuiabá, a cidade de Sinop é a quarta maior do estado, com uma população de 216 mil pessoas e renda per capita que passa de R$ 64 mil. É uma das expoentes da atividade agrícola do país, setor que no primeiro trimestre deste ano cresceu 12,2% em relação ao último do ano passado e 10% na comparação com o mesmo período em 2024, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), responsável pelo levantamento oficial do Produto Interno Bruto (Pib) do país.

Vista aérea da região de Sinop (MT) (Crédito:Ana Carolina Nunes/IstoÉ)

A soja encabeça a produção local e ocupa o protagonismo que no passado foi de extração madeireira. E como a principal commodity agrícola, acabou por acelerar o desenvolvimento econômico da cidade, que hoje se consolidou como um polo na região, com oferta de serviços que atinge cerca de meio milhão de pessoas na região, segundo estimativas da Unesin – União das Entidades de Sinop.

E o mercado imobiliário costuma ser um bom termômetro do cenário econômico. Dados da Secretaria de Planejamento Urbano e Habitação da Prefeitura de Sinop mostram que a metragem construída na cidade praticamente dobrou em cinco anos, passando de cerca de 538,3 mil metros quadrados em 2020 para mais de 1 milhão de metros quadrados em 2024. No primeiro semestre de 2025, foram registrados 466,6 mil metros quadrados de construção.

“O crescimento expressivo do mercado imobiliário em Sinop é resultado de uma cidade que se prepara para o futuro. Nos últimos anos, o planejamento urbano foi conduzido de forma estratégica, e garantindo agilidade, segurança jurídica e infraestrutura para que o setor continue crescendo e gerando desenvolvimento”, diz Scheila Pedroso, secretária de Planejamento Urbano e Habitação de Sinop.

Apesar de estar bastante próxima da região do Norte do país, já em área de Amazônia Legal, Sinop nasceu praticamente como uma filial sulista. O nome é um acrônimo de Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná e sua criação foi no âmbito da política nacional desenvolvimentista do Brasil dos anos 1970, quando o governo incentivou, e em partes subsidiou, a imigração de famílias e negócios do Paraná e de Santa Catarina e Rio Grande do Sul – estados com tradição agrícola – para a cidade, sob o espírito de ocupar e desenvolver a região.

“Integrar para não entregar”, era o lema do governo militar do período para justificar a exploração amazônica. E foi essa exploração que deu início às atividades econômicas da cidade, com a indústria madeireira. Com a redução da área a ser explorada, e aumento do cerco aos players ilegais, a atividade também arrefeceu – mas segue relevante – e foi ultrapassada pela produção de grãos no início dos anos 1990. O principal deles é a soja, mas o cultivo do milho teve um forte impulso nos anos recentes – a cidade abriga a maior produtora de etanol de milho do país – além do algodão.

A BR-163 é a principal ligação da rodoviária da região, e Sinop é um dos pontos da rodovia de mais de 3,2 mil km ligando o Rio Grande do Sul ao Pará. Conta também com um aeroporto recém-reformado, que homenageia o presidente militar João Batista Figueiredo, e com uma plataforma local de ‘carro por aplicativo’, o SIM ou o ‘Uber de Sinop’.

Mas o setor produtivo da cidade hoje advoga por outro modal: o Ferrogrão. O projeto de uma ferrovia que liga a cidade até Miritituba, no Pará.

Ferrogrão

A ideia é escoamento de grãos via ferrovia combinada com hidrovia navegável até a costa paraense, uma vantagem geográfica em relação aos portos de Santos (SP), Vitória (ES) ou Paranaguá (PR). Contudo, o projeto, com quase 10 anos de criação, passa por apreciação da Justiça por questões ambientais enquanto aguarda lançamento de edital. O investimento previsto é de R$ 25 bilhões para os pouco mais de 900 km de percurso.

*A jornalista viajou a convite da São Benedito Construtora