11/01/2012 - 21:00
A crise econômica da União Europeia revelou que alguns gigantes do bloco tinham pés de barro. Embora ostentassem há décadas endividamentos elevados em relação ao PIB, países como Itália e Espanha – que sempre financiaram seus déficits sem dramas vendendo títulos públicos aos investidores privados – terminaram 2011 sob o contágio da tragédia grega. A derrocada da Grécia não só tornou mais difícil e cara a rolagem das dívidas italiana e espanhola, entre outras, como ameaçou a própria existência do euro, a moeda única de 17 países. A dúvida mortal é se os bancos europeus que carregam os títulos públicos com a credibilidade arranhada terão força para suportar uma onda de calotes oficiais. Não por acaso, o Banco Central Europeu emprestou quase E 500 bilhões na virada do ano para 523 bancos, por um prazo de três anos, a juros mínimos.
O BCE espera, com isso, dar mais fôlego para a rolagem das dívidas e melhorar as expectativas de investidores, empresas e consumidores quanto ao futuro da União Europeia. Muitos bancos europeus têm mantido certa lucratividade graças aos ganhos robustos que obtêm em suas filiais na América Latina, especialmente no Brasil. Casas como Santander e HSBC só têm a agradecer por suas operações relevantes no País, que rendem bons negócios e muitos dividendos. Surpreende, portanto, que Nicolas Eyzaguirre (foto), diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) responsável pela América Latina, tenha feito um alerta sombrio sobre a possibilidade de contágio dos bancos da região. “Embora a deterioração das condições ainda não tenha se propagado à América Latina, não estaremos imunes se os riscos aumentarem”, escreveu Eyzaguirre.
“Um quarto dos ativos bancários das maiores economias latino-americanas, em média, está nas mãos de bancos da zona do euro, e muitos desses bancos não estão concedendo empréstimos ou renovando as linhas de crédito existentes, na tentativa de reforçar seus balanços.” Ora, se os ativos podres que assustam estão na Europa, e não na América Latina, os bancos de lá tendem a reforçar as operações por aqui, onde as perspectivas são muito melhores. E o financiamento dessas filiais, como ele mesmo admite no artigo, é em sua maior parte feito com dinheiro local, ou seja, não irá desaparecer se a crise de crédito na Europa se agravar. Para que, então, ser alarmista e jogar lenha verde na fogueira das expectativas pessimistas? Se o objetivo era levantar fumaça, Eyzaguirre conseguiu.