Em seus dias de esplendor, o Jockey Club de São Paulo recebia nos grandes prêmios apostadores elegantes e senhoras da alta sociedade. 

 

O dress code era impecável. Eles, com ternos bem cortados e completos. Elas, emolduradas por vestidos da moda e chapéus que não deviam nada às ladies da nobreza britânica na Royal Ascott ? o evento mais chique do turfe mundial, realizado todo ano, em junho, na Inglaterra. 

 

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Presidente criador: Rocha Azevedo exibe, todo orgulhoso, sua égua puro-sangue
inglês Facamp, batizada em homenagem à instituição de ensino da qual é sócio

 

Todo esse glamour ficou como uma lembrança do século passado. Atualmente, as dependências do hipódromo paulistano são ocupadas basicamente por um punhado de fiéis apostadores e frequentadores de bazares e feiras de decoração. 

 

Apenas o paletó ainda é exigido dos homens, mas  somente nos salões e tribunas reservados aos sócios. Será possível resgatar a elegância no clube quatrocentão, que afundou-se em dívidas e parou no tempo? Eduardo Rocha Azevedo, eleito presidente em 16 de março, aposta que sim.

 

Apesar do nome e da ascendência aristocrática ? seu bisavô foi promotor do Império ? Rocha Azevedo é um típico self-made man que trabalhou duro desde cedo e venceu no coração financeiro do País.

 

Começou a trabalhar por volta dos 15 anos com o pai, Augusto, dono de uma representação em São Paulo. Depois, na década de 1960, aos 16 anos, foi office boy no escritório do corretor da bolsa de valores Marcelo Leite Barbosa. 

 

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Com isso, não terminou os estudos. ?Nem mesmo o madureza?, diz ele, com sua proverbial simpatia e simplicidade ? para quem não está familiarizado com o nome, madureza era um curso destinado a alunos adultos ou que não tinham completado, na idade regular, o ginásio e o colegial.  

 

A falta de formação, porém, não o impediu de fazer uma carreira meteórica no mercado de capitais. Virou corretor e chegou a se eleger por duas vezes à presidência da Bovespa (1982-1985 e 1987-1990). 

 

Entre um mandato e outro, criou a BM&F, em 1986. Afastado dos pregões, Rocha Azevedo, hoje com 61 anos de idade,  quer recuperar a importância do Jockey Club de São Paulo, o segundo maior do País em atividade turfística, do qual é sócio desde agosto de 1975.

 

Empolgado com a novíssima função, Rocha Azevedo vislumbra um futuro empresarial para o clube da elite paulista. Não tem outra fórmula, defende. ?Nem com reza braba a gente vai limpar a barra do Jockey. Só com profissionalismo?, afirma, sem papas na língua. ?Aprendi, quando presidi a Bovespa, que para os cargos executivos devemos contar sempre com profissionais.?  

 

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“Nem com reza braba vamos limpar a barra do Jockey Club. Só com profissionalismo” 

 

Rocha Azevedo, para quem  amadorismo é coisa do passado, diz que não aguentava mais a concepção, predominante até há pouco no Jockey,  de que os associados é que deveriam administrar o clube. ?Teremos um diretor executivo, profissionais de marketing e de outras áreas para realizarem tudo o que queremos fazer aqui dentro.? 

 

Com um patrimônio avaliado em cerca de R$ 2,5 bilhões, segundo Rocha Azevedo, o Jockey acumula dívidas da ordem de R$ 250 milhões. 

 

?Vamos contratar uma auditoria para ter a real dimensão do que é devido, bem como das receitas e despesas?, afirma. ?Sei que nesse bolo há dívidas de IPTU e de INSS.? 

 

Como frequentador assíduo do Jockey ? ele mantém em suas cocheiras 23 cavalos, da raça puro-sangue inglês (PSI), entre eles a égua Facamp, uma homenagem à instituição de ensino de nível superior, de Campinas,  da qual é sócio ?, o novo presidente está ciente de que será preciso desembolsar  alguns milhões na recuperação do sofisticado endereço. ?O dinheiro será primeiro empregado para arrumar a casa.?  

 

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Apostadores garbosos: nas décadas de 50 e 60, do século passado, os frequentadores
do Jockey Club faziam questão de ir às corridas trajando figurinos elegantes e completos 

 

Além de sanear financeiramente o Jockey, que completa, em 2011, 70 anos na sede do bairro de Cidade Jardim, onde ocupa um terreno de 600 mil m2, o novo presidente tem como compromisso restaurar o glamour perdido. 

 

?Vamos rever os contratos de terceiros, que ocupam o Jockey para festas e shows?, diz. A entidade não vai desistir dos eventos, responsáveis por parte da receita, mas será mais rigorosa na seleção dos clientes. 

 

Outra questão que será revista pela nova diretoria é o preço do título, que hoje custa cerca de R$ 5 mil (incluindo a transferência). ?Tá muito barato?, diz Rocha Azevedo. Mesmo assim, o Jockey viu o número de associados, que já chegou a 10 mil, emagrecer, nos últimos anos. 

 

Hoje, são dois mil. Uma coisa é certa. As saborosas criações do chef Charlô Whately, um dos mais aguerridos cabos eleitorais de Rocha Azevedo, vão continuar no cardápio do seu belo restaurante, com vista para a pista de corridas.

 

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