O fluxo migratório dos últimos anos nos Estados Unidos contribuiu para que o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, promovesse cortes nas taxas de juros e direcionasse a inflação para uma trajetória de queda. Ao site IstoÉ Dinheiro, Marc Giannoni, economista-chefe do Barclays nos EUA, explica que houve um aumento na imigração do país nos últimos três anos que ajudou a consolidar o mercado de trabalho local.

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Segundo Giannoni, entre 2022 e 2024, o setor privado anunciava 12 milhões de vagas para serem preenchidas, enquanto o país registrava seis milhões de desempregados. “Realmente faltavam seis milhões de pessoas para vagas que as empresas queriam preencher imediatamente”, com o aumento da imigração, houve também, por consequência, um aumento na força de trabalho local, em torno de dois milhões ao ano, calcula, “o que ajudou a fechar a lacuna, aliviar e normalizar o mercado de trabalho”, diz. “O que também foi associado a um crescimento salarial “acomodado”, ou seja, com média salarial mais baixa do que em um cenário com baixa oferta de mão de obra.

Como consequência, salários mais “achatados” e mercado de trabalho estabilizado, ajudaram a arrefecer a pressão inflacionário e permitiu ao Fed cortar pontos na taxa de juros ao longo dos últimos anos, após os Estados Unidos chegar aos 5,5% ao ano em 2023, um patamar alta em um país que registrar juros próximos a zero (0,25%) até 2022. Na quarta-feira, 29, o banco central americano manteve os juros na faixa de 4,50% a 4,75%.

“Os salários gradualmente chegando a níveis mais sustentáveis [mais baixos] ajudaram a inflação a caminhar para a meta de 2% ao longo dos últimos tempos. Isso permitiu que o Federal Reserve cortasse as taxas de juros. Então, essa grande onda de imigração ajudou a economia a crescer mais rapidamente”.

Agora, o receio é que todo esse processo retroceda com a política anti-imigração do novo presidente Donald Trump, que está atuando para tirar do país milhões de imigrantes. ” A preocupação agora é que veremos mais aperto novamente no mercado de trabalho, talvez crescimento mais lento e ganhos salariais mais rápidos que podem impedir o Fed de cortar ainda mais a taxa de juros por algum tempo.”

O banco central dos Estados Unidos tem entre seus focos, além do controle da inflação, o mercado de trabalho no país, que deve ser mantido no patamar máximo sustentável de empregabilidade. Em um cenário de alta demanda por mão de obra, os salários tendem a subir, levando a alta de inflação, o que por sua vez impacta nos juros em patamar mais elevado, com potencial de carregar seus efeitos para outras economias, como o Brasil.

Entra nesse cenário as novas regras tarifárias anunciadas por Trump, que também devem ter efeito inflacionário no país. “Isso força o Fed a manter os juros em patamares mais altos”. Giannoni projeta que o Fed vai manter o patamar atual dos juros no primeiro semestre e faça um corte no segundo. “Não mais do que isso’.

*A jornalista acompanha a conferência a convite da organização da GLMC.