O que você faria se tivesse investido US$ 15 bilhões em uma fábrica de automóveis que em 14 anos não deu um tostão de lucro? A resposta mais coerente talvez fosse ?eu fecharia as portas?, mas a General Motors disse ?vou apostar um pouco mais?. E, assim, anunciou no Salão de Detroit, na semana passada, que aplicará mais US$ 3 bilhões para fazer nova tentativa com sua subsidiária de carros de plástico, a Saturn. A idéia é jogar no lixo tudo o que foi feito até agora e recomeçar do zero. A Saturn nasceu em 1990 numa tentativa de barrar a invasão dos carros japoneses no mercado americano. Seus modelos tinham carroceria de plástico e engenheiros e fábrica exclusivos. Podiam ser totalmente personalizados pelo consumidor antes de entrar na linha de montagem e custavam entre US$ 10 mil e US$ 15 mil.

Além de enfrentar os japoneses, a estratégia era pescar os clientes para modelos e marcas mais caros da própria GM, como Buick ou Cadillac. A primeira parte do plano só funcionou até aparecerem outros vilões, os coreanos, ainda mais baratos que os japoneses. Já a segunda nunca deu certo, porque, ironicamente, quem comprava um Saturn gostava tanto dele que o trocava por outro. E é exatamente por causa dessa fidelização que a GM decidiu não descartar a companhia.

Só que a nova Saturn vem diferente ? para ficar igual a qualquer montadora. Os carros agora serão de aço, deixam de ser espartanos nos acessórios e ganham modelos mais completos e esportivos. Peças e plataformas serão as mesmas já usadas em outras divisões da holding. Em Detroit, foram apresentadas as três primeiras provas dessa radical transformação, que já consumiram parte do novo aporte de US$ 3 bilhões: o conversível Sky, a minivan Relay e o sedã-esporte Aura. Este último dará origem ao substituto brasileiro do Astra Sedan e do Vectra no final de 2005.

Mas será que sofisticar algo que nasceu sob a premissa da simplicidade pode dar certo? Rick Wagoner, CEO da GM, aposta que sim: ?Vamos saltar de 215 mil unidades vendidas em 2004 para 400 mil em 2007?, destacou. Os analistas estão pagando para ver. Até porque, em 2000, a GM fechou as portas da Oldsmobile por muito menos. A marca vendia 1 milhão de carros por ano ? quase cinco vezes mais que a Saturn ? e foi riscada do mapa. Sem dizer que a subsidiária tem inimigos dentro de casa. ?Vários executivos torcem o nariz para as constantes injeções de capital?, conta um ex-diretor da GM do Brasil.