05/10/2013 - 7:00
O ano de 2012 não foi exatamente fácil para a fabricante americana de pneus Goodyear, em escala global. Suas vendas mundiais caíram 7,8% em relação ao ano anterior, atingindo US$ 20,9 bilhões. O desempenho foi ainda pior na América Latina, curiosamente onde está situada sua fábrica mais eficiente, operada pela subsidiária brasileira em Americana, no interior de São Paulo. Os números da região, onde a o Brasil responde por 51% do faturamento, indicam que a situação é delicada: queda de 16,7%, passando de US$ 2,4 bilhões para US$ 2 bilhões.
Acelerador: para voltar a crescer por aqui, Kihn vai buscar parcerias
com montadoras que a marca já atende fora do Brasil
Para piorar, em meio a esse cenário desafiador, para dizer o mínimo, a empresa ainda teve de encontrar um substituto para o CEO Filipe Ferreira, que permaneceu menos de um ano no posto, trocando-o pela vice-presidência da área de alimentos da Bunge no Brasil. Para dar um novo rumo à Goodyear, o comando mundial, baseado em Akron, no Estado de Ohio, nos EUA, destacou o luxemburguense Jean-Claude Kihn, 54 anos, como o terceiro executivo a assumir a filial desde 2008. “Meu desafio é acompanhar a modernização do mercado automobilístico do Brasil”, afirmou o novo CEO, em sua primeira entrevista desde que
desembarcou por aqui, em abril.
Velho conhecedor do Brasil, onde esteve inúmeras vezes desde 1994, Kihn demonstra uma razoável intimidade com o português. O forte sotaque vem sendo suavizado graças a aulas com professor particular. E, nesse caso, afiar a língua parece ser o melhor que ele tem a fazer. Isso porque um dos principais problemas da Goodyear é seu relacionamento com os proprietários das 80 revendas de sua rede, que apresenta um desempenho aquém do esperado. As vendas na região caíram 16,7%, mais que o dobro dos 6,8% registrados pelo mercado, de acordo com dados da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip). O avanço dos produtos importados, especialmente da China, não conta toda a história.
“Entre todas as empresas do setor no Brasil, a Goodyear é a que mais está perdendo espaço”, afirma Hiroshi Matsumaga, sócio-gerente da consultoria Himatrix, baseada em São Paulo e especializada em pneus. Uma das principais dificuldades apontadas pelo especialista é a estagnação da rede de vendas de produtos. “O mercado está mudando graças à abertura de novos canais de venda e à entrada de novos concorrentes, mas a Goodyear está ficando para trás”, diz Matsumaga. A produção brasileira de pneus é comercializada de três formas. O varejo, também conhecido como mercado de reposição, absorve a maior fatia (44%), seguido pelas montadoras (32%) e pelas exportações (24%). Atualmente, a rede escoa sua produção por 600 pontos de venda exclusivos em todo o País.
O que parece não ser o bastante. Segundo Matsumaga, para não perder terreno, concorrentes como a italiana Pirelli ampliaram os canais de distribuição e investiram pesado em lojas especializadas em veículos importados. Kihn, no entanto, minimiza a força dos chineses: “O crescimento da importação indica que existe espaço para ampliarmos a produção local de determinados modelos”. Um nicho que está na mira do executivo é o segmento de veículos utilitários esportivos (SUV, da sigla em inglês) e o de caminhonetes. Para tirar vantagem do crescimento das vendas nessas categorias, a filial está concluindo um investimento de US$ 240 milhões na unidade de Americana.
Apesar das dificuldades, ele se mostra otimista em relação ao futuro também por outro motivo. A produção local da trinca do luxo: BMW, Audi e Mercedes-Benz, que já anunciaram fábrica de automóveis no Brasil. “Somos fornecedores de todas essas empresas na Europa”, diz Kihn. “Dependendo do volume, poderemos ter até uma nova fábrica para atender à demanda.” Mas isso dependerá do aval da matriz da Goodyear, cujo mantra tem sido cortar custos e aumentar a eficiência. Foi com isso em mente que a unidade situada em Amiens, na França, foi fechada, em janeiro.