24/04/2002 - 7:00
Há quatro anos, dois amigos recém-doutorados em Ciência da Computação pela Universidade de Stanford, Estados Unidos, deram início a um projeto de internet. Típicos nerds, Sergey Brin, agora com 28 anos, e Larry Page, 29, não entendiam nada de negócios. Entraram num mercado já dominado por Yahoo e Lycos. Ainda assim, o Google chegou lá: é o site de busca mais procurado pelos americanos, muito à frente do segundo colocado, o Yahoo. A explicação está na sua ferramenta de busca, que vai além de um catálogo virtual. Ela vasculha todas as páginas da web, mesmo aquelas mais escondidas. A cada palavra-chave digitada, cerca de 3 bilhões de páginas são pesquisadas. ?Sem a ferramenta, uma pessoa levaria 5.707 anos, trabalhando 24 horas por dia, para encontrar a informação exata de que precisa na internet?, diz Larry Page, nitidamente fanático pela matemática.
A empresa do Vale do Silício sabe que tem um bom produto nas mãos. A Google é conhecida na região por manter o clima descontraído no trabalho, como nos bons tempos da internet. Funcionários vão para o escritório de bicicleta e ainda podem desfrutar de um área de lazer, com mesa de sinuca. O problema é que a equipe de 50 cientistas e matemáticos não conseguiu encontrar a fórmula para alavancar a receita. A pontocom não abre seus números, mas estima-se que seu faturamento gire em torno de US$ 80 milhões. ?O sistema de busca deles está cada vez melhor. O problema é a receita baseada em propaganda?, diz Gustavo Viberti, um dos fundadores do Cadê, site de busca brasileiro. A idéia inicial da dupla Page e Brin, e que tem sido implementada até hoje, é o aluguel da ferramenta de busca para outros portais. Até o Yahoo utiliza o sistema Google. O acordo entre as duas empresas, avaliado em US$ 6 milhões, expira em junho e dificilmente será renovado. ?Todos estão tentando entender como e por que o Yahoo ajudou a criar seu maior concorrente?, diz Evan Thornley, CEO da americana LookSmart, que também atua no setor de busca na rede.
Enquanto o Yahoo se preocupa com o sucesso do filho que
ajudou a criar, para o Google a concorrência está em outro lugar. Trata-se da Overture, empresa que desenvolve uma ferramenta de busca muito parecida com a do Google ? com a diferença de que faz dinheiro. Sua receita é de US$ 480 milhões e tem AOL e MSN como clientes. Ela permite que os anunciantes paguem para ter um destaque no resultado da busca. Se alguém procura por ?Guerra Fria?, por exemplo, a primeira opção será um site de comércio eletrônico que vende livros com aquele tema. Na semana passada, o Google anunciou um plano para anunciantes similar à da Overture, o que lhe valeu um processo por plágio. Copiando ou não, o fato é que Eric Schmidt, CEO do Google, precisa encontrar urgentemente um modelo de negócios que justifique a oferta pública de ações, prevista para o ano que vem. A esperança é de que o nome da empresa dê sorte. Google é o termo em inglês para o numeral que começa com 1 e é seguido por 100 zeros. Basta reverter tantos dígitos para o faturamento.