24/05/2023 - 19:44
O Google tirou do ar de sua loja de aplicativos nesta quarta-feira (24/05) um jogo eletrônico em que o usuário simulava ser um proprietário de escravos.
No game chamado “simulador de escravidão” o jogador era estimulado, por exemplo, a obter “lucro” com pessoas escravizadas e contratar guardas para evitar rebeliões.
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O jogo mostrava imagens de pessoas acorrentadas, como um homem negro que aparecia coberto de grilhões em uma estética semelhante a de um desenho animado. Na capa, uma gravura retratava um homem branco ao lado de um homem negro escravizado seminu.
Segundo a própria plataforma de aplicativos Google Play, o jogo havia sido baixado mil vezes até a manhã desta quarta-feira. A Google Play indicava como desenvolvedor do jogo Magnus Games, mas não foi possível identificar com clareza qual seria a empresa ou pessoa por trás do produto.
Em nota, o Google confirmou que removeu o game de sua loja de aplicativos e que toma medidas para coibir a incitação ao ódio e à violência.
“Temos um conjunto robusto de políticas que visam manter os usuários seguros e que devem ser seguidas por todos os desenvolvedores. Não permitimos apps que promovam violência ou incitem ódio contra indivíduos ou grupos com base em raça ou origem étnica, ou que retratem ou promovam violência gratuita ou outras atividades perigosas”, diz a gigante da tecnologia em na nota.
Representação no MP
O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) disse nesta quarta-feira em sua conta no Twitter que entrará com uma representação no Ministério Público por crime de racismo, pedindo a prisão dos responsáveis pela divulgação do jogo.
“A própria existência de algo tão bizarro à disposição nas plataformas mostra a urgência de regulação do ambiente digital”, disse o parlamentar, que é relator do PL das Fake News.
A historiadora e psicanalista Mariléa de Almeida disse à Agência Brasil que o chamado racismo recreativo é uma conduta que foi tornada crime a partir de lei sancionada em janeiro que equiparou o crime de injúria racial ao de racismo.
Na avaliação de Mariléa, as pessoas ainda sentem que há espaço para esse tipo de conduta devido à construção histórica de que pessoas negras não são seres humanos iguais aos demais.
“Esse crime sustenta, do ponto de vista histórico, a naturalização de corpos negros como sendo desumanizados, objetificados”, enfatiza.
“Essa mentalidade, que se expressa no próprio psiquismo que valida as pessoas se engajarem em um jogo desses, sem perceberem o horror. Sem sentirem um horror, um incômodo”, acrescenta Mariléa sobre as razões para que seja possível a criação e o uso desse tipo de produto.
le (EBC, ots)