16/04/2020 - 13:47
Minúsculas, mas temidas. As gotículas que um paciente da COVID-19 expele pela boca são o principal vetor de transmissão do novo coronavírus, que infecta por via aérea, como a gripe e o resfriado.
– Transmissão –
Cada vírus tem características próprias de transmissão, que podem ser divididas em três categorias, lembra o biólogo François Renaud: transmissão vetorial, que requer um vetor para infectar, por exemplo um mosquito (caso da chikungunya, da zika e da dengue, entre outros); pelo contato com fluidos humanos, como HIV e Ebola, e pelo ar, como sarampo, gripe, resfriados e SARS-CoV-2, responsável pelo COVID-19.
A última categoria é “a mais difícil de controlar”, segundo Renaud, pesquisador do Laboratório de Doenças Infecciosas de Montpellier (sudeste da França).
O SARS-CoV-2 é um filamento encapsulado de RNA (ácido ribonucleico) que penetra uma célula para reproduzir e contaminar outras. Ele coloniza as células das vias respiratórias, seu alvo privilegiado, dentro do qual produz virions, partículas virais infecciosas.
Quando um paciente tosse ou espirra, ele exple pela boca e pelo nariz “um conjunto de gotículas que são como mísseis portadores de vírus”, explica o biólogo.
Essas gotículas do sistema úmido (membranas mucosas) das vias aéreas e da garganta também são expelidas em menor quantidade ao falar, embora também sejam potencialmente contagiosas, segundo Christophe Bécavin, especialista em mecanismos de entrada do vírus no organismo.
Portanto, uma pessoa saudável será infectada inalando as gotículas emitidas por uma pessoa infectada.
“A porta de saída do vírus é a boca e a entrada principal é a mucosa da boca e do nariz”, resume Michaël Rochoy, clínico geral no norte da França. Também pode penetrar através dos olhos.
O COVID-19 também pode ser contraído quando uma gota cai sobre um objeto, onde “deixa uma certa carga viral por um tempo”, de acordo com o Dr. Rochoy. A infecção ocorre quando a mão que tocou o objeto é trazida para a mucosa.
– Carga viral –
Uma única expulsão de gotículas pode ser suficiente para infectar? “Não sabemos porque ainda não sabemos qual é a carga mínima para pegar”, explica Bécavin, pesquisador do Instituto Francês de Farmacologia Molecular.
Além disso, se as gotas forem depositadas em uma superfície, elas permanecerão infectadas por mais ou menos tempo, dependendo do material que a compõe.
E a carga viral depende “da quantidade de vírus que cada paciente carrega, já que somos todos diferentes com relação a essa doença”, acrescenta Renaud.
– Duração –
Graças à pressão superficial da água, ela permanece em seu estado de queda quando é expelida. Dentro está o vírus. A gotícula começa a cair no chão depois de “um ou dois metros, em média, devido à gravidade”, observa Bécavin. É por isso que é crucial respeitar o chamado distanciamento social.
Não se sabe, entretanto, se o vírus pode continuar sendo ativado no ar, como é o caso do sarampo, de modo que o contágio seria possível, por exemplo, entrando em um espaço em que um paciente tossia horas antes.
As Academias de Ciências dos Estados Unidos recentemente decidiram apoiar esta tese com base em uma compilação de informações.
Em um estudo, pesquisadores da Universidade de Nebraska encontraram partes do código genético do vírus no ar expelidas pelos pacientes do Covid-19 depois de duas horas. “Mas não sabemos se ainda era infeccioso”, ressalta Bécavin.
“Essa questão é primordial”, pois, se confirmado, “o vírus flutuaria no ar e sairia pelo nariz” mesmo sem espirrar, acrescenta Bécavin. Mas “é preciso esperar outros estudos científicos para saber ao certo”.
– Barreiras –
Como medida preventiva, muitos médicos recomendam o uso de uma máscara que cubra a boca e o nariz.
“É preciso começar com a hipótese mais desfavorável”, segundo Rochoy.
“Mesmo confinadas, as pessoas saem para fazer compras, conversam com outras pessoas e nem sempre é possível respeitar distâncias. As máscaras permitem reter as gotículas e proteger-se de outras”, alerta o clínico geral.
“Se todos usassem máscaras, isso teria um enorme efeito de barreira” contra o vírus, contra o qual atualmente não existe tratamento ou vacina, lembra Renaud.