A Vivara vivia um momento de crescimento em 2024, até que uma troca de CEO deixou o mercado desconfiado. Em março daquele ano a companhia anunciou o retorno de seu fundador e maior acionista, Nelson Kaufman, como novo CEO, em substituição ao seu sobrinho Paulo Kruglensky, o que gerou um possível conflito de interesses. 

Conhecido no mercado financeiro como “Nelson Day”, a companhia perdeu R$ 1,5 bilhão de valor de mercado no dia em que o Fato Relevante foi publicado. A empresa viu uma queda de 9% somente em um dia. O recado do mercado foi tão eloquente que Kaufman pediu para sair do cargo poucos dias depois, para dar lugar a Otavio Lyra. 

Procurada para comentar sua trajetória, a Vivara está em período de silêncio e não pode se pronunciar até a divulgação do balanço do segundo trimestre, esperado para 7 de agosto.

Volta repentina com ideias antigas

Fontes do mercado ouvidas por IstoÉ Dinheiro afirmaram que a volta de Kaufman ao comando da companhia gerou “mau-humor” no mercado, já que o fundador e maior acionista da empresa estava há anos afastado da Vivara e retornou repentinamente, com “ideias de gestão antiquadas”.

Meses depois, com a saída de Lyra, quem assumiu o comando foi Ícaro Botelho, mas as desconfianças permaneceram, já que a saída de inúmeros diretores com críticas ao ambiente de trabalho na empresa começaram a aparecer nas redes sociais. 

Gestão familiar levanta dúvidas

Outro ponto que levanta dúvidas no mercado é o estilo de gestão familiar da companhia. A analista da Levante Inside Capital Carol Sanchez contou que a desvalorização da época se deu por conta da Vivara ser uma empresa onde a família ainda mantém muito poder, apesar de ter capital aberto, e isso acaba aumentando a desconfiança do mercado. 

“Mudanças dessa magnitude, como a transição de um CEO, acabam gerando incertezas e volatilidade. A Vivara pode ser considerada uma empresa familiar, com a família predominantemente no comando, o que pode intensificar a percepção de risco em momentos de transição de liderança”, explicou. 

Empresa apresentou crescimento recorde em 2024

A empresa fechou 2024 com lucro de R$ 653 milhões, aumento de 71,4% em comparação com 2023. Além disso, registrou Receita Bruta Líquida de Devoluções de mais de R$ 3,3 bilhões, um crescimento de 17,3% em relação ao mesmo período do ano passado, e Ebitda Ajustado de R$ 657,5 milhões, maior patamar já registrado que representa uma elevação de 37,1% ante a 2023. 

A Vivara abriu mais de 70 lojas em 2024 somando Vivara, Life e Quiosques, e terminou o ano com 456 lojas no Brasil e 1 loja no Panamá.

As ações da companhia também estão se recuperando: em 2025 a valorização dos papéis foi de 33,16% contra 11,43% do Ibovespa. 

Mudanças no alto escalão

No dia 18 de julho, em Fato Relevante, a Vivara anunciou outra mudança no alto escalão da companhia. Por conta de problemas de saúde, Nelson Kaufman vai deixar a presidência do conselho, sendo substituído por sua filha, Marina. Já Paulo Kruglensky também vai voltar ao conselho, depois de deixar o cargo de CEO em 2024. A empresa, no entanto, informou que não haverá nova mudança de CEO. 

“Eu vejo isso como positivo. A volta do Kruglensky é algo que traz mais estabilidade a governança, que ele tem uma história sólida com a empresa, é muito respeitado pelo mercado. A entrada da Marina indica um fortalecimento da liderança familiar, algo que pode ajudar a reduzir, mitigar um pouco os riscos de execução da estratégia e melhorar a percepção de governança do mercado. Acredito que a Vivara tem boas chances de manter a performance sólida que ela vem mantendo”, acredita Sanchez.