30/12/2017 - 10:18
A polícia dispersou neste sábado com gases lacrimogêneos os jovens que protestavam contra o poder em Teerã, depois que o Governo advertiu contra as “manifestações ilegais”, no terceiro dia de marchas contra as dificuldades econômicas e o Executivo iraniano.
À noite, foi cortado o acesso a internet pelo celular em Teerã, conforme constataram jornalistas da AFP.
Durante o dia, dezenas de estudantes se concentraram neste sábado em frente à entrada principal da Universidade de Teerã para protestar contra o poder, antes de serem dispersados pelas forças de segurança com gases lacrimogêneos.
Centenas de estudantes pró-governo se mobilizaram para tomar o controle do lugar, acusando os outros manifestantes de “sediciosos”, segundo vídeos publicados em redes sociais e na imprensa.
No final da tarde, centenas de pessoas se manifestavam em outras partes do bairro da universidade, gritando lemas contra o poder, até que a polícia antidistúrbios apareceu para dispersá-las.
A agência Mehr, próxima aos conservadores, publicou no aplicativo de mensagens Telegram -utilizado por 25 milhões de iranianos- vídeos em que manifestantes atacam a prefeitura do distrito nº2 de Teerã, virando um carro da polícia.
A imprensa também informou de caixotes incendiados e outros atos de vandalismo em Teerã.
Em outros vídeos difundidos pelo Telegram, milhares de manifestantes aparecem gritando “morte ao ditador” em protestos supostamente ocorridos em cidades como Khorramabad, Zanjan e Ahvaz, no oeste.
Segundo essas fontes, várias pessoas teriam sido mortas a tiros na província de Lorestan (oeste) em confrontos com a polícia.
No entanto, a autenticidade dos vídeos não pôde ser verificada, e os meios não informaram sobre protestos neste sábado em outras cidades além de Teerã.
No Twitter, o ministro das Telecomunicações, Mohammad-Javad Jahormi, acusou o Telegram – muito utilizado no Irã – de encorajar o “levantamento armado”.
O diretor do Telegram anunciou o fechamento da rede Amadnews -que tem quase 1,4 milhão de assinantes- por ter incitado a “violência”.
– “Manifestações ilegais” –
Mais cedo, o ministro iraniano do Interior, Abdolreza Rahmani Fazli, tinha pedido “à população que não participe de manifestações ilegais, já que criarão problemas para si mesmos e para outros cidadãos”.
Na quinta e na sexta-feiras, centenas de iranianos saíram às ruas em uma dezena de cidades em protestos contra o poder e as dificuldades econômicas.
Embora o número de manifestantes tenha sido limitado, esta foi a primeira vez, desde 2009, que tantas cidades iranianas foram tomadas por protestos sociais.
Por outro lado, o Governo mobilizou, neste sábado, dezenas de milhares de pessoas em várias cidades para celebrar o aniversário do fim da “revolta”, os protestos antigoverno feitos em 2009, após disputadas eleições e a vitória de Mahmud Ahmadinejad para um novo mandato.
Opositores iranianos se manifestaram neste sábado em Paris e Berlim em solidariedade aos protestos no Irã.
Na capital francesa, cerca de 40 membros da diáspora iraniana protestaram em frente à embaixada do Irã na França pelo “fim das ingerências” na Síria e no Líbano.
Em Berlim, cerca de cem de opositores ao governo de Teerã se reuniram em frente à embaixada do Irã para pedir a liberação imediata dos manifestantes detidos e no país.
Neste sábado, pela primeira vez, a televisão pública iraniana abordou os protestos de quinta e sexta-feiras, afirmando que é preciso entender “as reivindicações legítimas” da população, embora tenha acusado os meios e os grupos “contrarrevolucionários” baseados no exterior de buscarem explorar esses eventos.
Dezenas de pessoas foram detidas desde quinta-feira, embora a maioria já tenha sido solta, segundo a emissora. Em algumas cidades, a polícia dispersou os manifestantes com jatos de água.
Os Estados Unidos condenaram as prisões, e seu presidente, Donald Trump, instou o Governo iraniano, através do Twitter, a “respeitar os direitos de seus cidadãos, incluindo o direito a se expressar”.
O Ministério das Relações Exteriores iraniano reagiu dizendo que “o povo iraniano não dá nenhum valor nem crédito às declarações oportunistas dos responsáveis americanos e de Trump”.
– “Sinal de alerta” –
“Sinal de alerta para todo o mundo”, intitulava neste sábado o jornal reformista Arman, enquanto se multiplicavam os pedidos ao governo para que adote medidas para solucionar os problemas econômicos do país.
A promessa de relançar a economia, debilitada pelas sanções internacionais, esteve no centro da campanha presidencial do presidente Hassan Rouhani, um religioso moderado reeleito em maio.
Apesar do levantamento de algumas sanções após o acordo sobre o programa nuclear iraniano, e de que se limitou a inflação a cerca de 10%, a taxa de desemprego no Irã continua sendo alta (12%, segundo dados oficiais).
“O país enfrenta grandes desafios, como o desemprego, os altos preços, a corrupção, a falta de água, as desigualdades sociais e o desequilíbrio do orçamento”, tuitou Hesamodin Ashena, o conselheiro cultural do presidente Hassan Rouhani.
“As pessoas têm o direito de fazer ouvir sua voz”, acrescentou.