20/07/2025 - 13:15
Em cerimônia em Berlim, ministros e filho do ex-chanceler federal Willy Brandt relembram papel de militares que tentaram assassinar o ditador nazista em 20 de julho de 1944.Membros da classe política alemã e das Forças Armadas do país participaram de uma cerimônia neste domingo (20/07) para assinalar o 81º aniversário da tentativa de assassinato de Adolf Hitler por oficiais do exército alemão durante a Segunda Guerra Mundial.
Um dos principais eventos ocorreu no memorial de Plötzensee, em Berlim, junto a uma prisão onde os nazistas assassinaram pelo menos 2.800 pessoas, incluindo muitos opositores e resistentes.
O principal orador do evento foi o ator Matthias Brandt, filho do antigo chanceler federal alemão Willy Brandt, que fugiu do regime nazista e se exilou na Noruega em 1933, anos antes de entrar para a política no pós-guerra, tendo sido posteriormente prefeito de Berlim ocidental e líder do governo da Alemanha Ocidental entre 1969 e 1974.
Matthias Brandt recordou como, após a guerra, foi necessário muito tempo para que o papel dos opositores de Hitler fosse reconhecido e como muitos tiveram de sofrer insultos por parte daqueles que ainda os consideravam “traidores da pátria”.
“No início do pós-guerra, os homens e as mulheres da resistência foram apresentados como tendo demonstrado que era possível comportar-se de forma diferente da maioria. Para muitos, lidar com a resistência era também lidar com a sua própria passividade” perante a ditadura nazista, acrescentou.
“Estavam confortáveis com a ideia de que tinham feito parte de um povo seduzido que tinha sido entregue aos nazistas sem saber o que se passava”, salientou Brandt, que evocou a história do seu pai como membro da resistência contra Hitler e procurou fazer a ponte para o presente.
Matthias Brandt também advertiu que os males do nazismo ainda persistem. “Hoje, estamos novamente vendo […] como o veneno do ódio, do racismo e da exclusão está penetrando e se mostra no embrutecimento social, não
menos na linguagem, por meio da violência e do uso consciente de imagens da propaganda nazista”, disse Matthias Brandt.
Atentado
Em 20 de julho de 1944, o coronel Claus Schenk von Stauffenberg, membro de um núcleo de oficiais e aristocratas que havia se voltado contra Hitler, plantou uma bomba no quartel-general conhecido como “Toca de Lobo”, na antiga Prússia Oriental, hoje dentro das fronteiras da Polônia.
Mas a bomba que Stauffenberg escondeu numa mala deixada na sala na qual o ditador nazista participava de uma conferência não alcançou seu objetivo. Hitler sofreu apenas alguns ferimentos. No mesmo dia, fracassou uma tentativa de golpe de Estado para remover os nazistas do poder que ficou conhecida pelo nome “Operação Valquíria”. O coronel e centenas de membros da resistência, entre militares, aristocratas, religiosos e políticos conservadores, acabaram sendo executados um a um nos dias e semanas que se seguiram.
Responsabilidade histórica
Participando da cerimônia neste domingo, a ministra da Justiça, Stefanie Hubig, disse que a Alemanha não pode ser novamente uma fonte do mesmo tipo de horror que surgiu na década de 1930. “Essa é a responsabilidade de todos nós resultante dessa dívida”, disse ela. “Devemos e precisamos dizer com mais firmeza e mais alto que não permitiremos que o estado de direito ou a democracia sejam destruídos novamente”, disse ela
Já o ministro da Cultura, Wolfram Weimer, também prestou homenagem aos conspiradores do 20 de julho, mas acrescentou que a resistência deve ser vista num sentido mais amplo.
“No dia 20 de julho de 1944, pessoas corajosas enfrentaram a injustiça. Mas quando falamos de resistência, não devemos falar apenas dos conspiradores. As suas famílias também deram provas de coragem e muitas pagaram um preço elevado. Parentes que esconderam cartas e esposas que ficaram na prisão, mães que foram sujeitas a longos interrogatórios”, afirmou.
“Não existem monumentos nem letras douradas para eles, os heróis silenciosos que, no entanto, marcaram a nossa história”, acrescentou o ministro.
Já o prefeito de Berlim, Kai Wegner, mencionou a “grande coragem” dos membros da resistência contra a tirania nazista. “Eles enfrentaram a ameaça de privação de direitos, campos de concentração, punição coletiva ou assassinato”, disse.
Ambivalência alemã
O legado de Stauffenberg na Alemanha do pós-Guerra desperta sentimentos mistos no país. Inicialmente, após a guerra, muitos alemães ainda influenciados pelos nazistas ainda o viam como um traidor. Posteriormente, diferentes governos da Alemanha Ocidental começaram lentamente a exaltar a figura do coronel e outros membros do complô. No entanto, com o passar do tempo, mesmo a exaltação começou a ser vista de maneira mais crítica, com alguns historiadores sugerindo que Stauffenberg era um oportunista que só se voltou contra o ditador nazista quando a derrota da Alemanha passou a ser inevitável.
O historiador Wolfgang Benz disse ao jornal Augsburger Allgemeine em 2019, na ocasião do aniversário dos 75 anos do atentado, que é importante que os alemães se recordem do movimento de resistência mais amplo ao nazismo, e não apenas dos oficiais militares envolvidos no complô de 20 de julho.
jps (DPA, Lusa, DW, ots)