Sob forte pressão dos mercados e da opinião pública, o governo trabalhista britânico tentou, nesta quarta-feira (26), dissipar as preocupações sobre as contas públicas apresentando ao Parlamento um orçamento com aumentos de impostos e medidas para favorecer o poder aquisitivo.

“Minha escolha é um orçamento para uma tributação justa, serviços públicos sólidos e uma economia estável”, declarou a ministra da Economia, Rachel Reeves, encarregada de apresentar o plano do governo aos deputados.

Para cumprir sua promessa de financiar no longo prazo cada despesa (exceto investimentos) com receitas, a ministra anunciou aumentos de impostos que resultarão na arrecadação de 26,1 bilhões de libras (175 bilhões de reais) no orçamento anual até o final da legislatura (em 2029) e 29,8 bilhões de libras (200 bilhões de reais) no ano seguinte, em 2030/2031.

Reeves se recusou a aumentar o imposto de renda, o que teria significado descumprir uma importante promessa de campanha dos trabalhistas, optando por uma manobra mais sutil, o congelamento dos limites deste imposto.

Essa medida, que pode ser considerada um imposto disfarçado, faz com que aqueles que obtiverem um aumento salarial paguem mais, passando a uma faixa superior. A arrecadação seria de 12,7 bilhões de libras (85,43 bilhões de reais) em 2030/2031.

Também foram anunciados aumentos de impostos sobre as propriedades mais luxuosas, os jogos de azar e as previdências privadas.

– Crescimento estagnado –

Reeves não teve outra escolha senão impor esses impostos, de mãos atadas por uma economia que continua fraca desde o retorno ao poder dos trabalhistas, em julho de 2024.

O crescimento estagnou (+0,1% no terceiro trimestre), enquanto o déficit (cerca de 5% do PIB no ano passado) e a dívida preocupam os mercados.

Em seu nível mais baixo nas pesquisas e superado pelo partido de extrema direita de Nigel Farage, o Reform UK, o Executivo do primeiro-ministro, Keir Starmer, tenta capitalizar politicamente este esperado anúncio.

Nesta quarta-feira, Reeves voltou a culpar as “decisões prejudiciais” dos conservadores, no poder durante 14 anos, e também o “legado do Brexit e da pandemia”.

Mas seu orçamento do ano passado também foi muito criticado.

Apesar dos 40 bilhões de libras (cerca de 269 bilhões de reais) em aumentos de impostos muito impopulares, dos quais 25 bilhões de libras (168 bilhões de reais) foram especialmente questionados pelas empresas, e de dezenas de bilhões em investimentos, o governo não conseguiu nem recuperar o equilíbrio orçamentário, nem fomentar o crescimento.

“Eu disse que reduziria o custo de vida, e eu falava sério. Este orçamento permitirá reduzir a inflação e proporcionar um alívio imediato às famílias”, prometeu a ministra, que apresentou uma série de medidas a favor do poder aquisitivo.

A eliminação de um teto nos benefícios familiares, que segundo estimativas custará 3 bilhões de libras (20,18 bilhões de reais) para 2029/2030, é a mais importante.

Também foi anunciado um aumento superior à inflação das aposentadorias e do salário mínimo.

Outras medidas são mais simbólicas do que determinantes, como o congelamento das tarifas ferroviárias.

Estas medidas sociais são indispensáveis em um orçamento trabalhista, em um país com inflação persistente (+3,6% em outubro), onde o gás e a eletricidade custam caro.