08/02/2017 - 15:15
O governo da Colômbia e a última guerrilha ativa do país, o ELN, iniciam nesta quarta-feira, a portas fechadas no Equador, as negociações para um acordo de paz, após a cerimônia de abertura do processo na terça-feira.
“Mesa com ELN nos enche de otimismo. Novas gerações e vítimas merecem que diálogos avancem e alcancemos a paz completa”, escreveu no Twitter o presidente Juan Manuel Santos.
Vencedor do Nobel da Paz pelo acordo assinado em novembro com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), o presidente busca negociar um acordo similar com o Exército de Libertação Nacional para acabar com mais de meio século de guerra interna.
“Este não será um processo expresso, mas tampouco de discussões intermináveis”, advertiu Santos, que deixará o poder em agosto de 2018.
Na terça-feira à tarde, depois de três anos de contatos secretos e vários meses de atraso, representantes do governo e da guerrilha abriram formalmente as negociações em uma fazenda que pertence aos jesuítas nas proximidades de Quito, diante de jornalistas de todo o planeta.
“Estamos diante da oportunidade de, por fim, virar a página da guerra”, disse o chefe das negociações do governo, Juan Camilo Restrepo.
A cerimônia também contou com a presença de representantes dos países avalistas: Equador, Brasil, Chile, Cuba, Noruega e Venezuela.
– “Otimismo moderado” –
“Viemos aqui dispostos a conseguir uma saída política. A nós anima a esperança da maioria dos colombianos de por fim ao enfrentamento fratricida”, declarou, por sua parte, Pablo Beltrán, nome de guerra de Israel Ramírez, negociador-chefe dos rebeldes.
Ambas as partes se sentarão para debater a portas fechadas em uma fazenda no Equador, onde realizarão a primeira e a última rodada de negociações. Os demais encontros acontecerão nos outros países avalistas.
As conversas, com uma agenda de seis pontos, serão iniciadas com dois temas de maneira simultânea: “as dinâmicas e ações humanitárias” e “a participação da sociedade na construção da paz”.
Para Frédéric Massé, analista político da Universidade de Externado, em Bogotá, a reunião “convida a um otimismo moderado porque, apesar do tom apaziguador das declarações, as duas partes se mantêm firmes em suas posições”.
A mesa devia ter sido instalada em outubro, mas foi adiada pela exigência de Santos de que fosse libertado um ex-congressista do ELN, mantido refém desde abril, e da guerrilha de que o governo indultasse dois rebeldes presos e nomeasse outros dois facilitadores de paz.
A entrega do militar Fredy Moreno Mahecha, que o ELN havia capturado em 24 de janeiro no nordeste da Colômbia, reforçou a confiança no processo.
O ELN, por sua vez, pediu ao governo que assuma sua responsabilidade na conflagração interna que dessangrou a Colômbia e envolveu guerrilhas, paramilitares e forças do Estado e deixou 260 mil mortos, 60 mil desaparecidos e 6,9 milhões de deslocados.
No entanto, segundo consulta divulgada nesta terça-feira na Colômbia, 61,2% dos entrevistados não acreditam nas intenções do ELN de alcançar um acordo de paz.