24/07/2024 - 8:51
O governo de São Paulo fixou o preço mínimo de R$ 63,56 para a ação da Sabesp no processo de privatização. Este preço foi definido em reunião extraordinária na tarde de 20 de junho, antes da oferta pública ir para o mercado, e só ficou público nesta quarta-feira, 24, após a liquidação da operação que privatizou a empresa.
A oferta pública só iria continuar se o investidor de referência fizesse uma proposta de preço acima desse valor, que só era conhecido naquele momento pelos conselheiros que participaram da reunião. E a Equatorial, único investidor a apresentar proposta para ficar comprar 15% da Sabesp, propôs o preço de R$ 67, na época criticado por partidos de esquerda por estar abaixo do preço de tela da ação da empresa de saneamento na B3, onde era negociada na casa dos R$ 74.
+ Tarcísio comemora conclusão de privatização da Sabesp: ‘Melhor modelo do mundo’
+ O que muda com a privatização e como o exemplo de Berlim pode servir de alerta
Ainda entre as condições para que a oferta fosse concluída, o governo paulista fixou que era preciso ordens de ao menos 20 investidores institucionais na oferta global, o que acabou sendo bastante superando, pois cerca de 310 fizeram ofertas.
Outra condição era uma cobertura mínima de pouco mais de uma vez – 1,33x – no livro de ofertas, o que também acabou sendo amplamente superado, pois a demanda chegou a superar mais de 12 vezes o livro, chegando a R$ 187 bilhões.
O Estado de São Paulo levantou R$ 14,77 bilhões com a venda de ações da Sabesp.
Tarcísio diz que alto investimento justifica preço de venda
Em cerimônia que marcou o encerramento do processo de privatização da Sabesp, nesta terça-feira, 23, na B3 (a Bolsa brasileira), o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, defendeu o modelo de venda e disse que o preço de R$ 67 da ação pago pelos investidores pelas ações da companhia ficou bem acima das cotações de quando o processo de venda do controle da estatal de saneamento começou, há 18 meses. Em 2022, o preço das ações da Sabesp foi de R$ 33 a R$ 46, e ganhou impulso depois das eleições daquele ano e a expectativa de privatização, chegando a R$ 51.
“Essa narrativa da esquerda não nos preocupa”, disse o governador de São Paulo. “Do ponto de vista financeiro, valeu muito a pena para o Estado”, completou.
“Atingimos nosso objetivo e o alcance financeiro foi maior do que o esperado”, disse a secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do governo de SP, Natália Resende, que estava na reunião que definiu o preço mínimo, em 20 de junho.
Ainda ao defender o preço de R$ 67 por ação, Tarcísio argumentou que a Equatorial, que propôs esse preço para ficar com 15% da Sabesp, terá de fazer investimentos pesados para universalizar o acesso ao saneamento no Estado até 2029, além de não poder vender as ações até dezembro daquele ano, o chamado lock-up. “Era natural que tivesse um desconto em relação ao valor de tela do dia.”
Tarcísio disse ainda que o preço das ações subiu na B3 depois da divulgação do nome do investidor de referência como era esperado, em razão dos vultosos investimentos previstos no compromisso de universalizar o acesso a água e saneamento em São Paulo até 2029. Se não houvesse essa figura do investidor de referência, a ação estaria a um valor menor do que está hoje, argumentou o governador.
Transição de comando
Concluída a oferta pública, o próximo passo será a transição do comando da empresa para o setor privado. Isso só ocorrerá após aprovação da entrada da Equatorial pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), em processo que deve terminar ainda neste ano.
“Queremos garantir uma transição suave, o Estado continua na empresa, como principal acionista”, disse Tarcísio. O processo de transição vem sendo discutido dentro da Sabesp desde o ano passado, quando foi montado um grupo para avaliar o assunto, que estabeleceu um plano de 100 dias.
Depois da aprovação do Cade, haverá a assembleia dos acionistas para eleger o novo conselho, no qual a Equatorial terá três assentos, incluindo o novo presidente do colegiado. A empresa também indicará o presidente executivo da Sabesp. “(Ainda) Este ano”, disse Resende.
Redução de tarifas
O CEO da Equatorial Energia, Augusto Miranda, afirmou que ainda é cedo para falar das indicações da companhia para a presidência e conselho. “Indicações ainda estão prematuras”, disse.
Para bancar os investimentos na Sabesp, Miranda disse que a Equatorial tem “ativos maduros” que podem ser vendidos, além de poder acessar os mercados locais e externos. “Não é uma ruptura, é uma continuidade”, disse.
Perguntada sobre as cláusulas do edital da oferta que teriam sido o motivo para afastar outros investidores do processo, como a Aegea, Resende argumentou que o governo paulista se baseou em princípios de governança e avaliou outros modelos no mercado para definir o da Sabesp. Uma das cláusulas que teria afastado outros interessados, foi a da “posion pill”, mecanismo que protege minoritários em trocas de controle. Segundo Resende, essa é uma regra comum, presente em várias empresas. “Tem investidores com características especificas, que trabalham mais com lógica do controle e não se enquadrariam, mas o governo sempre manteve uma linha reta, clara do que queria.”
Finalizada a venda à iniciativa privada, a Sabesp anunciou ontem a redução de suas tarifas. Haverá corte de 1% na tarifa residencial, de 10% na tarifa social e vulnerável, e de 0,5% para outras tarifas.