O chefe do governo líbio apoiado pelas Nações Unidas, Fayez al Sarraj, permanecia nesta quinta-feira protegido por tropas leais e tentando estabelecer sua autoridade em Trípoli, controlada por um Executivo rival, que o intimou a deixar a capital ou render-se.

A chegada de Al Sarraj na quarta-feira a Trípoli por via marítima, onde as autoridades rivais o receberam com advertências e ameaças, tem como objetivo alcançar uma autoridade unificada em todo o país.

Essa autoridade, no entanto, logo foi desafiada pelo governo da milícia Fajr Libya, que domina o Parlamento instalado em Trípoli.

Al-Sarraj passou a noite na base naval de Trípoli e, durante a madrugada, houve tiroteios e as transmissões de TV foram interrompidas.

Antes disso, em uma mensagem transmitida pela televisão, Khalifa el Ghwell, chefe do governo não reconhecido internacionalmente, denunciou como “ilegal” o governo encabeçado por Sarraj e afirmou que ele deve deixar Trípoli ou se render.

“Os que entraram ilegal e clandestinamente devem se render ou voltar por onde vieram”, senão terão que “assumir as consequências legais”, acrescentou.

O vice-presidente do Conselho Geral Nacional (CGN), não reconhecido pela comunidade internacional, Awad Abdelsadeq, reiterou estas ameaças.

Os membros do Conselho Presidencial “entraram ilegalmente em território líbio, ajudados por soldados e alguns traidores para mergulhar o pais em um sombrio túnel”, disse este parlamentar à emissora Al Nabaa.

Em função deste impasse, a União Europeia (UE) adotou nesta quinta sanções contra três personalidades líbias, acusando-os de obstruir o processo de paz na Líbia e a formação de um governo de união.

As sanções incluem o congelamento de bens e a proibição do visto para viajar à UE.

Ao que parece, os afetados têm bens em Malta, disse uma fonte europeia ao explicar as medidas contra Aguila Saleh, presidente do Parlamento de Tobruk, Nuri Abu Sahmein, presidente do Parlamento de Trípoli, e Khalifa al-Ghweil, chefe do Governo de Trípoli.

Sarraj foi recebido por altos membros da Marinha e autoridades locais, entre eles Aref el-Khoja, ministro do Interior do governo de Fajr Libya, uma clara demonstração da divisão reinante no interior das autoridades de Trípoli.

Em um curto discurso, Sarraj se comprometeu a fazer da “reconciliação e da solução das crises securitária e econômica” suas prioridades.

A parte externa da base é guardada por veículos armados com baterias antiaéreas com a insígnia do ministério do Interior e por homens armados à paisana que garantiam a proteção de Sarraj e de seis – de um total de nove – membros do CP.

Ignora-se por enquanto onde o governo de Sarraj será sediado. Segundo informações não confirmadas, a princípio, poderia operar na base naval.

Pouco após de sua chegada a Trípoli, o emissário da ONU na Líbia, Martin Kobler, saudou uma “etapa importante na transição democrática na Líbia”. Ele defendeu, em sua conta no Twitter, uma transferência de poder “pacífica”.

“A chegada do presidente do Conselho à capital representa uma oportunidade única para os líbios de todos os bandos para se unir e se reconciliar”, disse em um comunicado a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini.

A UE tem pronto um pacote de apoio “imediato e substancial” que alcança os cem milhões de euros, a utilizar em diferentes áreas e que será entregue em função das “prioridades” que enumerem as autoridades líbias, acrescentou.

O governo de união foi alcançado após um acordo político firmado no fim de 2015 no Marrocos, sob o patrocínio da ONU, por deputados dos dois parlamentos rivais e isto apesar da oposição dos líderes destas instruções.