A recepção que o governo brasileiro oferecerá aos 45 líderes de  países que virão ao Rio para a abertura da Olimpíada, daqui a 10 dias,  será mesmo no Palácio do Itamaraty, no centro, a despeito de sua  vulnerabilidade – o prédio fica a 600 metros do Morro da Providência,  dominado por traficantes de drogas, e é próximo a bocas de fumo e a  pontos de consumo de crack – e do posicionamento contrário do ministro  da Defesa, Raul Jungmann. A decisão foi do ministro das Relações  Exteriores, José Serra, que visitou o palácio no último sábado.

A  festa, um coquetel em pé para 1.500 pessoas, para o qual são esperados  também 55 ministros de esportes, todos com direito a um acompanhante,  terá curta duração: das 17 horas às 18 horas. Deverá custar em torno de  R$ 500 mil, segundo informou Serra.

Finda a recepção, o  grupo seguirá de ônibus para o estádio do Maracanã, para assistir à  cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos. A previsão é que a festa  comece às 20 horas e termine às 23h30. Estão confirmadas as presenças  dos presidentes da França, François Hollande, de Portugal, Marcelo  Rebelo de Sousa, e da Argentina, Mauricio Macri, entre outros.

Tombado,  o prédio do Itamaraty fica na avenida Marechal Floriano, paralela à  avenida Presidente Vargas, uma das principais vias do centro e ligação  com a zona norte. A construção foi erguida por um rico comerciante, o  conde de Itamaraty, em 1854. Em 1889, foi comprada pelo governo  republicano para ser sua sede.

O palacete neoclássico de  cor rosa clara tornou-se a casa do MRE em 1899 e ficou tão ligado a essa  função que Itamaraty, que significa “pedra rosa” na língua indígena  tupi, virou o segundo nome do ministério. Só em 1970 a pasta se mudou  para Brasília. Hoje, o escritório no Rio abriga o Museu Histórico e  Diplomático, arquivos e guarda de livros.

Os fundos do  terreno, onde fica o prédio da Biblioteca do Itamaraty, aberta em 1930,  dão para a Gamboa, região histórica e degradada, onde as lojas de  comércio popular são ladeadas por pontos de venda de entorpecentes e  locais usados por usuários de crack, que consomem a droga à luz do dia.  Até na entrada principal há problemas. No início da tarde desta  segunda-feira, junto à fachada, havia mendigos e camelôs.

A  fachada envelhecida do palácio causa má impressão, mas por dentro os  ambientes são ricamente decorados. Conforme revelou Serra, a festa será  na sala de leitura da biblioteca e no imponente salão nobre. Ao ar  livre, o jardim, delimitado por palmeiras imperiais, poderá ser usado  pelo presidente em exercício, Michel Temer, para os cumprimentos aos  líderes. Ele estará acompanhado da mulher, Marcela. A utilização do  jardim vai depender do tempo. O espaço aéreo deverá ser fechado para  evitar qualquer tipo de ameaça.

No último sábado, instado  pela imprensa a falar sobre o esquema de segurança dos chefes de Estado e  de governo, Serra admitiu que “a segurança aperta” em função dos  recentes atentados terroristas pelo mundo, mas não entrou em detalhes.

A  Providência é uma favela habitada por traficantes de drogas e que, a  despeito da presença de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) há  seis anos, ainda vive rotina de tiroteios, dos quais participam bandidos  vinculados à facção criminosa Comando Vermelho (CV). O morro é  considerado a primeira favela do Rio. Passou a ser ocupado depois da  Guerra de Canudos (1896-1897), por ex-combatentes e ex-escravos.

Serão  realizadas no Palácio do Itamaraty quatro recepções – a de abertura, a  de encerramento da Olimpíada e duas para a Paralimpíada. A segurança  será feita pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da  República, responsável pela área de inteligência do governo, acionado  pela presença do presidente em exercício; pela Polícia Federal, à qual  cabe a guarda dos líderes estrangeiros; e pelo Comando Militar do Leste  (CML), representação do Exército no Estado, que ocupa prédio vizinho ao  Itamaraty.

O Palácio Duque de Caxias, prédio do Exército,  inclusive, foi cogitado pelo ministro da Defesa para a realização das  festas. Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo na semana passada,  ele disse: “Acho que existem outros locais que contribuem melhor para a  segurança dos mandatários. Mas se houver determinação de realizar o  encontro ali, vamos garantir todas as condições de segurança para que os  chefes de Estado cheguem ao palácio, sejam recebidos e transitem sem  qualquer problema”.

O Itamaraty fica a 4,9 quilômetros do  Maracanã. Os ônibus com os líderes e ministros seguirão pela Presidente  Vargas, em trajeto que deverá durar pouco menos de 15 minutos. Ao fim da  cerimônia no estádio, o grupo deverá retornar ao Itamaraty, para de lá  partir para os hotéis. O Exército já fez testes de segurança simulando  estes deslocamentos, considerados satisfatórios.