A maior parte das rodovias brasileiras apresentam algum tipo de problema segundo a última pesquisa de rodovias realizada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT). O levantamento avaliou 111.853 quilômetros de vias pavimentadas, o que corresponde a 67.835 quilômetros da malha federal e 44.018 quilômetros de trechos estaduais. Foram analisadas tanto estradas públicas como aquelas sob concessão à iniciativa privada.

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A quantidade de rodovias ruins corresponde a 20,8%, péssimas a 5,8%, e regulares a 40,4%, um total de 67%. O estudo define as três classificações como inadequadas, já que indicam a presença de “algum tipo de problema”. Foram avaliados três aspectos: pavimento, sinalização e a geometria da via.

São no total 75.039 quilômetros problemáticos, contra 36.814 classificados como ótimo (7,5%) ou bom (25,5%). A parte bem avaliada corresponde a 33% do total.

A região com maior parte das estradas mal avaliadas no país é o Norte, com 75,2% classificadas como péssimas, ruins ou regulares. Em seguida aparecem o Sul (68,4%), Nordeste (65,7%), Centro-Oeste (61,4%) e, por fim, o Sudeste (60,7%). A pesquisa destaca que os dados do Sul não foi consideravelmente impactado pelas enchentes, já que “a maior parte dos problemas foram restaurados em operações emergenciais realizadas pelo governo”.

Segundo a CNT, o transporte rodoviário é utilizado por 95% dos passageiros e 65% das cargas no país e que um estudo da Universidade de São Paulo (USP) a partir dos dados mostrou como pavimento inadequado da malha viária — classificado como regular, ruim ou péssimo — aumenta em 5,0% o consumo de diesel dos veículos. Assim, estima-se que 1,184 bilhão de litros de diesel foram utilizados de modo desnecessário por problemas nas rodovias.

Mas os dados da CNT divergem de outro levantamento divulgado pelo Governo Federal. Segundo o Ministério dos Transportes, o Brasil atingiu a melhor marca histórica da qualidade da estrutura viária federal, com 75% em classificação boa e 25% em classificações regular, ruim ou péssimo.

O levantamento do governo federal é baseado no Índice de Condição da Manutenção (ICM), ferramenta utilizada pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) desde 2016. Pela metodologia, 75% dos 60 mil quilômetros de estradas avaliadas – sob gestão pública ou concedidas – foram classificadas como boas, quase dez pontos acima dos 67% verificados no ano passado e 23 pontos além dos 52% de 2022.

Conforme os dados do DNIT, o Distrito Federal e 24 estados registraram melhoria de suas estradas. “Vale destacar que Acre, Amazonas, Amapá, Sergipe, Maranhão e Santa Catarina tiveram uma evolução expressiva, uma vez que esses Estados estavam com índice bom inferior a 40% em dezembro de 2022 e o levantamento atual revela que estão com 64%, 57,1%, 98,4%, 71,3%, 64,1% e 71,5%, respectivamente”, diz o Ministério dos Transportes.

O levantamento conduzido pelo DNIT envolve a filmagem in loco dos segmentos rodoviários com câmeras de alta precisão. Já a análise dos dados tem suporte do software DNIT-ICM que, por meio de Inteligência Artificial (IA), apresenta resultados matemáticos, excluindo interferências pessoais. O Dnit-ICM foi desenvolvido pela equipe do Labtrans da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

As informações da Pesquisa CNT foram obtidas a partir de levantamento de campo realizado por 24 equipes ao longo de 30 dias, entre junho e julho deste ano. A coleta foi realizada de forma 100% digital, com o uso de novas tecnologias e de inteligência artificial.

No quadro do CNT, os índices indicam um patamar similar ao da pesquisa do ano passado, quando regular, ruim e péssimo somaram 62,9%.

Privadas x públicas

Os dados também comparam a avaliação de rodovias privatizadas e públicas no país.

As rodovias públicas são 74,8% da extensão avaliada, e possuem apenas 22,7% classificadas como ótimo (2,7%) ou bom (20,0%), contra um total de 77,3% inadequadas pela classificação de regular (43,7%), ruim (25,9%) ou péssimo (7,7%) em sua extensão.

Já entre as rodovias concedidas à iniciativa privada, que são 25,2% do total analisado, 63,1% foram aprovadas e colocadas como ótimas (21,4%) ou boas (41,7%). As inadequadas somam 36,9% entre regulares (30,8%); ruins (5,7%) ou péssimas (0,4%).

Investimentos em rodovias públicas volta a crescer

A pesquisa destaca que os investimentos públicos para melhorias das rodovias apresentaram queda de 71,3% entre 2011 e 2021, o equivalente a R$ 16,46 bilhões, após um crescimento expressivo entre 2003 e 2011, motivados especialmente pelas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

De 2022 para 2023, o volume investido voltou a crescer, e passou de R$ 6,97 bilhões para R$ 13,22 bilhões, praticamente o dobro. Os investimentos públicos autorizados para rodovias em 2024 alcançaram R$ 13,98 bilhões, valor próximo ao de 2023 (R$ 14,01 bilhões).

Entre 2016 a 2023, as rodovias sob concessão à iniciativa privada receberam, em média, 2,5 vezes mais investimentos por quilômetro do que as rodovias administradas pelo governo federal. Em 2022, essa
diferença atingiu um pico: os investimentos nas rodovias sob concessão foram 4,2 vezes mais altos que os investimentos públicos. Em 2023, a discrepância cai para 2,5 vezes.