O governo dos Estados Unidos anunciou em comunicado nesta sexta-feira, 10, o fechamento do Silicon Valley Bank (SVB), o “banco das startups”, que registrou prejuízo bilionário e causou pânico no setor financeiro norte-americano nesta semana. Neste momento, as agências da instituição estão fechadas e devem reabrir somente na próxima segunda-feira, 13.

As operações do banco foram assumidas pelo Federal Deposit Insurance Corp. (FDIC), instituição que visa a garantir os depósitos bancários dos EUA.

Com isso, o SVB passou a ser controlado pelo Deposit Insurance National Bank of Santa Clara, que é quem vai receber o dinheiro e assegurar as operações de transferências de recursos.

“O Silicon Valley Bank é a primeira instituição segurada pelo FDIC a falir este ano. A última instituição segurada pelo FDIC a fechar foi o Almena State Bank, de Almena, Kansas, em 23 de outubro de 2020,” diz o comunicado do FDIC.

Segundo o FDIC, todas as transferências devem ser realizadas até segunda-feira de manhã, no mais tardar.

Pela legislação americana, as autoridades dos EUA devem garantir o volume de até US$ 250 mil de todo cliente por instituição financeira.

Até 31 de dezembro de 2022, o Silicon Valley Bank possuía US$ 209 bilhões em ativos e aproximadamente US$ 175,4 bilhões em depósitos totais, segundo a nota do FDIC. O banco tinha 17 agências na Califórnia e em Massachusetts.

Risco para o sistema financeiro?

A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, disse que monitora a crise do Silicon Valley Bank, bem como os desdobramentos em vários outros bancos. “Há desdobramentos recentes que preocupam alguns bancos que estou monitorando com muito cuidado e quando os bancos sofrem perdas financeiras, é e deve ser motivo de preocupação”, disse Yellen em uma audiência no Congresso dos EUA.

Já o ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos Larry Summers vê poucos riscos de que a crise do SVB se dissemine por todo o sistema bancário norte-americano, desde que todos os depósitos sejam totalmente devolvidos aos clientes.

Em entrevista à Bloomberg TV, Summers explicou que o banco com sede na Califórnia foi duramente afetado pelas dificuldades no setor de venture capital e na liquidez de startups norte-americanas. “Isso é menos relevante que o fato de termos visto grandes oscilações nas ações até mesmo dos grandes bancos do país”, disse.

Summers avaliou que houve exagero na reação do mercado, mas reconheceu que bancos com ativos com vencimento de longo prazo são prejudicados pela escalada dos juros.

Ainda assim, o economista não espera uma situação de contágio para outras empresas. “Não vejo como, se for tratado de forma razoável, e tenho todos os motivos para pensar que será, isso será uma fonte de risco sistêmico”, destacou Summers, que atuou nos governos dos ex-presidentes Barack Obama e Bill Clinton.

Efeito da alta dos juros

Os problemas que o SVB atravessa ficaram mais claros na quinta-feira, 9. Investidores liquidaram ações da instituição depois de ela ter informado uma perda de US$ 1,8 bilhão. Os ativos e depósitos do banco quase dobraram em 2021, grandes quantias das quais o SVB despejou em títulos do Tesouro dos EUA e outros títulos de dívida patrocinados pelo governo.

Logo depois disso, porém, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) começou a aumentar juros. Isso afetou as startups de tecnologia e as empresas de capital de risco atendidas pelo Silicon Valley Bank, provocando um declínio mais rápido do que o esperado nos depósitos, um movimento que continuou a ganhar força e acabou levando à quebra do banco.

Na avaliação do banco UBS, a crise do Silicon Valley Bank acende preocupações sobre as perdas no portfólio de títulos dos bancos americanos. A instituição, no entanto, não enxerga sinais de contágio por todo o sistema bancário. “Acreditamos que os ventos contrários ao setor podem ser gerenciados”, avalia.

Nos últimos anos, muitos bancos dos EUA investiram fortemente em títulos de longo prazo do Tesouro americano, cujos valores caíram expressivamente à medida que o Fed subiu juros. A FDIC já havia alertado recentemente que os credores americanos enfrentam US$ 620 bilhões em perdas não realizadas associadas à carteira de títulos.

Segundo o UBS, investidores também estão preocupados quanto à possibilidade de clientes retirarem seus depósitos em favor de papéis de curta duração, que estão dando maior retorno. O banco suíço avalia que o cenário do SVB reforça as perspectivas negativas para o setor financeiro.

A instituição também chama atenção para o risco de que o quadro agrave a cautela nos mercados acionários. No entanto, o UBS lembra que, desde a crise financeira de 2008, os bancos estão sujeitos a exigências mais rígidas de liquidez.

Essas empresas podem até ter grandes perdas se houver uma fuga de depósitos. “Mas essas saídas também podem ser contidas aumentando as taxas de depósito, embora isso reduza os ganhos”, pontua. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)