14/12/2022 - 10:15
A partir de 1 de janeiro de 2023, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assume a República e, com ele, novos nomes e possibilidades para a economia brasileira. Gastos da nova gestão, recursos adicionais da PEC da Transição e regras de controle fiscal vão agitar o mercado financeiro. Os três primeiros meses do novo governo serão desafiadores.
Embora existam expectativas sobre os rumos da gestão para o próximo ano, especialistas acreditam que os cenários, instáveis ou positivos, são focados em investimentos de baixo risco. “O cenário mais provável para 2023 é o cenário de manutenção da taxa de juros próximo ao patamar atual (13,75%). Essa projeção é, inclusive, demonstrada no boletim Focus do Banco Central. A mediana do Focus, publicada nesta segunda-feira (12), projeta uma Selic ao final de 2023 em 11,75%”, explica Tiago Feitos, professor e consultor de Valores Mobiliários da T2 Educação.
Levando em consideração nosso cenário de alta de juros e inflação subindo, o ideal, segundo Leo Dutra, analista chefe da Invius Research, seria evitar investir em empresas voltadas ao consumo, com juros altos. Ainda que em cenário instável, acreditam especialistas, há quem possa arriscar. “Esse é um mercado que nunca teve tanta liquidez, é uma forma de gerar renda usando a volatilidade do mercado a favor do investidor e ainda proteger sua carteira”, defende Dutra.
Veja abaixo 3 possibilidades:
Cenário 1
Bolsa de Valores no ‘zero a zero’
Segundo Gilberto Braga, economista e professor do IBMEC, o mercado ainda se ressente de melhores definições sobre o Ministério da Fazenda, que vai ser liderado por Fernando Haddad, e isso deve determinar um maior ou menor movimento de investidores para 2023.
A mudança na Lei das Estatais, por exemplo, tira a tranquilidade do mercado financeiro de forma geral. “Na Bolsa, por exemplo, estatais vem perdendo valor na medida em que essa visão mais ‘puro sangue’ do PT mostram uma condução contrária ao que o mercado esperava, mais liberal ou de centro”.
Isso faz, por exemplo, com que os investimentos na Bolsa fiquem indefinidos: com os últimos movimentos, ela devolveu o ganho que teve ao longo de 2022. É o momento em que a Bolsa está no ‘zero a zero’ para quem investiu. O retorno, segundo Braga, vai depender de um sucesso rápido da gestão de Lula, mas que não se espera que aconteça dentro dos primeiros 6 meses de mandato.
Onde investir?
Não se espera nas projeções do mercado grandes expansões do PIB, além de os juros permanecerem altos. Assim, o momento de 2023 é favorável para investimentos de renda fixa, e não de renda variável. “A própria caderneta de poupança, que é um ativo combatido por especialistas, vai fechar 2022 acima da inflação e vem em 2023 com expectativa de rendimento baixo, mas acima da inflação”, avalia Braga. O Tesouro Direto e fundos em bons papéis podem ser a escolha de pequenos e médios investidores para um cenário de pouco risco e rentabilidade garantida.
O que evitar?
Para quem procura baixo risco e não quer comprometer reserva de emergência, o mercado de ações e ativos variáveis deve ser evitado. “Ativos de renda variável ficam para quem gosta de grandes emoções e tem recursos sobrando”, finaliza Braga.
Cenário 2
Controle fiscal a partir de 2023
Cenário mais positivo, segundo analistas, foca no que pode ocorrer a respeito da gestão de Lula em relação ao controle fiscal. Diante de uma racionalidade no controle fiscal, o governo pode conseguir sinalizar estabilização da dívida pública num médio prazo com um novo regime fiscal, a ser negociado em 2023.
“O aperto monetário feito até aqui já é suficiente, então o Banco Central não precisa subir mais a taxa Selic, básica da economia, e a mantém em 13,75% até setembro de 2023. Ao longo de 2023, pode cair a 12%, podendo chegar a 7%”, avalia Gabriel Fongaro, economista da Julius Baer Family Office. A taxa de inflação, vale lembrar, não cai tão depressa: pode chegar a 5,6% em 2023, caindo para 3,5% em 2024, sugere o especialista.
Esse regime fiscal, avalia, não deve ser rápido. “Dado o que vai passar na PEC de Transição, permanece a dúvida sobre solvência fiscal por um bom tempo, até que se coloque um regime fiscal com credibilidade no próximo ano”, explica Fongaro. Ao longo dos próximos 6 meses, a probabilidade pode ser melhor avaliada, com a PEC da Transição votada e as próximas medidas da gestão Lula.
Onde investir?
Diante do cenário positivo, Felipe Dexheimer, da área de Investimentos da Julius Baer Family Office, aposta em investimentos de ativos de risco em geral, diante da queda do mercado interno, mas com ações reverberando de forma positiva no mercado fora do Brasil. Assim, ele recomenda ativos de renda variável e renda fixa, como Tesouro Direto e prefixados, para quem quer investir em 2023.
Cenário 3
Controle fiscal e programa social
Segundo Moacir Milhomem, sócio da +MAIS e Agente Autônomo de Investimentos vinculado ao BTG Pactual, o regime fiscal que começou a ser alterado ainda em 2021 com a PEC dos Precatórios e a troca do cálculo do reajuste do Teto dos Gastos, voltou a ser desafiado este ano com a expansão fiscal e alteração do Auxílio Brasil mesmo após a reabertura econômica.
Em contrapartida, a eleição trouxe a necessidade de perpetuar o novo programa social no patamar atual, criando um problema a ser resolvido que se resume em equilibrar o novo orçamento atual com a regra fiscal.
Nesse ambiente, um dos principais desafios para o governo que irá impactar no cenário econômico desdobra-se em três pontos:
- Responsabilidade fiscal
- Aumento de gastos
- Manutenção da carga tributária.
Estes pontos ligam um sinal amarelo para lapidar a discussão em cima do teto de gastos, o que irá contribuir para a incerteza e o prêmio de risco elevado por mais tempo no ano de 2023.
O que investir?
“Diante do cenário de incerteza, é importante ter cautela nos investimentos. Em cenários como este, a nossa bússola aponta em busca da preservação do patrimônio assim como a melhor relação de risco x retorno, afinal, oportunidades irão surgir seja na renda fixa, na renda variável ou em ativos alternativos e ter liquidez pode fazer a diferença”, recomenda Milhomem.
E prossegue: “Quando se trata de recursos que o investidor poderá utilizar no curto prazo, para aproveitar a taxa de juros no patamar atual (13,75%), a subclasse renda fixa pode ser a melhor opção.”
Para os investidores conservadores, aplicações em ativos de renda fixa pós-fixados como CDBs, LCAs, LCIs, Tesouro SELIC e Fundos de Renda fixa DI são interessantes, visto que a discussão de retomada de ciclo de alta na taxa juros continua e neste caso em um cenário altista seria a opção mais segura.