17/04/2025 - 10:27
Departamento de Segurança Interna exige informações detalhadas de atividades sobre estudantes de outros países, sob pena de perda de direito de matricular estrangeiros. Universidade promete resistir à investida.O governo dos Estados Unidos ameaçou retirar da prestigiada Universidade de Harvard o que classificou de “privilégio de matricular estudantes estrangeiros”, caso a instituição não forneça integralmente os requisitos de informação sobre seus alunos de outros países, conforme a exigência feita pelo Departamento de Segurança Interna (DHS) dos EUA.
A chefe do DHS, Kristi Noem, “escreveu uma carta contundente exigindo registos detalhados das atividades ilegais e violentas dos titulares de vistos de estudante estrangeiro de Harvard até 30 de abril de 2025, sob pena de perda imediata da certificação do Programa de Estudantes e Visitantes de Intercâmbio”, anunciou o órgão nesta quarta-feira (16/04).
Noem cancelou duas bolsas subsidiadas pelo seu departamento no valor de 2,7 milhões de dólares (R$ 215,84 milhões) à universidade norte-americana, por considerar que “não é adequado confiar [à instituição] o dinheiro dos contribuintes”. “Harvard, que se ajoelha perante o antissemitismo impulsionada pela sua liderança […] alimenta uma latrina de motins extremistas e ameaça a nossa segurança nacional”, afirmou ainda a secretária.
“Com a ideologia antiamericana e pró-Hamas [grupo terrorista palestino] envenenando seu campus e suas salas de aula, a posição de Harvard como instituição de ensino superior de ponta é uma memória distante. A América exige mais das universidades que recebem o dinheiro dos contribuintes”, acrescentou.
A ação do DHS se seguiu à decisão do presidente EUA, Donald Trump, no início desta semana, de congelar 2,2 bilhões de dólares de financiamentos do governo federal a Harvard, propondo ao mesmo tempo a revogação de sua isenção fiscal.
Em seu comunicado Noem acrescentou que, “com um numerário de 53,2 bilhões de dólares, Harvard pode financiar o seu próprio caos – o DHS não o fará”.
Trump sinaliza mais cortes no financiamento
Trump também intensificou nesta quarta-feira as críticas à universidade. Em postagem em sua rede social Truth Social ele disse que Harvard “ensina o ódio e a imbecilidade” e “não deve continuar a receber financiamento federal”.
Ele chamou Harvard de “piada” e disse que a universidade deveria perder seus contratos de pesquisa com o governo depois de recusar as exigências para que aceitasse supervisão política externa.
“Harvard não pode mais ser considerada um lugar decente de ensino e não deve ser incluída em nenhuma lista das melhores universidades ou faculdades do mundo”, disse Trump em sua postagem. “Harvard é uma piada, ensina ódio e estupidez e não deve mais receber verbas federais.”
O presidente acusa as instituições de ensino superior de permitirem o florescimento do antissemitismo em seus campus. Seu governo exigiu que as universidades implementassem uma série de medidas, incluindo uma auditoria sobre as opiniões dos estudantes e do corpo docente, sob pena de cortar os subsídios.
Harvard promete resistir
O reitor de Harvard, Alan Garber, em carta dirigida aos estudantes e professores da instituição divulgada na última segunda-feira, afirmou que a universidade já adota medidas contra o antissemitismo há mais de um ano e assegurou que a instituição não abandonaria “sua independência, nem os seus direitos garantidos pela Constituição”, nomeadamente, a liberdade de expressão.
“Nenhum governo, independentemente do partido que esteja no poder, deve ditar às universidades privadas o que elas devem ensinar, quem podem recrutar e contratar, ou que temas podem investigar”, acrescentou.
A reação de Harvard foi saudada por centenas de professores e por várias figuras do Partido Democrata, incluindo o ex-presidente Barack Obama (2009-2017), que saudou a medida como um exemplo que deve ser seguido por outras instituições.
A Universidade de Harvard, próxima à cidade de Boston, tem cerca de 30 mil estudantes e está há anos firmemente estabelecida no topo da classificação mundial de Xangai sobre as instituições de ensino superior.
A “capitulação” da Universidade de Columbia
Em contraste, a Universidade de Columbia concordou em empreender reformas de longo alcance, vistas por alguns como uma capitulação ao governo Trump.
Epicentro dos protestos estudantis pró-palestinos que se alastraram pelos Estados Unidos no ano passado, a Columbia foi uma das primeiras universidades afetadas pela atual ofensiva de Washington.
Contudo, a instituição sediada em Nova Iorque disse nesta terça-feira que recusaria “qualquer acordo que [a] fizesse desistir da [sua] independência”.
Na semana passada, uma juíza de imigração decidiu que o estudante da Columbia e ativista palestino Mahmoud Khalil – preso no início de março por autoridades de imigração apesar de estar no país em situação legal – pode ser deportado, porque as crenças dele supostamente ameaçariam a segurança nacional americana.
Khalil, de 30 anos, participou de protestos em solidariedade aos palestinos afetados pela guerra entre Israel e o grupo militante Hamas na Faixa de Gaza.
rc (Lusa, AFP)