Casa Branca quer análise detalhada de vistos concedidos a estrangeiros, inclusive de brasileiros. Governo diz que objetivo é detectar estadias além do prazo, “ameaças à segurança pública” ou “apoiadores do terrorismo”.O governo de Donald Trump quer fazer um pente-fino em todos os 55 milhões de estrangeiros que têm visto válido para os Estados Unidos, e ameaça revogá-los ao menor sinal de que eles tenham cometido algum ato que invalide sua autorização para entrar ou permanecer no país.

Na mira das autoridades estão estadias para além do prazo legal permitido, atividades criminosas, ameaças à segurança pública e pessoas envolvidas “em qualquer forma de atividade terrorista ou apoio a uma organização terrorista”.

A medida tem potencial de afetar brasileiros que já estejam dentro dos EUA como turistas ou com outros tipos de visto, como de estudo ou trabalho, assim como pessoas que ainda não viajaram, mas já obtiveram visto dos consulados dos EUA no Brasil.

A análise será baseada em “todas as informações disponíveis”, como dados fornecidos pela polícia e pelas autoridades de migração, bem como “qualquer outra informação que venha à luz após a emissão do visto”, incluindo redes sociais, informou nesta quinta-feira (21/08) o Departamento de Estado americano – órgão equivalente ao Ministério do Exterior.

Caso sejam encontrados indícios de irregularidades, os vistos serão revogados e seus portadores – se estiverem nos EUA –, deportados.

A pasta afirma mirar principalmente estudantes, e no início da semana anunciou ter revogado 6 mil vistos estudantis desde o início da gestão Trump, em janeiro deste ano – três vezes mais que o mesmo período do ano anterior.

“Estamos reunindo mais informações do que nunca”, disse um funcionário do Departamento de Estado ao jornal The Washington Post.

Turistas também estão na mira do governo Trump

Segundo o Departamento de Segurança Interna, 12,8 milhões de estrangeiros vivem nos EUA com um green card; outros 3,6 milhões permanecem no país com vistos temporários.

Por isso, segundo a agência de notícias AP, o dado de 55 milhões citado pelo Departamento de Estado sugere que turistas e outras pessoas que atualmente estejam fora dos EUA também poderão ter suas permissões revogadas.

Em 2024, foram emitidos quase 11 milhões de vistos temporários, que não incluem cartões de residência permanente ou green cards. Destes, 77% eram vistos de negócio ou turismo, e cerca de 7% beneficiaram estudantes, pesquisadores visitantes e seus familiares.

O governo Trump tem restringido a concessão de visto e tornado o processo mais criterioso, incluindo a necessidade de entrevistas presenciais.

O passo anunciado nesta quinta-feira parece ser uma expansão significativa de um movimento que começou focado em imigrantes irregulares e estudantes envolvidos em atos que a Casa Branca classifica como pró-palestinos ou anti-Israel – o chefe da diplomacia americana, Marco Rubio, argumenta que o direito constitucional à liberdade de expressão não vale para cidadãos estrangeiros.

Varreduras nas redes sociais

Autoridades dizem que essas revisões incluirão varreduras em todas as contas de redes sociais de portadores de visto, registros policiais e de imigração em seus países de origem. Também serão consideradas quaisquer violações da lei americana cometidas enquanto estiveram nos Estados Unidos.

As revisões incluirão novas ferramentas de coleta de dados sobre solicitantes de visto passados, presentes e futuros. Por isso, quem quiser solicitar um visto terá que desativar as configurações de privacidade em celulares e outros dispositivos eletrônicos ou aplicativos quando comparecer à entrevista de visto.

A grande maioria dos estrangeiros precisa de visto para viajar aos EUA, especialmente aqueles que querem estudar ou trabalhar por períodos prolongados. Há exceções para visitas curtas de turismo ou negócios no caso de cidadãos de 40 países – em sua maioria europeus e asiáticos – que fazem parte do Programa de Isenção de Vistos e podem permanecer no país por até três meses sem precisar solicitar visto.

Mas o resto do mundo – incluindo países altamente populosos como China, Índia, Indonésia, Rússia, Brasil e a maior parte da África – não fazem parte do programa e precisam pedir visto.

ra (AP, AFP, Reuters, ots)