06/08/2025 - 7:49
Maior estrutura viva do mundo, barreira sofreu com aumento da temperatura das águas entre 2024 e 2025. Cientistas alertam que barreira pode estar perto de atingir “ponto de não retorno” e não conseguir mais se recuperarA Grande Barreira de Coral, na costa leste da Austrália, sofreu seu maior declínio coralino desde o início dos registos oficiais, em 1986, indica um relatório publicado nesta quarta-feira (06/08), que abordou um fenômeno recorde de “branqueamento” nesse imenso ecossistema marinho, considerado a maior estrutura viva do mundo.
O Instituto Australiano de Ciências Marinhas documentou a condição de 124 recifes entre agosto de 2024 e maio de 2025 para determinar o branqueamento generalizado de corais nas três secções da Grande Barreira, que tem 2.300 quilômetros de extensão.
O impacto foi maior nas áreas do norte (Cape York a Cooktown), com um declínio de 24,8% em relação aos níveis de 2024, e do sul (Proserpine a Gladstone), com 30,6%, representando estes dois valores “o maior declínio anual na cobertura de coral” em 39 anos. Na região central (Cooktown a Proserpine), o declínio registrado foi de 13,9%.
Branqueamento
O branqueamento é um fenômeno que ocorre quando os corais estão sob estresse térmico, causado pelo aumento da temperatura da água, e que ameaça a sobrevivência dos corais.
Quando as águas registram um aumento de temperatura anormal, os corais acabam involuntariamente expelindo as chamadas zooxantelas, microalgas que vivem em simbiose com os corais. Estes pequenos organismos proporcionam aos corais nutrientes através da fotossíntese e dão aos recifes sua cores vibrantes. Sem as zooxantelas, os corais ficam brancos e podem acabar morrendo devido a escassez de nutrientes.
Segundo o relatório do Instituto Australiano de Ciências Marinhas, o último episódio foi provocado precisamente pelas elevadas temperaturas do oceano em 2024, que desencadearam “níveis de estresse térmico sem precedentes”.
Os corais foram atingidos por ciclones tropicais e pela forte presença de grandes quantidades de estrela-do-mar-coroa-de-espinhos (nome científico: Acanthaster planci), um organismo que se alimenta vorazmente de corais.
“Mas a causa principal foi a mudança climática”, afirmou Mike Emslie, pesquisador do instituto australiano. “Não há dúvidas em relação a isso”, disse ele.
Segundo o relatório do instituto, a Grande Barreira de Coral “experimentou níveis sem precedentes de stress térmico, resultando no branqueamento mais extenso e severo de que há registo até à data”. A agência australiana alertou ainda para o risco de o habitat atingir “um ponto de não retorno”, em que o coral não consegue mais recuperar com rapidez suficiente entre eventos catastróficos.
Riscos
Patrimônio da Humanidade desde 1981, a Grande Barreira de Coral já registrou seis eventos de branqueamento maciço desde 2016, um fenômeno que era extremamente raro na década de 1990. Segundo o instituto australiano, o branqueamento está a tornando-se “mais frequente, à medida que o mundo aquece”.
“O tempo entre estes eventos está ficando mais curto, dando aos corais menos tempo para recuperar (…) A perda de biodiversidade parece inevitável”, afirmam os cientistas, apontando que a recuperação da barreira – que abriga 400 tipos de corais, 1.500 espécies de peixes e 4.000 variedades de moluscos – pode levar anos.
O estudo pede ainda um maior esforço na aplicação de políticas ambientais, como a redução das emissões de gases de efeito estufa, e para o aumento da investigação sobre a adaptação e a recuperação dos recifes.
jps (AFP, Lusa, ots)