A Grendene pisou numa nova passarela na sexta-feira 29. Parou a Bolsa de Valores de São Paulo, ao levar para a entidade 30 modelos desfilando as sandálias de plástico da marca. Às 10 horas, o grande momento: a apresentadora Xuxa, parceira do grupo numa linha de calçados, abriu o pregão, anunciando a nova fase da companhia. A partir dali, a Grendene estreava na Bovespa, abria o capital e engrossava a lista de companhias que aderiram ao Novo Mercado, entre elas Natura, ALL, Gol e CPFL. São 17,3 milhões de ações ordinárias (com direito a voto) oferecidas aos investidores ao preço de R$ 31. A companhia chega ao pregão com valor de mercado de R$ 3,1 bilhões, o que a coloca de cara na lista das 40 maiores empresas de capital aberto do País. Inicialmente, os controladores da Grendene esperam arrecadar R$ 536,4 milhões com a venda desses 17,3% do capital, mas o valor pode subir para R$ 616 milhões se for incluído um lote adicional de papéis ? a companhia pode oferecer até 19,9%. Do total de ações, 20% foi reservada a pessoas físicas. A expectativa do mercado é que, do restante, os investidores institucionais brasileiros fiquem com 40% do lote e os estrangeiros ? europeus e americanos ? com 60%. O investimento mínimo para a compra de ações é de R$ 1.000 e o máximo de R$ 500 mil.

O interesse internacional nos papéis da empresa se justifica pela forte presença de marcas da Grendene no exterior. Hoje, a empresa exporta para 85 países usando e abusando de rostos conhecidos internacionalmente para vender suas sandálias, chinelos Rider, sapatos Vulcabrás e, no caso da América do Sul, os tênis Reebok ( a empresa é dona da marca no continente). Gisele Bündchen e Guga são apenas dois dos garotos-propagandas que disseminam as grifes pelo mundo. Agora, a Grendene vai adicionar outra beldade guindada a estrela internacional: Daniela Cicarelli, a senhora Ronaldo. Mas o marketing é apenas uma das ferramentas para fisgar o investidor estrangeiro. Pedro Grendene, dono da empresa ao lado de seu irmão Alexandre, e Marcius Dal Bo, diretor de marketing da companhia, passaram 10 dias de novembro rodando pela Europa para apresentar a companhia. Foram a Londres, Paris e Madrid mostrar como anda a empresa que estreou nos pregões. Anda muito bem. Faturamento de US$ 415 milhões em 2003, um aumento de mais de 35% em relação ao ano anterior. Nos últimos seis anos, a empresa apresentou um crescimento médio de 26,5% em sua receitas. Os investimentos industriais somaram US$ 42 milhões (R$ 120 milhões) nos últimos três anos. Atualmente, são sete fábricas capazes de produzir ao ano 160 milhões de pares de calçados. A empresa, que gasta US$ 30 milhões em marketing anualmente, é dona da liderança absoluta no mercado brasileiro de sandálias e possui 18% do mercado calçadista no País.

Pedro e Marcius também informaram que a empresa, a partir de agora, se adequa às regras do Novo Mercado, que seguem os rígidos padrões internacionais de transparência e governança corporativa que, entre outros mandamentos, dá aos minoritários o mesmo tratamento dos controladores numa eventual venda da companhia. A Grendene assume ainda o compromisso de distribuir todo o lucro que exceder às reservas relacionadas aos incentivos fiscais das quais é beneficiária ? os ganhos da companhia são fortemente atrelados aos incentivos fiscais, principalmente em suas fábricas da região Nordeste. A expectativa é de que a empresa distribua 50% do seu lucro líquido neste ano. Os riscos ficam por conta de eventuais reduções de incentivos fiscais e do ambiente macroeconômico no Brasil, principalmente no segmento calçadista, que nos últimos quatro anos permaneceu estagnado. Mas segundo dados da Abicalçados, os primeiros oito meses deste ano foram positivos para a indústria, com aumento de 12% nas vendas do mercado interno em relação ao mesmo período de 2003. Nas exportações, a alta foi de 18%.

?A estratégia da Grendene de abrir o capital foi positiva?, afirma Paulo Gomes, estrategista da empresa de asset management Global Invest. ?O lote de ações ofertadas, que correspondem a 17,3% do capital, também foi bem pensado. Quando é bem menor que isso pode sinalizar que a empresa busca dinheiro fácil e quando é muito maior pode indicar que os controladores estão saindo?, explica. Segundo o estrategista da Global Invest, a demanda pelos papéis da Grendene tem sido 50% maior que a oferta. Corretores do mercado estão vendendo a empresa como uma outra Natura, que recentemente abriu o capital e obteve excelente desempenho na Bolsa. Para a Grendene, de imediato, a operação no mercado acionário indica sucesso. Resta saber como as ações da empresa vão se comportar para os investidores que pensam em longo prazo.

FORÇA DO SUL

22 mil funcionários

7 fábricas

121 milhões de pessoas

US$ 415 milhões em faturamento