A greve desta terça-feira, 3, que afeta o funcionamento de linhas do Metrô e da CPTM em São Paulo tem causado transtornos a passageiros que tentam se deslocar na capital e na região metropolitana. A paralisação tem feito com que haja uma peregrinação entre as linhas que mantêm o funcionamento, aumentando o tempo do trajeto no início desta manhã. Além disso, os ônibus têm circulado mais cheios e os preços de corrida por aplicativo estão mais altos que a média diante da demanda.

Nas linhas abertas, funcionários e passageiros relataram uma ocupação abaixo do comum para o horário da manhã. Vagões das linhas como a 9-Esmeralda e a 4-Amarela, que não foram afetadas pela paralisação por serem concedidas a empresas privadas, circulavam longe da capacidade máxima nesta terça-feira. O ponto facultativo decretado nos serviços públicos pode ter contribuído para o cenário, assim como a dificuldade dos passageiros de todas as regiões para acessar o serviço regularmente, em razão da paralisação nos outros ramais.

A enfermeira Tatiana Souza, de 41 anos, previa uma “verdadeira peregrinação”, como ela mesmo descreveu, para chegar ao trabalho nesta terça-feira por conta da greve. Funcionária de um hospital na região de Santa Cruz, na zona sul, normalmente ela vai até a Estação Corinthians-Itaquera, pega as linhas Vermelha e Azul do Metrô, e chega ao trabalho. O trajeto dura por volta de 45 minutos.

“Hoje, por conta da paralisação, a ideia é ir de CPTM até a Estação Paulista, pegar a linha Amarela até a Estação Pinheiros, pegar a linha Esmeralda até a Estação Santo Amaro e, por fim, entrar na linha Lilás para chegar ao trabalho”, disse. O tempo previsto é pelo menos o dobro do que ela gasta normalmente: 1h30. “Pelo menos uma colega de trabalho vai me acompanhar nessa.”

Joice dos Santos, 21 anos, auxiliar de limpeza, precisou mudar seu trajeto até o trabalho. Ela mora no Capão Redondo e trabalha próximo à estação Trianon-Masp, da Linha 2-Verde, que fica na Avenida Paulista. Normalmente, pega a Linha 5-Lilás até a estação Chácara Klabin, onde faz baldeação para a linha verde e segue direto para a Paulista. Hoje, seguindo orientações da empresa em que trabalha, desceu na estação Santo Amaro, seguiu pela Linha 9-Esmeralda até Pinheiros e fez baldeação para a Linha 4-Amarela para descer na estação Paulista.

De lá, vai terminar de chegar no trabalho a pé. “Se eu tivesse ido por lá (Linha 2-Verde), já tinha chegado no serviço”, diz.

Na Linha 4-Amarela, os trens também estavam circulando com lotação abaixo do comum para o horário e a conexão com a Linha 2-Verde, na Estação Paulista, estava fechada pela manhã. A hipótese de funcionários da Via Mobilidade para justificar isso é que a adoção do ponto facultativo pelo governo do Estado tem colaborado para que muita gente fique em casa.

Maria Adelina, 42 anos, empregada doméstica, decidiu pegar ônibus para chegar ao seu local de trabalho, no Morumbi. Com dificuldade para conseguir pesquisar o trajeto, ela pediu o celular de um colega emprestado para utilizar a internet e descobriu que levaria cerca de uma hora e meia a mais que o normal. “Atrapalhou bastante. De metrô é tudo mais fácil. Além disso, com certeza os ônibus vão estar todos cheios”, disse.

No Jabaquara, os portões amanheceram fechados, com cartazes de greve e um grupo de metroviários explicando para a população os motivos da paralisação. O movimento de passageiros era pequeno, mas algumas pessoas, como Josemir Teixeira, 29 anos, pintor, não sabiam sobre a paralisação e deram de cara com a porta ao chegar na estação a caminho do trabalho.

“Eu moro na divisa com Diadema e trabalho na Raposo Tavares. Pego o metrô todo dia por volta das 6h”, conta Josemir. “A empresa em que eu trabalho não falou nada da greve, eu descobri agora. Avisei eles e estão mandando um encarregado para me buscar, porque não tem como eu ir de ônibus daqui.”

Desempregado há alguns meses, o cozinheiro Édson Marui, de 53 anos, reservou um dia inteiro para ir até o centro de São Paulo procurar oportunidades de trabalho. Ao chegar à Estação Mauá, por volta de 7h, encontrou as portas fechadas. “Não sabia que ia ter greve”, disse.

Assim como dezenas de outros moradores de Mauá, Édson decidiu então esperar no lado de fora de estação, com a expectativa de que a paralisação chegue ao fim ainda nesta manhã. “No fim, a greve prejudica o trabalhador, o pai de família. Se tem alguma reivindicação, é algo que tem que ser resolvido judicialmente”, disse ele, que também se queixou das poucas alternativas de ônibus. “Não me deixam onde quero e hoje estão ainda mais lotados.”

App mais caro

Moradora do Jardim Santo Antônio, na zona leste, a técnica de enfermagem Katia Angelina, de 38 anos, se preparou para pedir um carro de aplicativo por volta de 5h. A ideia era tentar driblar a greve e chegar a tempo no trabalho em uma instituição em Indianópolis, na zona sul. Mesmo pedindo com antecedência, a corrida estava dando R$ 170.

“Não tinha como pagar isso, então vim de ônibus para a Estação Corinthians-Itaquera para tentar carro de aplicativo daqui”, disse ela, que normalmente vai de Metrô para o trabalho. O expediente começava às 8h. Ao chegar na estação, encontrou o local bem mais cheia que o normal. O preço da corrida estava R$ 70. “Está bem mais alto, mas não tenho o que fazer, vou tirar do meu bolso.”

Por volta das 8 horas, o trajeto entre Ermelino Matarazzo até Tatuapé, ambos na zona leste, que fica em torno de R$ 30 em dias normais; hoje estava em torno de R$ 45. Uma viagem de Itaquera para a Avenida Paulista estava, no mesmo horário, em torno de R$ 58. Um deslocamento do centro ao Butantã, que em dias de trânsito bom pode ficar abaixo dos R$ 30, nesta manhã saía por mais de R$ 40.

Em nota, a Uber informa que quando a demanda por viagens, em uma determinada área, é maior do que o número de motoristas parceiros circulando na região naquele momento, o preço se torna dinâmico e o valor da viagem pode se tornar mais caro do que o habitual para aquele mesmo trecho.

“O preço dinâmico é aplicado para incentivar que mais motoristas se conectem ao aplicativo e assim os usuários tenham um carro sempre que precisar. Quando a oferta sobe novamente, os preços voltam ao normal. De qualquer forma, o preço dinâmico é informado ao usuário no momento em que a viagem é solicitada”, disse.

Por sua vez, a 99 afirma que o preço final da corrida utiliza uma equação que considera a distância percorrida e o tempo de deslocamento, que é definido de acordo com a oferta e demanda de motoristas parceiros por região. “Importante ressaltar que o valor final pode ser afetado por variantes como excesso de trânsito, chuva ou aumento de pedidos de carros por aplicativo”, disse a empresa.

Por fim, a 99 acrescenta que reforça seu compromisso com a sociedade. “A plataforma é uma das soluções que colaboram com a mobilidade urbana nas cidades e tem como compromisso garantir transporte acessível e de qualidade a seus usuários e motoristas parceiros.”

Quais linhas do Metrô e da CPTM estão sendo afetadas pela greve desta terça-feira?

Metrô

• Linha 1-Azul: fechada;

• Linha 2-Verde: fechada;

• Linha 3-Vermelha: fechada;

• Linha 15-Prata: fechada.

CPTM

• Linha 7-Rubi: de Caieiras a Luz;

• Linha 10-Turquesa: fechada;

• Linha 11-Coral: de Guaianases a Luz;

• Linha 12-Safira: fechada;

• Linha 13-Jade: fechada.

Categorias protestam contra plano de privatização

As categorias são contra a privatização das três empresas públicas. Os sindicatos alegam que a transferência das operações ao setor privado, por parte da gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), carece de maior discussão com a sociedade e que projetos do tipo podem piorar a qualidade dos serviços.

“Queremos o cancelamento de todos os processos de privatização e terceirização das empresas públicas, e exigimos realização de um plebiscito oficial para consultar a população sobre as privatizações das empresas”, disse Camila Lisboa, presidente do sindicato dos metroviários, na assembleia desta segunda.

Em pronunciamento à imprensa na manhã desta terça, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, definiu a greve como um movimento “político”, “ilegal” e “abusivo”. Para o chefe do Executivo, a paralisação reforça a necessidade de fazer desestatização das companhias, uma das principais bandeiras da atual gestão.

“Justamente são as linhas concedidas que estão operando. Isso só reforça que estamos na direção certa”, disse Tarcísio. “Vamos continuar estudando concessões e não é um movimento ilegal que vai nos afastar desse objetivo.”