28/04/2017 - 17:02
A greve geral desta sexta-feira, 28, contra as reformas trabalhista e da Previdência, alterou a rotina das escolas particulares de São Paulo e dividiu pais sobre o apoio à mobilização. Colégios tradicionais da capital não tiveram aula, outros mudaram o horário escolar, alteraram datas para entrega de trabalhos e atividades previstas para os estudantes.
No colégio Santa Cruz, no Alto de Pinheiros, na zona oeste da capital, os pais organizaram um abaixo-assinado contra a adesão dos professores da unidade à greve geral. Eles combinaram de ir à escola durante esta sexta-feira para assinar um documento em que relatam a insatisfação com a paralisação e deixaram fitas brancas em um pátio interno da unidade.
“Não acho que cabe uma paralisação dos professores, porque é uma manifestação política e não trabalhista. Então, vir assinar esse documento na escola foi também um ato político meu para mostrar minha posição contrária a dos docentes”, disse a administradora de empresas Ligia Bello Nadalini, de 48 anos, mãe de dois alunos do colégio.
O empresário Christiano Freire, de 43 anos, foi com a mulher e os dois filhos na manhã desta sexta-feira assinar o documento. Ele, que é ex-aluno do colégio, era um dos pais responsáveis por levar as fitas brancas que serão deixadas em protesto contra a decisão dos professores – a fita, segundo eles, seria um símbolo para que houvesse mais diálogo nas decisões da escola. “Sou contra a paralisação, contra a greve dos professores por esse motivo, especialmente em um dia útil. E sou a favor da reforma”, disse Freire.
Pai de um menino de 6 anos, ele disse não ter gostado da maneira como a reforma da previdência foi abordada pela professora da criança em sala de aula. “Meu filho chegou em casa dizendo que a professora ia se aposentar aos 73 anos, mas ela não disse que isso era necessário por causa do rombo, da crise no País. Não explicou o contexto para os alunos.”
No colégio São Luís, na região central, onde alguns pais se mobilizaram contra a paralisação dos professores desde o início da semana, não houve manifestações. Mesmo sem aulas, alguns pais deixaram os filhos no colégio e, nas redes sociais e em grupos de WhatsApp, ainda continuavam a criticar a decisão.
No colégio Rio Branco, em Higienópolis, alguns professores do ensino fundamental 2 (do 6º ao 9º ano) e médio aderiram à paralisação e a direção optou por manter a escola aberta – para esses alunos foram organizados grupos de estudo e mentoria sobre as aulas que eles teriam nesta sexta-feira. Para o ensino infantil e fundamental 1 (do 1º ao 5º ano), as aulas ocorreram normalmente.
Esther Carvalho, diretora geral do colégio, disse que 60% dos alunos do ensino infantil e fundamental 1 compareceram às aulas e 20% dos de ensino fundamental 2 e médio. “Nossa decisão de manter as atividades, mesmo para aquelas etapas em que os professores optaram pela greve, foi muito acertada porque assim garantimos o direito dos alunos de estudar e o direito constitucional de greve dos nossos docentes. É claro que não há 100% de aceitação dos pais, mas tem que existir sensibilidade”, disse.
Os alunos do ensino médio do Rio Branco fizeram uma carta, assinada por 55 estudantes, em apoio aos professores que decidiram pela paralisação. Eles afirmam no documento que sempre foram incentivados a fazer uma análise crítica das situações expostas e respeitar os diferentes pontos de vista, por isso consideram importante a reflexão dos movimentos contra as reformas propostas. “Tais projetos vão de desencontro a anos de luta em busca de direitos sociais, os quais garantem melhor qualidade de vida”, diz a carta.
No colégio Mackenzie, na região central, as aulas na parte da manhã ocorreram normalmente e não houve paralisação de professores. Para o período da tarde, a escola colocou um aviso no portão informando que, excepcionalmente, as aulas terminarão as 16h. Segundo funcionários, a medida foi para garantir a segurança de alunos e professores na hora da saída devido ao protesto marcado para o fim do dia.
A não adesão dos professores à greve dividiu os pais do colégio. A administradora de empresas Adriana Gonçalves, de 45 anos, tem dois filhos de 6 e 12 anos na unidade e aprovou a decisão de manter as aulas. “Acho que seria uma manifestação válida, desde que fosse organizada. Também não acho que os professores da rede particular devam aderir, porque têm um regime de contratação diferente dos da rede pública.”
Na sala da filha mais velha, apenas 12 dos 36 alunos foram às aulas e na do menor, só 8 de 30. “Acredito que a maioria não veio por dificuldade de locomoção, mas a escola adiou a entrega de trabalhos para não prejudicá-los”, disse a mãe.
Já o professor César Lopes, de 42 anos, que dá aulas no ensino superior, disse que a paralisação não foi cogitada na escola e nem discutida com os alunos – ele tem uma filha de 12 anos na unidade. “Não falaram sobre esse momento ou sobre a reforma com os alunos. Até entendo, porque qualquer discussão nesse momento pode acender o pavio curto de alguns pais que são contrários, mas acho que não falar é uma omissão ruim para a educação das crianças. Ao não falar sobre a reforma, o que prevalece é o discurso de quem é a favor dela e contra a paralisação”, disse. A filha dele faltou na primeira aula, junto com outros colegas, no que disse ser um ato simbólico de apoio à greve geral. Desde 2003, os professores das escolas particulares não faziam greve. À época, a reivindicação era por aumento salarial.
Aula pública
Professores do colégio Equipe organizaram uma aula pública sobre as reformas Trabalhista e da Previdência no Largo Santa Cecília. Pais e jovens acompanharam as aulas. A artista visual Adalgisa Campos, de 45 anos, foi com o filho de 10 anos, que estuda no colégio, para assistir às aulas.
Nas redes municipal e estadual de ensino também houve adesão dos professores à paralisação. Maria Izabel Noronha, presidente da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino do Estado de São Paulo), disse que 90% dos cerca de 200 mil professores do Estado paralisaram nesta sexta-feira. Já a Secretaria do Estado da Educação diz que, pela manhã, 49 das 5 mil escolas estaduais não funcionaram – a pasta não informou o porcentual de docentes que não foram trabalhar. Já na rede municipal, a Prefeitura de São Paulo informou que, no período da manhã, 50% das 1.502 escolas da rede direta não funcionaram.