10/01/2019 - 12:22
Os extremistas do Hayat Tahrir al-Sham (HTS), ex-braço sírio da Al-Qaeda, assinaram uma trégua com os grupos rebeldes apoiados pela Turquia e, com isso, assumiram o controle total da província de Idlib (noroeste).
O acordo põe fim a vários dias de confrontos letais entre o HTS e os rebeldes, em particular os da Frente Nacional de Libertação (FNL), uma coalizão apoiada pela Turquia.
Sob os termos de um acordo alcançado pela Turquia e pela Rússia em setembro, esperava-se que Ancara restringisse as facções rebeldes de Idlib para evitar uma ameaça de ofensiva do governo com repercussões humanitárias potencialmente desastrosas.
“Esta manhã (quinta-feira), o HTS e a FNL assinaram um acordo que encerra as hostilidades e estabelece o controle do Governo da Salvação sobre o conjunto de Idlib”, anunciou Ebaa, o site de propaganda do HTS.
Este “Governo de Salvação” é uma administração local estabelecida pelo HTS.
Localizada no noroeste da Síria em guerra, a província de Idlib, bem como partes das províncias vizinhas de Aleppo, Hama e Latákia, permanecem fora do controle do governo de Bashar al-Assad e abrigam um grande número de grupos rebeldes e jihadistas.
– Interlocutor indispensável –
Nos últimos dias, os jihadistas lançaram um ataque contra facções rebeldes – que deixou mais de 130 mortos – e assumiram o controle de cerca de 50 aldeias, especialmente na província ocidental de Aleppo, um setor que caiu completamente nas mãos do HTS.
Segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), com o acordo desta quinta-feira, a província de Idlib passará inteiramente para o controle administrativo do HTS.
Outros grupos jihadistas, como Al-Din e o Partido Islâmico do Turquestão (TIP), também estão presentes na região de Idlib, mas são aliados do HTS, afirmou o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman.
O acordo anunciado hoje prevê o cessar imediato das hostilidades, a troca de prisioneiros, o fim de todos os postos de controle na região e sua unificação sob a autoridade do Governo da Salvação.
O analista Sam Heller comentou que os últimos acontecimentos colocam o grupo jihadista HTS diretamente no controle da região de Idlib.
“Agora eles podem se apresentar à Turquia e a outros países como um interlocutor indispensável em qualquer solução não militar de Idlib”, explicou Heller, do International Crisis Group.
O analista destacou que, por enquanto, não está claro se esse cenário tornará mais difícil para a Turquia implementar o acordo alcançado com a Rússia para ter uma “zona desmilitarizada” em torno de Idlib.
Simultaneamente, Ancara ameaçou lançar uma ofensiva fronteiriça contra a milícia curda que controla grande parte do nordeste da Síria.
O recente anúncio feito pelo presidente americano, Donald Trump, sobre a retirada de tropas da Síria deixou seus aliados curdos mais expostos do que nunca.
Eles tiveram de recorrer a Damasco, em detrimento de seus planos de maior autonomia, para garantir sua sobrevivência contra as ameaças turcas.
Dado este cenário, na semana passada, os curdos sírios indicaram que seria “inevitável” chegar a um acordo com Damasco na região autônoma do norte do país, já que suas forças devem permanecer na área.
Marginalizada por décadas, a minoria curda da Síria forjou uma região autônoma “de fato” em cerca de 30% do território do país após a eclosão da guerra, em 2011.