19/11/2013 - 3:07
Principal responsável pela recuperação judicial do Grupo Hermes, o site de varejo online Comprafacil deve ser desmembrado do restante da operação. O objetivo é atrair um sócio que assuma a operação e injete dinheiro para mantê-lo.
O Grupo Hermes apresentou seu pedido recuperação ontem à Justiça do Rio de Janeiro. A empresa acumula dívidas de quase R$ 600 milhões e seu faturamento anual é de cerca de R$ 2 bilhões, segundo comunicado divulgado na manhã desta terça-feira 19.
Centro de distribuição do Comprafacil: atrair um sócio para o site é uma das prioridades da reestruturação
A avaliação de pessoas que acompanharam o Grupo Hermes nos últimos meses e da própria direção da empresa é de que o investimento no varejo online foi o principal erro estratégico da companhia. Com uma logística complicada e sem capacidade de operar com grandes volumes, o Comprafacil viu seu faturamento despencar de R$ 1,7 bilhão, no ano passado, para cerca de R$ 500 milhões anualizados em 2013.
Para comandar a reestruturação, foi contratada a consultoria Alvarez & Marsal. André Bucione, representante da A&M, assumiu a diretoria financeira do Grupo Hermes. Arthur Negri foi contratado como presidente. Eles falaram, por telefone, com a DINHEIRO para explicar os próximos passos do resgate da empresa. Veja os principais trechos.
DINHEIRO ? Quais são as linhas gerais da reestruturação do Grupo Hermes?
BUCIONE ? Há dois grandes blocos de ações. O primeiro vai focar no varejo a distância. Essa operação tem mais de 70 anos e um market share importante no País. Hoje, é a terceira maior do mercado [Nota da Redação: as lideres são Natura e Avon]. As líderes têm o cosmético como base das vendas. Na Hermes, o sortimento de produtos é maior. Temos uma base de mais de 500.000 revendedoras, com uma periodicidade quase mensal de pedidos. Essa capilaridade é um ativo único do grupo.
DINHEIRO ? E qual é o segundo bloco de ações?
BUCIONE ? O segundo bloco de ações é buscarmos uma parceria para desenvolver o Comprafacil. O varejo online exige uma logística mais complexa e uma escala maior de operações. Por isso, o Comprafacil vai ser operado com um parceiro.
DINHEIRO ? Que tipo de parceiro seria? Um sócio? Um operador? Um investidor?
BUCIONE ? O parceiro que buscamos é um player que tenha condições de operar o site e assegurar capital de giro. O Comprafacil, incorporado em um novo player, pode ser vantajoso para todos.
DINHEIRO ? Há informações de que o faturamento do Comprafacil caiu bastante, de cerca de R$ 1,5 bilhão para R$ 500 milhões. Os senhores confirmam esse dado?
BUCIONE ? O faturamento do Comprafacil foi um pouco maior em 2012: cerca de R$ 1,7 bilhão. Houve uma deterioração muito grande nos últimos meses. Se o faturamento desse período for anualizado, se chegará a um valor semelhante ao que citou.
DINHEIRO ? Por que ocorreu uma queda tão forte de faturamento em tão pouco tempo?
BUCIONE ? Basicamente, o Comprafacil requer muito capital de giro e uma escala muito grande de operações.
DINHEIRO ? Com uma queda de faturamento dessas, o site não fica menos atraente para um parceiro? Alguns dizem que ele já não interessa, porque não é capaz de dar a liderança a ninguém.
BUCIONE ? Discordo. É complicado analisar a liderança pelos últimos números de faturamento, que já estão estressados pela crise. O potencial de vendas do site é muito grande. Temos uma ampla carteira de clientes. Além disso, temos métricas que impressionam a todos, como a frequência de compras dos clientes no site. Isto tudo é atraente para potenciais parceiros.
DINHEIRO ? Um dos complicadores da recuperação do Grupo Hermes é que todas as operações estão sob um mesmo CNPJ. Para atrair um parceiro para o Comprafacil, o site será desmembrado?
BUCIONE ? O grupo está sob recuperação judicial. Um elemento desse processo é a Unidade Produtiva Isolada (UPI). A empresa tem 60 dias para estudar um plano de reestruturação. Um dos cenários é pedir ao juiz o desmembramento para atrair um parceiro.
DINHEIRO ? Alguns observadores afirmam que o Grupo Hermes tem outros ativos interessantes, como os centros de distribuição. A empresa pode se desfazer de algum deles?
BUCIONE ? Estamos olhando todas as alternativas. Esta não está descartada.
DINHEIRO ? É viável sustentar a reestruturação nas vendas porta-a-porta? Os senhores vão aumentar a base de revendedoras? Isso não demanda mais gastos com treinamento, por exemplo?
NEGRI ? Temos mais de 500.000 revendedoras e uma receita crescente neste mercado, ano após ano. Não temos uma forte participação em cosméticos e enxergamos aí uma oportunidade de ampliar nossas categorias de produtos. Oferecendo novos produtos, poderíamos aumentar a produtividade das revendedoras, utilizando a mesma rede. Não haveria necessidade de muito treinamento para novas representantes.
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