O presidente Lula deverá manter um militar na chefia do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) e, por enquanto, não acabará com o órgão. De acordo com informações da jornalista Malu Gaspar, do Globo, o presidente comunicou a auxiliares que manterá o GSI sob o comando de um militar, que terá o nome anunciado após a volta de sua visita oficial à Península Ibérica, no final da noite desta quarta-feira (26). Segundo subordinados do presidente da República envolvidos nas discussões que se seguiram à queda do general Gonçalves Dias, ex-ministro do órgão que pediu demissão, a opção de Lula foi por “manter a tradição”.

O GSI tem estado no centro do debate político nacional após a CNN Brasil ter revelado imagens da atuação de membros do Gabinete durante a invasão aos Três Poderes em Brasília por vândalos bolsonaristas no dia 8 de janeiro. Diante das gravações em que aparecia andando em meio a manifestantes e abrindo portas, o então chefe do órgão, Gonçalves Dias, pediu demissão.

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Capelli ataca Heleno

Por meio das redes sociais e da imprensa, o ministro interino do órgão, Ricardo Capelli, tem atacado nos últimos dias os generais Augusto Heleno, que chefiou a pasta durante o governo Jair Bolsonaro, e Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa que concorreu como vice na chapa do ex-presidente à reeleição. Capelli os acusa de participação nos atos de 8 de janeiro e, no caso de Heleno, de ter entregado o Gabinete com problemas internos e “contaminado”.

“O general Heleno ‘pilotou o carro’ por 4 anos e entregou o ‘veículo’ avariado e contaminado para o general G.Dias, que pilotou por apenas 6 dias. No 7° dia o carro pifou. De quem é a culpa? Não é possível falsificar a história. Conspiração não passa recibo”, declarou o ministro interino ao programa Onze e Meia.

Lula flerta com o perigo

Para Fernando Brancoli, professor do Instituto de Relações Internacionais da UFRJ, o GSI tem um histórico complicado. “Historicamente ele é comandado por um general do Exército e, quando a Dilma tentou rearticular o GSI isso gerou uma comoção e uma crise grande”, diz. “O Lula manter um militar está inserido no contexto de ele buscar apaziguar a relação com as Forças Armadas, apesar da pressão do PT e de partidos aliados para que a resposta em relação aos militares fosse mais dura.”

Em 2015, a presidente Dilma Rousseff (PT) retirou o status de ministério do GSI e o incorporou à Secretaria de Governo, na época comandada por Ricardo Berzoini (PT). Em 2016, o então presidente Michel Temer (MDB) recriou o órgão.

“A preservação do GSI com direção militar é um erro que pode ser fatal”, afirma Manuel Domingos Neto, historiador, professor aposentado da UFF (Universidade Federal Fluminense) e doutor em história pela Universidade Sorbonne. “Constituiria uma concessão perigosa à vontade castrense e alimentará o ativismo político das fileiras. Dada a natureza funcional desse organismo, o presidente ficaria na condição de refém do comando militar.” Quanto à postura de Capelli, ele diz que “seu relatório da intervenção do DF não demonstrou a autonomia esperada em relação às Forças Armadas, que foram poupadas, como se não tivessem responsabilidade pela balbúrdia do dia 8 de janeiro”.

Brancoli destaca outro fato.“Mais do que ver quem liderará o Gabinete, é importante saber que há muitas figuras ali ainda colocadas no governo Bolsonaro. Apesar da cabeça do órgão ter sido trocada, o GSI ainda mantém pessoas muito próximas ao ex-ministro Heleno e mesmo do general Etchegoyen, que era próximo do Temer, mas que é um bolsonarista.”

Domingos Neto acredita que a instabilidade do governo será inevitável se o governo não demonstrar autoridade sobre as corporações. “A história republicana registra um permanente contingenciamento do poder político pelo militar. A decisão de mudar isso está nas mãos de Lula. É hora de o líder popular assumir de fato o comando supremo das Forças Armadas o que implica em definir diretrizes para a Defesa Nacional. Militar sem comando, assume o comando”.