O agente da Guarda Civil Metropolitana (GCM) que agrediu o morador de rua Samir Ahamad foi afastado temporariamente do cargo e a conduta dele será investigada pela corregedoria geral do órgão.

O episódio ocorreu na quarta-feira (3), próximo ao Metrô Conceição, na zona sul da capital paulista, quando Ahamad resistiu à retirada dos seus pertences durante operação da Prefeitura de São Paulo. O objetivo da operação era “limpar calçadas e recolher objetos deixados por moradores de rua”. Os agentes da GCM levaram um carrinho de supermercado de Samir com pertences como colchonete e roupas.

Filmagens feitas pelo estudante de jornalismo Marcos Hermanson mostram o momento em que os guardas abordam e agridem Ahamad. Ao ser empurrado, ele caiu no chão. “Eu te agredi? Eu te agredi?”, questionou o morador de rua se dirigindo aos guardas. Segundo o boletim de ocorrência do caso, Ahamad foi levado ao 35º Distrito Policial (DP), onde manifestou fortes dores no braço e, então foi encaminhado a um hospital.

O padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua, que acompanhou Ahamad após a agressão, informou que ele teve fraturas no punho e precisou imobilizá-lo. Lancellotti disse também que o morador de rua foi encaminhado para um centro de acolhida da prefeitura no bairro Brás.

Em um texto publicado em uma rede social, o estudante que fez as imagens questiona a ação. “Uma sociedade que gera tanta, mas tanta miséria apenas para que encontre depois, como solução, criminalizá-la”, escreveu.

O prefeito de São Paulo, João Doria, condenou, em uma rede social, o ato do guarda civil. “Espero que este fato não mais se repita e tome isso como referência, como exemplo, para que não ocorra mais nenhum fato desta natureza”, disse.

A Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania informou, por meio de nota, que o ato “não condiz com a política e a orientação da prefeitura”.

Decreto

Em janeiro deste ano, ao assumir a prefeitura, Doria revogou decreto da gestão Fernando Haddad que proibia a retirada de cobertores pela guarda municipal. O ato foi questionado pelo Ministério Público, pois o decreto suprimia “a proibição de recolhimento dos itens portáteis de sobrevivência como cobertores, colchonetes, mantas, travesseiros e lençóis”.

Em resposta, a prefeitura informou que a subtração de cobertores estava descartada e que os servidores municipais são instruídos “a dar atendimento humanitário e não-discriminatório a este público”.

No inverno de 2016, quando a capital paulista registrou 0°C de temperatura, cinco moradores de rua morreram em razão do frio ou de patologias agravadas pelas baixas temperaturas, segundo informou a Arquidiocese de São Paulo à época.