08/10/2016 - 14:06
O Brasil acaba de descobrir seu maior dinossauro… guardado no armário de um museu.
Quando habitou o planeta, há 66 milhões de anos, este herbívoro de pescoço longo media 25 metros e podia comer folhagens altas das árvores em grande velocidade.
A monumental criatura foi descoberta pelo prestigiado paleontólogo brasileiro Llewellyn Ivor Price em 1953, quando restavam apenas alguns poucos fósseis de sua gigantesca espinha dorsal.
Imediatamente, os cientistas souberam que tinham em suas mãos algo importante. Mas não possuíam os funcionários e os recursos necessários para decifrar a dimensão da descoberta e os restos do dinossauro permaneceram armazenados durante seis décadas no Museu de Ciências da Terra do Rio de Janeiro. Até esta semana.
Os fósseis do “Austroposeidon magnificus”, apresentado como o maior dinossauro descoberto no Brasil, foram exibidos ao público pela primeira vez na quinta-feira.
Uma vértebra quase completa – grande como um micro-ondas, inteiramente petrificada – e vários fragmentos de outras vértebras são expostos sobre uma tela preta em um salão do museu.
Junto aos fósseis, um desenho em escala real mostra como o “Austroposeidon magnificus” era durante sua vida: cabeça pequena, pescoço longo, corpo e cauda gigantes.
O diretor do Museu, Diógenes de Almeida Campos, admite que seis décadas parece ser una demora muito longa para uma descoberta deste tipo.
“Um amigo me disse ontem, ‘Diógenes, como? Levou 60 anos’?”, relata com um sorriso. “Soa um pouco ridículo dizer isso”, admite.
Mas explica que na década de 1950 Price e seus assistentes eram pioneiros da paleontologia no Brasil, e embora “estivesse claro que algumas vértebras deste tamanho eram de um animal gigante, precisavam ser estudadas”.
Segundo Campos, a falta de dinheiro e de funcionários capacitados adiaram a pesquisa.
“Estávamos esperando que existissem funcionários (…) para um laboratório que surgiu do nada e demorou a se desenvolver”, relata. “Fizemos um primeiro esforço com estudantes há oito anos, mas não funcionou”.
Finalmente, uma aluna de Campos, Kamila Bandeira, converteu o gigante herbívoro em sua tese de doutorado e conseguiu solucionar o quebra-cabeças nos últimos quatro anos.
As descobertas mais espetaculares de dinossauros ocorrem em áreas desertas, como no sudoeste dos Estados Unidos, na Patagônia argentina ou na Mongólia, onde são mais fáceis de detectar. Os ossos fossilizados do maior dinossauro conhecido até a data – de 40 metros, foram desenterrados na Argentina em 2014.
Os restos do “Austroposeidon magnificus” foram encontrados, como costuma ocorrer, por acaso durante a construção de uma estrada perto de São Paulo. Acharam apenas alguns pedaços, e não o esqueleto completo, devido ao final pouco cerimonioso que seu corpo teve.
“Quando estes animais morriam, eram (…) uma fonte enorme de carne. Todos os predadores carnívoros o comeram. Primeiro a cabeça, porque seu cérebro deve ter sido a parte mais saborosa”.
“Também quebraram os ossos mais longos para chegar ao interior. Depois vieram animais menores e acabaram com tudo. O que restou foi para os besouros, as aranhas e as formigas. Quando só restaram os ossos, chegou a vez das bactérias. Finalmente, os ossos afundaram na lagoa”.
Na densa flora brasileira muitas descobertas podem estar à espera de serem reveladas.
“Prestem atenção quando construírem estradas, quando escavarem poços”, aconselhou Campos. “Pode ter um dinossauro em seu jardim e não sabe!”.
Uma vida inteira atrás dos fósseis de gigantes extintos deu a Campos, de 73 anos, uma perspectiva singular sobre os conceitos de criação e destruição. Mas o mundo atual, dominado pela atividade humana, o inquieta.
“A extinção é algo normal para os paleontólogos, assim como o surgimento de uma nova espécie”, afirma. “Mas, comparando com o que está ocorrendo hoje – a extinção de tigres ou baleias – isso não ocorre de forma natural”.
“É preocupante”, opina.
Neste museu, afirma que seu trabalho sempre foi sua grande paixão.
Lembra a época em que estudava sob a supervisão de Price – falecido em 1980 – e “viajava com ele praticamente por todo o Brasil, coletando material”.
Seus olhos se enchem de lágrimas ao afirmar que agora ele, Price e Bandeira formam parte de uma espécie de árvore genealógica da paleontologia.
A caça de dinossauros “é uma atividade que pode ser comparada à arte”, conclui, com a voz emocionada.