Tomou até Brasília de surpresa a disposição e completa falta de cerimônia do ministro Paulo Guedes, da Economia, em se engajar de cabeça na campanha política do presidente à reeleição. O “Posto Ipiranga” diz que a sua pasta vai “partir para o ataque” com uma série de propostas que possam auxiliar o inquilino do Planalto a conseguir um segundo mandato. Nunca antes na história do País, certamente pela primeira vez ante o pendor de ciência exata que deveria orientar a pasta, se vê o titular da economia admitindo a politização de ações com um objetivo ostensivamente eleitoreiro. É quase a cooptação de uma área que deveria ser, por definição, administrada de maneira absolutamente técnica. Na prática, o “czar”, na alcunha bolsonarista que recebeu, manda às favas a agenda liberal e passa a trabalhar agora pelo objetivo fim de medidas que auxiliem na confirmação da reeleição. Leia-se: projetos populistas. Do Auxílio Emergencial ao Bolsa Família, tudo que possa carrear votos deverá ser priorizado. É da regra assistencialista e, infelizmente, vão ficar nisso as movimentações daqui para frente. Retomada? Certamente um detalhe. O que conta para valer no novo escopo de atuação, na visão de Guedes, são as muletas marqueteiras, como o Bônus de Incentivo à Qualificação (BIQ) e o Bônus de Inclusão Produtiva (BIP), ferramentas arranjadas a toque de caixa para agradar setores que podem devotar apoio ao capitão. E com um detalhe, como bem frisou o ministro: com o beneplácito do Congresso. Guedes deu o caminho das pedras: “Foi só eleger os presidentes da Câmara e do Senado que vieram a aprovação de várias medidas”. Decerto, está tudo dominado. Para variar, as reiteradas propostas da pasta vêm carregadas de ilusões e vagas ideias de como viabilizá-las. Os programas de inclusão e qualificação são, por enquanto, meras siglas que ainda nem saíram do papel e sem recursos para viabilizá-los. Serão como mágica do tipo coelhos saindo da cartola? O BIP, pelo previsto, surgiria como um auxílio de R$ 300 mensais com foco nos jovens que nem estudam, nem trabalham, para
incentivá-los a procurar treinamento em empresas. Uma espécie de prêmio por improdutividade. Já no que se refere ao BIQ, a empresa que receber o tal jovem entraria com igual valor, embora não esteja definido que incentivo ela terá para tanto. Um festival de anúncios ao léu. A chamada nova política social, prevê Guedes, tem como base de sustento um fundo a ser criado com recursos de privatizações e de dividendos de estatais. Mas se nem as privatizações andaram, como contar com o ovo dentro da galinha? A misturada de soluções mirabolantes não convenceu nem os economistas mais crentes no governo. Enquanto isso, como alento e boa nova para agradar os desafetos da pasta, o Ministério da Economia confirmou dias atrás um “espaço adicional” de R$4,8 bilhões no teto de gastos. Como assim? Ao que tudo indica, a “folga” foi constatada após a revisão dos chamados “gastos obrigatórios” – como o segurodesemprego e os subsídios. Na prática, esses recursos poderão ser usados para desafogar ministérios que estão hoje com gastos comprimidos. A reavaliação abre caminho também para a redução do bloqueio no Orçamento, hoje da ordem de R$ 9,3 bilhões, para um montante menor, de R$ 4,521 bilhões.

Carlos José Marques, diretor editorial