As tensões comerciais entre as duas principais economias do mundo se intensificarão na segunda-feira (10), quando Pequim começar a implementar tarifas sobre uma série de produtos agrícolas dos Estados Unidos em retaliação ao último aumento de taxas sobre as importações chinesas.

Desde seu retorno à Casa Branca em janeiro, o presidente americano, Donald Trump, anunciou uma série de tarifas sobre os principais parceiros comerciais, incluindo China, Canadá e México, que, segundo ele, são ineficazes na resposta a imigração irregular e aos fluxos de fentanil.

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A China também é o país com o maior superávit comercial com os EUA em mercadorias.

Após impor tarifas adicionais de 10% sobre todos os produtos chineses, Trump decidiu, em 3 de março, aumentá-las para 20%.

A China respondeu imediatamente anunciando tarifas semelhantes sobre os produtos agrícolas americanos, que entrarão em vigor na segunda-feira.

O frango, o trigo, o milho e o algodão que entrarem na China serão mais taxados (15%) do que itens como sorgo, soja, carne de porco, carne bovina, frutos do mar, frutas, vegetais e laticínios (10%).

Os especialistas acreditam que esta reação chinesa tem como objetivo atingir a base eleitoral do bilionário republicano, mantendo-se moderada o suficiente para possibilitar um acordo comercial.

As tensões comerciais entre China e Estados Unidos se somam às dificuldades enfrentadas pelas autoridades chinesas em sua tentativa de estabilizar a economia do país, marcada por um baixo consumo, por uma crise persistente no setor imobiliário e pelo alto índice de desemprego entre os jovens.

– Cenário “cada vez mais complexo” –

Os impostos decididos por Washington podem promover um duro golpe às exportações chinesas, que contribuíram em grande medida para o crescimento do gigante asiático no ano passado.

Alguns especialistas estimam que as consequências das medidas americanas podem não ser imediatamente visíveis.

Mas as exportações chinesas já desaceleraram em janeiro e fevereiro mais acentuadamente do que o esperado, para 2,3% ao ano, em comparação com 10,7% em dezembro.

“Como as exportações enfrentam um risco de queda devido à guerra comercial que se aproxima, a política fiscal deve se tornar mais proativa”, opinou Zhiwei Zhang, presidente e economista-chefe da Pinpoint Asset Management.

Enquanto a disputa comercial entre Pequim e Washington continua, a China organiza as “Duas Sessões”, seu principal evento político do ano, que reúne milhares de delegados de todo o país na capital.

Durante um discurso para eles na quarta-feira, o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, apresentou a estratégia econômica do governo para 2025, citando um “ambiente externo cada vez mais complexo”.

O premiê também revelou uma meta de crescimento de “aproximadamente 5%”, a mesma de 2024.

Muitos economistas, no entanto, consideram que este horizonte continua ambicioso, tendo em vista as dificuldades econômicas enfrentadas pela China.

“Se os gastos fiscais começarem a aumentar em breve, isso poderá mais do que compensar o impacto de curto prazo das tarifas no crescimento”, estimou Julian Evans-Pritchard, da Capital Economics.

Entretanto, “ainda não estamos convencidos de que o apoio fiscal será suficiente para conseguir mais do que um impulso de curta duração”, acrescentou.