01/04/2022 - 12:03
Se na Argentina a guerra das Malvinas ainda é uma ferida aberta, do lado britânico ela se apresenta como uma libertação que, 40 anos depois, permitiu que este arquipélago do Atlântico Sul oferecesse prosperidade.
Em 2 de abril de 1982, Tom Herring tinha 31 anos e era sargento do 3º Batalhão do Regimento Britânico de Paraquedistas.
Ele estava de licença antes da Semana Santa, no momento em que as tropas argentinas invadiram o arquipélago e ele foi chamado de volta ao quartel. “Quatro dias depois estávamos embarcando em Southampton”, lembra ele.
“O nosso trabalho, em caso de emergência, é proteger os nossos cidadãos”, frisou à margem da abertura de uma exposição por ocasião do 40º aniversário do conflito no Museu do Exército em Londres.
“Era um território de soberania britânica, eles haviam sido invadidos em casa”, acrescenta, ressaltando que “não houve maldade para com os argentinos”.
No Reino Unido, o aniversário do início do conflito não é celebrado nem falado.
Mas se serviu para alguma coisa, foi para colocar o arquipélago no mapa mental de alguns britânicos que pouco sabiam das Malvinas.
Na época, muitos no Reino Unido pensavam que as ilhas, localizadas a 400 km da costa argentina e a 12.700 km de Londres, ficavam na Escócia, lembra Herring.
– “Relações amistosas” –
Na época, a primeira-ministra conservadora Margaret Thatcher, apelidada de Dama de Ferro, estava promovendo algumas reformas econômicas liberais muito impopulares. O desemprego estava nas alturas e sua permanência no poder ameaçada.
Mas seu destacamento de quase 30.000 soldados – e sua rápida vitória – trouxe o remoto arquipélago de 770 ilhas em destaque público no país.
Durante uma viagem às Malvinas em 2012, Herring, que dirige uma associação de veteranos, estabeleceu um relacionamento com um oficial argentino com quem mantém contato.
“Ele ainda acha que as ilhas fazem parte do seu país, nós achamos que são britânicas”, diz, lembrando que, em vez de brigar por essa questão, compartilha o “espírito militar”.
“Há relações amistosas”, continua o agora septuagenário, “são os governos que estão em conflito”.
“A relação com a Argentina é atroz”, concorda Leona Roberts, membro da Assembleia Legislativa do arquipélago que viajou a Londres para comemorar o aniversário.
“Eles se recusam a reconhecer que existem habitantes nas Malvinas”, acrescenta o morador da sexta geração, apontando para a prosperidade que o arquipélago desfruta atualmente.
Sob controle britânico desde 1833, as Malvinas, que hoje têm uma população de 3.200 habitantes, continuam sendo reivindicadas pela Argentina, após a guerra-relâmpago que confrontou o país com o Reino Unido por 74 dias, deixando cerca de 900 mortos: 649 soldados argentinos, 255 britânicos e três civis.
O 14 de junho, dia da rendição das forças argentinas, é comemorado como o dia da libertação no arquipélago, onde é feriado.
Mas com uma idade média de 38 anos, muitos de seus habitantes nem eram nascidos quando o conflito começou.
“Nós, ilhéus pós-conflito, somos todos gratos aos veteranos”, diz Tamsin McLeod, um nativo das Malvinas que agora estuda em uma universidade na Grã-Bretanha.
“Eu nunca me canso de dizer isso”, disse.
As autoridades autônomas do arquipélago insistem em destacar o quanto as ilhas se transformaram desde a guerra.
Eles enfatizam sua autossuficiência financeira, pois dependem apenas do Reino Unido para sua defesa, e que agora são um centro de pesquisa científica e biodiversidade.
“Construímos o país do zero. O conflito nos permitiu avançar”, enfatiza Roberts.
Em 2013, os habitantes das Malvinas votaram de maneira quase unânime a favor da soberania britânica em um referendo.