17/06/2025 - 7:02
Em menos de um mês, três aplicativos de delivery anunciaram investimentos bilionários para disputar o mercado de entrega de comida brasileiro: 99Food, Meituan e Rappi.
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O desafio das três, no entanto, é enfrentar a liderança da brasileira iFood, que hoje concentra 80% dos pedidos feitos no país segundo dados de uma pesquisa elaborada pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Quem conseguir conquistar novos clientes e entregadores, tem muito a ganhar. Segundo a pesquisa, 76% dos brasileiros fazem pedidos de comida por aplicativos. Estimativas mencionadas pelo CEO do Rappi, Felipe Criniti, em entrevista à IstoÉ Dinheiro indicam que há ainda 350 milhões de pedidos por mês feitos por telefone ou WhatsApp.
Por que a concorrência aumentou?
Entre 2020 e 2021, o iFood passou a fechar uma série de contratos de exclusividade com restaurantes. Os estabelecimentos comprometiam-se a vender apenas em sua plataforma em troca de benefícios. A empresa, no entanto, sofreu um revés em 2021, quando o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) proibiu a empresa de fechar novos contratos e iniciou uma investigação sobre práticas anticompetitivas. Em 2023, por fim, houve uma acordo entre o órgão e a empresa: novas exclusividades poderiam abranger apenas redes de menos de 30 unidades e com prazo de até dois anos.
As exclusividades afetavam em cheio os negócios das concorrentes. A 99Food, por exemplo, chegou ao Brasil em 2019 e encerrou sua operação em 2023. Desde então, a marca controlada pelo grupo chinês Didi atuava no Brasil apenas com o app 99Moto, de entregas gerais.
Já o Rappi divulga que chegou a ter 25% do marketshare do país até o início das exclusividades, que derrubaram seus negócios para os atuais 9%.
iFood domina hoje o mercado

Em que os apps de entrega investem
A 99Food foi a primeira a anunciar seus investimentos no Brasil em 2025. Segundo a empresa, o valor será de R$ 1 bilhão para retornar ao país com seu marketplace de comidas. O principal ponto divulgado de sua estratégia é a isenção de taxas para restaurantes, como forma de atrair estabelecimentos. Para os entregadores, ela promete ganhos de R$ 250 por dia.
Uma semana depois, a colombiana Rappi anunciou que irá investir R$ 1,4 bilhão ao longo dos próximos três anos. Cerca de 80% deste valor também irá para zerar taxas antes cobradas dos restaurantes. Em outras linhas, a empresa criou uma taxa mínima de R$ 10 para seus entregadores nos finais de semana, como forma de ampliar a rede de colaboradores. Por fim, a empresa prepara uma grande campanha de marketing para seus clientes.
Por fim, a chinesa Meituan irá trazer seu aplicativo batizado “Keeta” ao Brasil pela primeira vez. O investimento anunciado é de R$ 5,6 bilhões. Ainda não há detalhes sobre a estratégia da empresa. Na China, ela já possui 770 milhões de usuários ativos e, em 2024, conseguiu entregar até 98 milhões de pedidos por dia.
O iFood não divulgou novos investimentos no país, mas aumentou a remuneração de seus entregadores e criou novos pacotes de benefícios para eles.
Restaurantes saem ganhando
Com ao menos duas plataformas anunciando taxa zero no país, os comerciantes de comida pronta já podem comemorar. Associação que representa 500 mil estabelecimentos do setor, a Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo (Fhoresp) chegou a publicar nota pressionando o iFood a também zerar taxas.
“Tentamos, ao longo dos últimos anos, negociar, de todas as formas, com o iFood. Porém, ela é inflexível. As taxas excessivas que pratica, inclusive, fazem com que, praticamente, os restaurantes trabalhem para ela. O monopólio não fez bem ao Ifood, que estabeleceu uma relação predatória e de dominância com os parceiros”, afirma o diretor-executivo da Federação, Edson Pinto.
Em nota, o iFood afirma que “defende o livre mercado e a livre concorrência”. “Estamos comprometidos em potencializar o sucesso dos parceiros, otimizando e impulsionando cada estabelecimento cadastrado em nossa plataforma e garantindo um atendimento de qualidade”, disse a empresa.
Resta saber se a isenção de taxas vai resultar em preços mais baixos ao consumidor, e se as plataformas conseguirão atrair clientes já acostumados com o iFood.