Diante de uma guerra e de suas consequências mais nefastas como a morte de centenas de civis durante os bombardeios, desabastecimento de alimentos no local e no resto do mundo e a ameaça de um frio sem aquecimento digno por falta de combustível me parece muito justa a reflexão se este é o melhor momento para discutirmos ESG.

Uma das questões que me aflige é:  será que tratar de ações de longo prazo em assuntos tão diversos como os 17 temas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, não distrai a atenção de líderes e autoridades públicas que precisam garantir a sobrevivência das pessoas, hoje? Nem mal termino a pergunta na minha conversa imaginária, e já me respondo um retumbante “Não, obviamente não”. Ao contrário.

COP15: tempo para chegar a acordo pela biodiversidade está se esgotando

Cenas do conflito nos mostram que na verdade precisamos acelerar a transformação do modelo econômico que vivemos desde a revolução industrial, para um outro. Um modelo em que o lucro esteja associado à preservação da biodiversidade e jamais acima dos direitos humanos. Um modelo em que o lucro venha da vida, e não da morte.

É como Victor Van Vuuren, diretor-geral adjunto da Organização Internacional do Trabalho (OIC), afirmou em plenária durante o 11o Fórum das Nações Unidas de Empresas e Direitos Humanos recém realizado na sede da ONU em Genebra, Suíça: “É tempo de mudar as leis, para rebalancear o equilíbrio de poder. Precisamos criar uma economia que sirva às pessoas e até lá há um longo caminho”.

Por isso, com conflitos ou sem conflitos, é imperativo que a Agenda 2030 caminhe. A transição energética é necessária para assegurar o controle da temperatura do planeta, mas também porque pode evitar situações como a crise que a Europa vive hoje pela falta de gás de origem russa. Investir em técnicas de agricultura sustentável pode garantir uma jornada para a fome zero em uma dinâmica em que a produção de alimentos não seja tão dependente de insumos agrícolas que estão concentrados em determinados países. Preservar a vida marinha e a terrestre é condição sine qua non para que pandemias como a da Covid-19 sejam evitadas.

Este ano vai acabando sem deixar muitas saudades para quem trabalha com a agenda sustentável. Mas 2023 chega com a esperança de que as diversas discussões realizadas nas conferências do Clima e da Biodiversidade, nos Fóruns como o do direitos humanos, aterrizem e se tornem objetivos quantificáveis, metas atingíveis e ações práticas. Tudo isso prá ontem. Prá já.