O início da guerra da Rússia contra a Ucrânia já desencadeou diversas mudanças na economia mundial. No entanto, há um setor que pode ser prejudicado diretamente pela movimentação da Rússia e as sanções que o país está recebendo do restante do mundo: o de petróleo e gás natural.

A Rússia é o segundo maior exportador mundial de petróleo bruto e o primeiro de gás natural. O preço do petróleo nos últimos dias aproximou-se da marca de US$ 100 por barril (R$ 513 no câmbio desta sexta-feira, 25), alta de 10%. Com a duração do conflito ainda incerta, o preço do petróleo deve sofrer novos aumentos nos próximos dias.

De acordo com dados da Comissão Europeia, no primeiro semestre de 2021, 25% do petróleo da Europa foi comercializado pela Rússia. Enquanto o segundo maior fornecedor do continente, com 9,1%, é a Noruega e o terceiro, com 8,9%, é o Cazaquistão, um país aliado da Rússia.

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Ou seja, grande parte do continente é abastecido pela Rússia e depende do combustível que vem do país. Com isso, a demanda por carros elétricos deve crescer, pois as pessoas estão buscando alternativas para fugir dessa dependência e dos altos valores dos combustíveis pelo mundo. Porém, especialistas ressaltam que esse movimento não é tão simples.

Mercado de elétricos

Segundo Leonardo Baltieri, cofundador da Vixtra, fintech de comércio exterior, o conflito também deve interferir no preço do combustível no Brasil, dado que a Petrobras utiliza uma política de preços de paridade internacional. Além do petróleo, o impasse também vai interferir no dólar, que deve subir.

“Apesar de um primeiro efeito positivo para os carros elétricos, um momento de conflito gera um segundo impacto, que é a alta do dólar. O segmento de carros elétricos no Brasil é bastante dependente de importações. A balança pesa a favor dos elétricos decorrente da alta de combustíveis, mas o próprio veículo elétrico sofre um impacto negativo”, diz Baltieri.

Para Anderson Souza Brito, CEO da Revhram, assessoria de operações cambiais, o mercado de carros elétricos vai muito além do aspecto ecológico. “O setor também está relacionado à conflitos, como o que estamos vivendo nesse momento. Em 1973, ocorreu uma crise petrolífera que impactou toda a indústria, principalmente automobilística”, destaca.

O CEO afirma ainda que, em 2021, com o intuito de promover a fabricação de veículos elétricos nacionais, a Rússia implementou um subsídio de cerca de 25% do preço de compra, visando uma meta de produção de 220 mil unidades até 2030. O país já pensava em uma expansão da categoria em seu território e queria atrair empresas estrangeiras, já que não há fabricantes nacionais de veículos elétricos.

Componentes

Outro aspecto do desenvolvimento de carros elétricos que pode sofrer com o conflito é a área de componentes. Brito explica que a Rússia é um dos maiores fornecedores mundiais de metais e produtos metálicos, como o paládio, titânio e o níquel.

“A Rússia é fornecedora mundial de cerca de 50% de paládio, produto necessário na fabricação de catalisadores, já o titânio está relacionado à produção de aeronaves, enquanto o níquel é utilizado em baterias de íons de lítio. Dessa maneira, se o suprimento de níquel ficar limitado, a produção das baterias utilizadas nos veículos elétricos será prejudicada”, completa Brito.

Baltieri acredita que ainda é prematuro estimar por quanto tempo o mercado deve sentir esse impacto, dado o acontecimento tão recente, mas a expectativa é de que haverá sim efeitos de longo prazo e não somente momentâneos.

Vale a pena comprar?

E para o consumidor, vale a pena comprar um elétrico agora? Para Baltieri, apesar dos impactos positivos e negativos, no longo prazo, há uma tendência global na adoção de elétricos. “Inclusive, na Vixtra já observamos um interesse crescente de importadores em obter crédito para compras nesse segmento”, finaliza.