Para entender as atuais tensões globais com o potencial destrutivo de uma Terceira Guerra Mundial é preciso conhecer os atores em cena. Vladimir Putin, presidente da Rússia desde 2012, é um estrategista. Ex-espião da KGB, a polícia secreta do governo, ele sabe mover as peças no tabuleiro como poucos líderes mundiais. Conhecido como o homem que nunca chora, Putin não esconde o orgulho de ser frio e calculista. Ele prende opositores políticos, proíbe religiões consideradas suspeitas, como as Testemunhas de Jeová, e é investigado pela comunidade internacional por supostamente ordenar o envenenamento de rivais em território estrangeiro. A teoria maquiavélica de que “os fins justificam os meios” não é uma lição aprendida no livro O Príncipe, de 1532, mas está em seu DNA. E Putin é chefe supremo da segunda maior força militar do planeta – um contingente e arsenal que hoje, posicionados nas fronteiras com a Ucrânia, preocupam o mundo.

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Desde a última sexta-feira (4), declaradamente ao lado de Putin está Xi Jinping, presidente da República Popular da China. Engenheiro químico por formação, o líder comunista de sorriso constante e discreto é ambicioso e tem um plano de longuíssimo prazo. Sob seu comando está a segunda maior economia do mundo e a mais numérica força naval do planeta. Não gosta de japonês, não se importa com os coreanos e, embora não verbalize sentimentos em público, cultiva certo ódio pelos americanos.

No outro lado do planeta está Joseph Biden, o presidente americano de 79 anos que não está disposto a jogar no lixo, no last mile de sua vida, o status de polícia do mundo, de guardião da estabilidade e de pai da democracia. Biden tem sob suas asas o maior poderio bélico mundial, com maior capacidade de controle e influência no mundo desde o Império Romano (29 a.C a 476 d.C). Como comparação, Biden tem um orçamento militar de US$ 700 bilhões por ano. Putin gastou US$ 61,7 bilhões no ano passado, enquanto Jinping destinou US$ 208,5 bilhões para suas forças armadas em 2021, segundo o pouco confiável Ministério das Finanças da China.

Ao lado de Biden está a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), composta pelas maiores potências militares da Europa, entre elas Reino Unido, França e Suécia. Sim, a Suécia! Só a estatal de defesa Saab possui mais navios, caças e veículos de guerra do que toda a América Latina – do México à Patagônia – unida. Apesar de ter uma população de apenas 10,3 milhões de pessoas, a Suécia é cercada por dois vizinhos historicamente malucos, com alemães ao Sul e russos aos Leste. Mas a Suécia é apenas um ator coadjuvante no atual cenário geopolítico. Sozinhos, os americanos tem orçamento e força de guerra maior do que todos os países do planeta somados.

O que tudo isso quer dizer? Que um confronto entre Ocidente e Oriente (representado por Rússia e China) só vai acontecer se os americanos não quiserem encarar uma nova guerra global. Os desdobramentos de uma eventual invasão russa ao território da Ucrânia são incertos. Mas nem tudo é incerto. Não há dúvidas que Putin sabe jogar, Jinping sabe calcular, mas quem ainda tem o poder do combate é Biden.