A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) lançou o Guia sobre a Covid-19 e suas manifestações cutâneas, destinado a esclarecer a população sobre a relação entre a pandemia e lesões de pele. Ele pode ser acessado no site da SBD.

O coordenador do Departamento de Medicina Interna da SBD, Paulo Criado, disse à Agência Brasil que manifestações que ocorrem na covid-19 não são exclusivas desse vírus. Elas são observadas em outras doenças dermatológicas ou doenças sistêmicas.

“Mas, com a infecção pelo SARS-CoV-2, algumas delas têm sido mais comuns”, afirmou. Acrescentou que a estimativa é que a frequência dessas manifestações na covid-19, excluindo a queda de cabelo após a doença, varia de país para país.

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Em média, quase 8% das pessoas infectadas apresentam manifestações cutâneas. “Quando eu falo infectadas não significa que sejam necessariamente sintomáticas. Porque há casos descritos de pacientes assintomáticos, da parte dos sintomas clássicos da covid-19, que tiveram [teste] PCR positivo nasofaríngeo, e podem ter lesões de pele do tipo exantema [erupção geralmente avermelhada que aparece na pele], que são manchas na pele extensas, geralmente sem relevo, ou do tipo similar à urticária, que dá aquele empolamento na pele”, explicou o médico.

Observou que há outras manifestações menos comuns, que ocorrem em pacientes mais graves, que estão com a chamada coagulopatia [doença hemorrágica] associada à covid-19, onde há formação de trombos de pequenos ou grandes vasos sanguíneos, que podem apresentar púrpuras e até gangrena de dedos dos pés e mãos.

Embasamento

O guia pretende responder indagações da sociedade, com base em embasamento científico, porque há muitas perguntas na internet sobre as manifestações de pele, grande parte com notícias de origem duvidosa, disse Paulo Criado.

Ele se referiu aos chamados “dedos da covid-19”, uma manifestação que ocorre frequentemente em pacientes com boa imunidade ao vírus e que nem chegam a ter o PCR positivo. Graças à imunidade inata, essas pessoas já conseguiram eliminar o vírus e podem apresentar a proteção de proteínas inflamatórias em quantidade elevada que geram inflamação nos vasos de sangue bem pequenos na pele, em geral nos dedos, na palma da mão e planta dos pés. Essas lesões meio avermelhadas têm um pouco de sensibilidade dolorosa.

O médico informou, ainda, que essa lesão, na verdade, é o eritema pérnio, conhecido como frieira, que já era visto em várias situações na dermatologia e veio se somar como uma das manifestações em pessoas que tiveram contato com o vírus e, muitas vezes, não mostraram sintomas, porque a imunidade foi tão boa que logo eliminaram o vírus e o PCR foi negativo. Em geral, isso ocorre com crianças e jovens que foram contactantes de membros da família que tiveram covid sintomática, em sua maioria.

A recomendação da SBD é que as pessoas que comecem a apresentar manifestações cutâneas procurem um especialista, porque podem fazer parte do espectro de manifestações da covid-19, como também podem não ter relação. As exantemas, que são as manchas avermelhadas sem relevo, ocorrem também no sarampo e na rubéola, e nas reações alérgicas a antibióticos e outras medicações.

Por isso, o guia recomenda buscar um dermatologista, infectologista ou pediatra para auxiliar no reconhecimento e verificar se as lesões cutâneas podem fazer parte ou não de uma manifestação de covid. As exantemas surgem nos primeiros dias da doença e podem coçar e descamar. A melhora ocorre de forma espontânea, com a recuperação do quadro clínico.

Os especialistas da SBD salientam que, embora os principais sintomas da covid-19 sejam respiratórios, estima-se que seis em cada grupo de 100 pacientes com a doença apresentam alguma manifestação na pele. A identificação de quadros nessa situação ajuda no diagnóstico precoce da covid e no acompanhamento dos casos.

Cabelos

De acordo com o guia, a covid-19 pode desencadear, ainda, queda capilar intensa, também chamada de eflúvio telógeno. Esse sintoma se inicia de um a três meses após a infecção viral e a duração é variável.

Os médicos frisam que medidas como alimentação adequada e lavagem dos cabelos na frequência recomendada podem ajudar. Em alguns casos, o tratamento específico com suplementação de nutrientes e medicações pode ser necessário, mas deve ser orientado por dermatologistas.

A publicação se refere ainda a reações cutâneas que podem ocorrer após o uso de qualquer vacina, sendo mais comum a reação no local da aplicação, tanto imediata como tardia. Nessas situações, podem ocorrer edema, vermelhidão e dor local e exigir, inclusive, tratamento com medicamentos. O guia ressalta, entretanto, que, até o momento, não existe reação cutânea à vacina que impeça a aplicação da segunda dose ou dose de reforço, quando indicada.