O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, disse nesta quinta-feira, 27, que os efeitos defasados da política monetária e as incertezas corroboram a visão de mais uma alta dos juros em menor magnitude, indicada para a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de maio. Durante entrevista coletiva para detalhar o Relatório de Política Monetária (RPM), divulgado no período da manhã, Guillen reforçou a mensagem de que os juros devem ser altos por mais tempo, em meio à desancoragem das expectativas de inflação.

Sobre a revisão para baixo da expectativa de crescimento do PIB deste ano, de 2,1% para 1,9%, ele ponderou que a incerteza sobre a projeção é maior do que o usual. Apesar disso, há segurança no BC, conforme o diretor, de que a taxa de juros em patamar contracionista vai levar o crescimento econômico para abaixo de seu potencial nos próximos trimestres.

Ao longo de um ano e meio, lembrou, o BC viu uma mudança “substancial” da abertura do hiato do produto, diferença entre o crescimento efetivo e o potencial.

Guillen frisou que o BC prevê política monetária contracionista ao longo de todo o horizonte de projeções.

Para o IPCA, ele disse que as projeções vão até o terceiro trimestre de 2027, “com toda incerteza de projetar horizonte longo”.

Núcleos

O diretor de Política Econômica do Banco Central enfatizou que não apenas o IPCA no acumulado dos últimos 12 meses aumentou desde a divulgação de dezembro do então Relatório Trimestral de Inflação (RTI), como os núcleos também subiram. O comportamento dos cores, de acordo com ele, mostra que a elevação da inflação não ocorre em função de itens pontuais.

“Há um processo de dinâmica inflacionária rodando em níveis elevados. A diferença é pequena, se você comparar a inflação cheia e os núcleos”, considerou ele, citando um dos boxes apresentados com o RPM sobre a expectativa de continuidade de aumento dos preços da carne ao longo de 2025. “Tem sido um tema importante na discussão da elevação do preço de alimentos, o preço das carnes. E como quão volátil será isso e quão sustentado será esse preço mais elevado de carne”, detalhou.

O diretor comentou também sobre uma surpresa de 0,32 ponto porcentual para cima na inflação acumulada em três trimestres até fevereiro. Ele observou que, entre as surpresas para baixo no IPCA, estão itens que têm sido muito voláteis. Já os que pressionam para cima têm apresentado uma volatilidade menor.

Ao detalhar as projeções do RPM para a inflação, o diretor enfatizou que o IPCA ficará acima do teto da meta perseguida pela autoridade monetária pelos próximos meses e que isso levará obrigatoriamente a instituição a escrever uma nova carta aberta ao ministro da Fazenda.

“Há uma desancoragem das expectativas de inflação por um período mais prolongado, e a gente discute o que significa esse risco, a mudança de preços, reajustes de preços que podem ser mais rápidos e mais sensíveis quando você tem desancoragem das expectativas por período mais prolongado”, considerou, reforçando que, inclusive, voltaram a subir em horizontes mais longos.

Guillen também mencionou que as condições financeiras continuam em nível mais restritivo atualmente do que estavam no início de dezembro.

Apreciação do real

O diretor de Política Econômica do Banco Central destacou também a importância do repasse cambial para os preços. Ele comentou que a apreciação do real ao longo do primeiro trimestre deste ano acabou puxando a queda do índice de commodities.

Os preços ao produtor, segundo o diretor, desaceleraram a moderação de produtos agropecuários e alimentos industrializados. “Acho que tem sentido uma discussão maior sobre os industrializados, como é que vai se dar esse repasse sobre o IPCA”, observou.

Ele comentou sobre o IPCA, indicando particularmente o comportamento dos preços industriais com um número menor do que esperado. “Mas olhando aqui para o IPCA, no trimestre passado ele tinha subido muito por causa do tudo o que eu falei. Acho que a discussão maior sobre repasse cambial está na parte de industriais, de olhar um pouco como é que está a atividade, o repasse de câmbio, como é que está a expectativa. Acho que é um tema importante.”

Mercado de trabalho

O diretor de Política Econômica do Banco Central disse ainda que o mercado de trabalho mostrou arrefecimento nos últimos meses, porém num ambiente ainda aquecido. Ele apontou a estabilidade da taxa de desocupação no trimestre encerrado em janeiro, depois da queda pronunciada desde o fim da pandemia.

“Você vê aí um recuo no nível de ocupação na ponta. Uma quedinha ali na margem, no nível de ocupação. Isso aí são alguns sinais desse arrefecimento que eu estava comentando, num ambiente de mercado de trabalho aquecido”, disse Guillen.

Ele acrescentou que a geração de empregos com carteira assinada, registrada no Caged, desacelerou, mas continua em nível elevado.

PIB

O diretor de Política Econômica do Banco Central apontou também maiores incertezas, tanto internas quanto externas nas projeções para a atividade econômica. No Relatório de Política Monetária publicado nesta quinta-feira, o BC revisou a projeção ao crescimento do PIB deste ano de 2,1% para 1,9%.

Na apresentação do relatório à imprensa, Guillen observou que a revisão é consistente com a perspectiva de moderação de crescimento, na esteira de uma política monetária mais contracionista.

Ele ponderou, no entanto, as incertezas, num momento em que o BC trata com cautela dados que sugerem menor tração da atividade. “A incerteza sobre essa projeção aumentou, tanto pelas questões externas que a gente já discutiu, quanto pelas internas, como é que vai se dar esse processo de desaceleração”, comentou o diretor do BC.

Pontuou que a projeção de crescimento para 2025 reflete a tendência de redução dos setores mais cíclicos, incluindo o setor de serviços, dado o aumento de juros, ao passo que nos setores exportadores, de produtos primários e agropecuária, houve um aumento da previsão.

Conforme Guillen, o cenário do BC também contempla uma redução na projeção do consumo das famílias e dos investimentos, a formação bruta de capital fixo. “Então, as partes mais ligadas ao ciclo com menor crescimento e as partes menos ligadas, como agropecuária, com crescimento mais expressivo, mais marcado no primeiro trimestre. É um processo de moderação de crescimento ao longo do ano”, afirmou.