Na véspera da decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) sobre o tema, o ex-presidente do Banco Central (BC) Gustavo Franco fez nesta quarta-feira, 28, uma defesa da manutenção do sistema de aferição do cumprimento da meta de inflação baseado no ano-calendário.

Segundo o economista, a meta contínua, na qual o objetivo de inflação pode ser perseguido ao longo dos anos – como propõe o ministro da Fazenda, Fernando Haddad -, já é o que a autoridade monetária faz na prática. O BC, explicou, faz isso quando desiste de buscar a meta de um ano para alcançá-la no ano seguinte, levando em conta em suas decisões o horizonte da política monetária para suavizar a elevação dos juros.

“Sobre meta contínua, é o que já se faz. Melhor não mexer nesse sistema”, disse Franco, um dos formuladores do Plano Real e sócio fundador da Rio Bravo, durante seminário da Abrapp, a associação das entidades fechadas de previdência complementar. Ele questionou se faz sentido reescrever uma norma para fixar o que ela já diz nas entrelinhas. “Acho melhor deixar quieto”, defendeu.

Ele considerou que, após a pressão feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra o BC, será uma vitória se o CMN confirmar a manutenção da meta central de 3%. Franco salientou que, “para não sacudir o barco”, o ideal é repetir os 3% para a meta de 2026, sem alterar a já fixada aos próximos dois anos. “Acho que não vão mexer.”

Instigado a falar sobre os ataques de Lula ao presidente do Banco Central, Gustavo Franco lembrou que os juros subiram para 13,75% em ano eleitoral, de forma que quem deveria odiar Roberto Campos Neto não é o atual chefe do Executivo, mas sim “o presidente que perdeu a eleição”, ou seja, Jair Bolsonaro.

“Todo mundo sabe que vai começar o ciclo de baixa, a discussão é se já devia ter iniciado”, disse Gustavo Franco. “O importante é respeitar. Pode ter havido um pouco mais de retranca ou não, mas a decisão é do treinador”, acrescentou o economista ao falar do trabalho de Campos Neto.