A notícia de que o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, foi sondado por um emissário do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para um segundo mandato à frente da autarquia é positiva por reforçar a independência da autoridade monetária. A avaliação é do ex-presidente do BC Gustavo Franco, que participa de evento organizado pelo Itaú Unibanco na tarde desta quinta-feira, 8.

“É uma ideia vitoriosa, tanto que o presidente eleito quer prolongar o mandato do atual presidente do Banco Central, uma ótima notícia”, disse Franco. “A má notícia é que temos já um desafio para o presidente do Banco Central, com mandato e nomeado por um presidente que não está mais aí Jair Bolsonaro, que é o de enfrentar o pesadelo de todo o Banco Central, a inconsistência fiscal.”

Franco equiparou essa dinâmica à pressão de um “acionista controlador” – neste caso, o governo federal – para que a autoridade monetária “arrume um jeito de pagar as contas dele”. “Isso é o conflito de interesses originário que a independência dos dirigentes do Banco Central procura resolver”, alertou.

O economista disse que a convivência entre Campos Neto e Lula será um teste do modelo de autonomia. Ele lembrou a relação tensa que se estabeleceu entre o primeiro presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Luiz Eduardo Cantidiano, nomeado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e Lula, após a eleição do petista.

“A convivência de Roberto Campos Neto com Lula será a prova desse pudim”, disse. “A notícia de Lula querendo reconduzi-lo já mostra que Lula está enxergando esse problema e se antecipando ao assunto, de que vai ser uma convivência conflituosa.”

O ex-presidente do BC acrescentou que o desenvolvimento das discussões fiscais até março vão determinar se será necessário que o Comitê de Política Monetária (Copom) volte a subir os juros, o que pode determinar o futuro da relação entre Lula e Campos Neto. “Se o panorama de risco fiscal em março estiver com uma cara ruim, aí Roberto Campos Neto vai ter que subir o juro. Aí, eu quero ver se vai ter recondução”, ponderou.