DINHEIRO ? Como está o mercado brasileiro para a Atlas Schindler?

INSERRA ? Nos últimos anos, a construção civil cresceu muito, e a Atlas Schindler, por tabela, tomou uma proporção muito maior do que aquela anterior a 2008. Nossa meta é sempre crescer mais do que o setor de construção civil e estamos conseguindo cumpri-la. De 2009 a 2011, tivemos uma expansão de 40%, enquanto a construção cresceu cerca de 15%. A partir de 2012, no entanto, o mercado esfriou um pouco. No ano passado, avançamos 9,8% e, a construção, 1,4%. E em 2013 estamos mantendo o mesmo ritmo.

 

DINHEIRO ? Há alguma bolha à vista no mercado imobiliário brasileiro?

INSERRA ? Não, o nosso mercado é saudável. Vejo analistas alertando para a existência de alguns bairros específicos no Rio de Janeiro e em São Paulo que podem ter uma oferta próxima da demanda. Não acredito em bolha. Há, na verdade, um enorme déficit habitacional no País.

 

DINHEIRO ? De que forma os negócios da Atlas Schindler conseguem se proteger de períodos de desaceleração econômica?

INSERRA ? Nós temos três modelos de negócios. Os segmentos de manutenção e de modernização são menos dependentes do crescimento do PIB, pois cuida de equipamentos instalados. Já o segmento de instalação de novos equipamentos depende do rumo da economia. 

 

DINHEIRO ? O excesso de volatilidade do câmbio o preocupa?

INSERRA ? Embora o dólar não tenha tanto impacto na nossa vida, a matriz na Suíça não gosta muito de oscilações. Os europeus gostam de previsibilidade no longo prazo. Nosso grande desafio é lidar com essas oscilações, manter a matriz informada e demonstrar que, apesar desse sobe e desce, há uma tendência definida de desvalorização cambial. A questão relevante é se o dólar mais caro terá impacto na taxa de juros e se os projetos em andamento serão freados. 

 

DINHEIRO ? Jacob Züger, CEO das Américas do grupo, te ligou em meio ao sobe e desce do dólar?

INSERRA ? Ah, sim, ele liga sempre. Estive na Suíça no fim de junho e constatei que eles gostam muito do Brasil. A primeira pergunta da matriz, na ocasião, foi sobre o significado dos protestos da população. Eles queriam saber se era um fator de instabilidade econômica.

 

DINHEIRO ? O que o sr. disse?

INSERRA ? Expliquei que era um movimento de jovens que estavam fazendo algumas reivindicações, mas salientei que o perfil do brasileiro é passivo, no bom sentido. 

 

DINHEIRO ? O sr. ficou cinco anos no Exterior. Percebeu que o País está caro?

INSERRA ? Sim, sem dúvida. O Brasil tem cidades com serviços caros não apenas se comparados a Paris, Nova York e Londres. Estão caros de uma forma global. 

 

DINHEIRO ? A matriz suíça vê o Brasil como ?queridinho? ou ?patinho feio??

INSERRA ? A matriz tem uma visão muito positiva do Brasil. O planejamento e o compromisso sempre foram de longo prazo. O perfil do nosso negócio é de longo prazo, pois vendemos equipamentos com manutenção por 40 anos. Por isso, na reunião com a matriz, a grande preocupação é sempre com o longo prazo, deixando de lado questões pontuais. Não dá para tomar uma decisão estratégica olhando o curto prazo, lendo as notícias de hoje. O Brasil, definitivamente, não é um patinho feio. Acho apenas que o País não entregou as expectativas de crescimento nos últimos anos. Mas, para a nossa companhia, o Brasil é muito positivo. Faturamos R$ 1,5 bilhão por ano no País, o  nosso maior mercado da América Latina.

 

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Construção de prédio, em São Paulo

 

DINHEIRO ? O sr. acha que o programa de concessões do governo vai destravar a infraestrutura?

INSERRA ? Estou otimista com as concessões. A economia está migrando de um modelo de consumo para um de desenvolvimento da infraestrutura. Esse é o movimento correto. Sem infraestrutura adequada para distribuir tudo o que se produz, é impossível exportar. Nós distribuímos de Londrina para o Brasil inteiro. O Brasil inteiro mesmo ? cada cidade do País que tem um prédio ou uma loja. É tudo por rodovias. Agora vamos começar a experimentar o transporte por ferrovias, com uma expectativa de melhora na qualidade de distribuição.

 

DINHEIRO ?  A filial brasileira exporta?

INSERRA ? No passado, exportamos para o México, a Colômbia e o Chile, mas paramos por causa da valorização muito forte do real. Além disso, houve um crescimento expressivo do mercado interno, o que nos levou a priorizar o Brasil. 

 

DINHEIRO ? Produzir no Brasil é caro?

INSERRA ? Não acho muito caro. 

 

DINHEIRO ? Mas todos os empresários dizem que é…

INSERRA ? O Brasil poderia ser melhor se não tivesse tantos entraves, tanta burocracia. Mas, mesmo assim, nossa fábrica é competitiva. Fizemos uma comparação com as melhores fábricas da Schindler espalhadas pelo mundo e concluímos que, em termos de custo e produtividade, estamos bem. De fato, o custo da infraestrutura ineficiente é alto, pois o caminhão não chega no horário programado. Esse custo Brasil realmente existe, mas há muitas vantagens de se produzir no País.

 

DINHEIRO ? Quais são essas vantagens?

INSERRA ? A flexibilidade do profissional brasileiro é muito boa se comparada à do restante do mundo. Eu me refiro à flexibilidade em se adaptar a um novo processo de trabalho. A criatividade do nosso pessoal de chão de fábrica é incrível. Em 2012, um profis­sional nosso de Londrina recebeu um prêmio mundial por um processo de segurança que ele implementou na fábrica paranaense e que foi replicado em todas as demais. O brasileiro tem esse diferencial. Isso compensa a falta de infraestrutura, embora eu reconheça que o custo tributário é e­levado.

 

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Linha de montagem da Atlas Schindler, em Londrina (PR)

 

DINHEIRO ? Além do custo elevado, o sistema tributário é complexo…

INSERRA ? Isso mesmo. Atuei em 35 países diferentes ao longo da minha carreira na área de mineração. As reuniões sobre o Brasil eram sempre as mais complexas, por causa da questão tributária. É complicado fazer o pessoal de fora entender toda a estrutura tributária brasileira. Se eu fosse elencar um ponto que o Brasil precisa evoluir, seria o tributário. 

 

DINHEIRO ? O preço do aço assusta?

INSERRA ? Sim, o aço é o nosso principal insumo. Pesa no nosso custo, mas não vale a pena importar. Nós apenas importamos alguns insumos muito específicos que a empresa produz em larga escala num padrão internacional. Temos lançamentos de produtos com plataforma global. O elevador lançado no Brasil é o mesmo que vendemos em Munique, Nova York e Tóquio. Sendo assim, vale a pena produzir alguns desses insumos em grande escala para ganhar competitividade. Para isso, temos uma fábrica na China. Com a alta recente do dólar, podemos pensar em nacionalizar alguns insumos. 

 

DINHEIRO ? Os investimentos da empresa no Brasil são bancados pela matriz?

INSERRA ? Não, o dinheiro é do caixa local. Nós temos liberdade para tomar algumas decisões, pois somos uma das maiores operações do grupo no mundo. Temos uma superfábrica em Londrina, com 50 mil metros quadrados de área, que produz a maior parte dos equipamentos. O grupo opera nove fábricas  no País e a de Londrina é uma das mais modernas.

 

DINHEIRO ? Qual é o diferencial do mercado brasileiro?

INSERRA ? Já visitei vários países e uma diferença que o Brasil tem é a sua verticalização. Uma pessoa comum convive com elevador no dia a dia, ao contrário de outros países. No Brasil, todo mundo sabe o que é um elevador e quais são os concorrentes no mercado. Nas pequenas cidades do interior, um prédio com elevador significa status social.

 

DINHEIRO ? A mão de obra é um gargalo?

INSERRA ? Sim, sofremos essa carência  de mão de obra qualificada. Leva anos para se formar um técnico e um bom engenheiro de elevadores. Temos 400 pessoas trabalhando com engenharia em modernização. O desafio é atrair e reter esses talentos. Nossos técnicos têm de conhecer profundamente as máquinas, o que demanda uma formação de qualidade. O Brasil até forma técnicos e engenheiros com boa qualidade, comparável a qualquer país, mas falta quantidade. Temos um plano de treinamento e estamos investindo em iPhones para os técnicos, que ficarão conectados com o servidor central. De dentro do prédio, eles acessam tudo, fazem o pedido e nós providenciamos o envio. Isso vai reduzir o tempo de espera do cliente e ainda gerar um histórico do elevador.

 

DINHEIRO ? Que tipo de tecnologia de ponta os elevadores possuem?

INSERRA ? A inteligência no elevador permite otimizar o tráfego das pessoas, reduzindo o tempo de espera. Além disso, os motores estão cada vez mais eficientes e os cabos de aço do passado deram lugar às cintas de borracha. Os elevadores estão mais confortáveis e seguros. Lançamos recentemente um novo sistema comercial que é acionado pelo crachá. Ao passar na catraca, o equipamento já indica o elevador, sem apertar nenhum botão. O acesso é só a um determinado andar, o que também ajuda na segurança do edifício. Há ainda sensores biométricos para elevadores residenciais. 

 

DINHEIRO ? São raros os acidentes com elevadores?

INSERRA ? Sim, elevador é considerado o equipamento mais seguro de transporte que existe. Mas, para isso, é fundamental uma boa manutenção. Há também um enorme espaço para modernização. Estamos no Brasil desde 1918 e ainda cuidamos de elevadores que possuem portas puxadas manualmente.