AS COMPANHIAS DE PETRÓLEO foram do céu ao inferno em 2008. O ouro negro parecia distante da crise que levava para o desfiladeiro grandes instituições financeiras americanas. Nessa euforia, o banco de investimentos Goldman Sachs considerou a hipótese de o barril ser negociado a US$ 200 em dois anos. O preço da commodity subiu ininterruptamente até atingir US$ 147 em julho, valorização de 64% sobre a cotação média de janeiro. A partir dali, as nuvens escuras provocaram uma tempestade e o deslize foi rápido, com os preços naufragando para a casa dos US$ 50 em quatro meses. A Petrobras, que teve seu papel preferencial negociado a R$ 53,0 em maio, desceu ao piso de R$ 16,25 na sexta-feira 21, o valor mais baixo desde dezembro de 2005. Na terça 25, já tinha iniciado uma recuperação: fechou a R$ 19,23, alta de 14,8% em dois pregões. Com o mundo entrando em uma recessão sem precedentes e com poucas chances de engatar um crescimento no curto prazo, seria correto pensar que os campos de extração de petróleo vão transbordar sem ter para onde escoar a produção. E as ações das empresas de petróleo vão, conseqüentemente, secar. Certo? A resposta parece ser outra.

Um estudo realizado pela Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) sobre o futuro do consumo, da produção e do preço dá sinais de que o mundo continuará empurrado pelo ouro negro sem se importar com a crise econômica. É verdade que o ritmo da demanda tende a cair até 2010. Mesmo assim, a expectativa é de que o consumo cresça, em média, 1,6% ao ano até 2030. Esse dado supera o crescimento médio de 1% nos últimos 20 anos. E para suprir toda essa sede será preciso aumentar a extração de 85 milhões de barris para 106 milhões de barris ao dia. ?A oferta e a demanda têm um equilíbrio muito grande ao longo da história?, diz Auro Rozenbaum, analista da Bradesco Corretora. Para a IEA, serão necessários investimentos de US$ 26 trilhões em infraestrutura nas próximas duas décadas para dar conta da necessidade mundial de petróleo. E o preço gravitaria em torno de US$ 100. ?Os tempos do óleo barato estão no fim?, declarou Nobuo Tanaka, diretor da IEA, em conferência em Londres.

Com essa informação, é possível contradizer a afirmação no final do primeiro parágrafo. Os poços de petróleo podem continuar produzindo que o mundo vai comprar. Em conseqüência, fica confortável dizer que as ações de empresas do setor estão com um preço atrativo. As americanas Exxon Mobil e Chevron Texaco se desvalorizaram 16,6% e 18,0%, respectivamente, até terça-feira 25. Em valor de mercado, diminuíram US$ 114,60 bilhões e US$ 41,5 bilhões neste ano, cada uma. Mas a grande pechincha é a Petrobras, com as ações preferenciais em queda de 56,2% e um valor de mercado 66,3% menor em 2008, de acordo com dados da consultoria Economática. ?A Petrobras está barata, com certeza?, afirma Mônica Araújo, analista da Ativa Corretora. ?Petrobras a R$ 16, R$ 20, R$ 22 ou R$ 25 é barata?, confirma Kelly Trentin, analista da SLW Corretora. A relação entre o preço e o lucro (P/L) da companhia comandada por José Sérgio Gabrielli reforça esse otimismo. O P/L que era de 15 em maio passado está em 6,0 (veja gráfico ao lado).

O valor atrativo do papel da Petrobras em bolsa pode ser medido pelo potencial de extração do petróleo. E pela valorização da companhia para remunerar o investidor. Na sexta-feira 21, mesmo dia em que a ação da empresa chegou ao seu pior nível em três anos, foi anunciado o Campo das Baleias, no Espírito Santo, com a possibilidade de extrair até dois bilhões barris de óleo. Na terça-feira 25, foi feito o anúncio de uma nova descoberta no litoral baiano, na Bacia do Jequitinhonha, mas ainda sem o total do reservatório a ser explorado. ?As reservas encontradas neste ano têm um potencial aproximado de 14 bilhões de barris. Isso significa toda a reserva atual do País?, diz Kelly, da SLW.

A RELAÇÃO ENTRE PREÇO E LUCRO DA PETROBRAS CAIU DE 15 PARA 6,0 EM MENOS DE SEIS MESES

A dúvida é se o custo da extração em áreas profundas pode ser viável com o preço do petróleo ao redor dos atuais US$ 50. Chakib Khelil, presidente da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), declarou que abaixo de US$ 70 muitos projetos podem ficar pelo caminho. A extração do óleo leve, em áreas rasas, sai por US$ 4. No último balanço da Petrobras, a retirada custava US$ 9,60, um acréscimo de 30% sobre os US$ 7,40 pagos para sugar o petróleo no ano passado. Na semana passada, Maria Graça Foster, diretora de gás e energia da empresa, afirmou que os projetos conseguem seguir em frente com o petróleo a US$ 35 o barril. Essa é uma confirmação do que a Petrobras previu no seu plano de investimentos de US$ 113 bilhões de 2008 a 2013, anunciado no ano passado. Há uma enorme expectativa quanto ao novo plano qüinqüenal, que seria mostrado em outubro, mas foi adiado. ?A empresa retardou o anúncio do novo plano provavelmente para incluir o pré-sal?, diz Rozenbaum, da Bradesco Corretora. ?A Petrobras provavelmente vai reduzir seus investimentos e realocar os recursos?, completa.

Com toda essa capacidade de extração, a queda do papel da Petrobras é considerada exagerada. Ela é explicada pelo forte movimento dos investidores estrangeiros que precisaram se desfazer das ações em mercados emergentes líquidos para reforçar o caixa. A Petrobras paga por ser a mais negociada e atrativa do mercado brasileiro. A dificuldade, porém, é lidar com a volatilidade. ?A falta de visibilidade do médio prazo aumenta o risco de qualquer projeção de preço?, alerta Mônica, da Ativa Corretora. Isso significa que, por mais que os analistas enxerguem boas perspectivas de valorização para o papel, uma análise mais precisa só acontecerá quando o petróleo atingir seu patamar de estabilização ? que está sendo considerado de US$ 70 no ano que vem. Nesse momento, a maioria das corretoras está revisando o preço-alvo das ações preferenciais da companhia. Antes da crise, a expectativa era de que ela chegaria ao teto de R$ 62 até o final de 2009. ?A crise vai fazer o valor da ação se correlacionar mais com o preço do petróleo do que com os resultados operacionais?, diz Bárbara Mattos, analista da Fram Capital. Atualmente, a Planner projeta R$ 30,10, a Win Home Broker R$ 36, a Bradesco Corretora R$ 37,28 e a Spinelli Corretora R$ 45. São potenciais de valorização que vão de 56,5% a 134%. Vale a pena correr o risco?