10/06/2011 - 6:00
DINHEIRO ? Atualmente, há cinco grandes grupos de telecomunicações no mercado brasileiro. Essa concentração, na perspectiva do consumidor, é boa ou ruim?
AMOS GENISH ? Acredito que, com cinco empresas, não exista efeito negativo para o consumidor. Afinal, há operadoras suficientes para estabelecer um cenário de competição. Mas é preciso avaliar setor a setor. Na área de celulares, há cinco teles, agora com a entrada da Nextel. Não conheço nenhum país com essa quantidade de operações móveis. Temos falta de competição, no entanto, na telefonia fixa. A NET e a GVT, que concorrem nessa área, não têm cobertura em 100% do território, o que faz com que Oi e Telefônica, em suas áreas de concessão, não tenham contra quem brigar na maioria das cidades. Na tevê por assinatura, a fotografia é bem pior, pois existe um duopólio entre a NET e a Sky. Com isso, de uma forma geral, há pouca competição no mercado brasileiro de telecomunicações.
DINHEIRO ? Mas mesmo na telefonia celular, onde existem cinco competidores, o serviço é de qualidade ruim e os preços praticados são os mais altos do mundo. Qual é a explicação?
GENISH ? A doença do setor de celulares se chama tarifa de interconexão, que é a mais cara do mundo. No Brasil, ela é de R$ 0,44. Quando um consumidor liga para a rede de outra operadora ou para um telefone fixo, ele tem de pagar essa tarifa. Sem essa taxa, o preço de uma ligação por celular seria mais baixo. O fim da tarifa ajudaria também a mudar o perfil do cliente de celular. No Brasil, mais de 80% das pessoas usam o pré-pago. Não há país nenhum no mundo com esse percentual.
DINHEIRO ? A quem interessa, então, manter a tarifa de interconexão?
GENISH ? Interessa às operadoras de celular. Elas ganham mais. Quem perde é o consumidor.
DINHEIRO ? Há tempos, o Congresso brasileiro discute uma legislação que permite às empresas de telefonia entrar no mercado de tevê por assinatura, por meio de cabo. Mas até agora ela não foi aprovada. A GVT planeja lançar seu serviço de tevê paga via satélite em breve. O sr. cansou de esperar a aprovação da lei?
GENISH ? Esperamos a aprovação da lei por muitos anos, mas nada mudou. Achamos que não podemos apostar nosso futuro esperando essa aprovação. Acredito que o Congresso deve aprová-la, pois ela traz grandes benefícios ao consumidor e ao País. Fala-se muito sobre os gargalos de infraestrutura do Brasil. E dois deles estão nas áreas de tevê por assinatura e de banda larga. Se a lei fosse aprovada, haveria uma nova onda de investimentos, como foi na época do celular. Sem isso, vamos trabalhar com o satélite, que é uma das formas mais primitivas de assistir à tevê.
DINHEIRO ? Os principais concorrentes da GVT, como Telefônica, Oi e Embratel, já operam tevê por assinatura, via satélite. A empresa não chega atrasada nesse mercado?
GENISH ? Claro que seria melhor ter entrado nesse mercado há cinco anos. Mas não perdemos o timing. Como uma empresa pequena e com recursos limitados, nosso potencial para crescer em telefonia fixa foi mais interessante do que entrar em tevê por assinatura. Agora, com a compra pela Vivendi, creio que este seja o melhor momento para isso. A Vivendi nos ajuda de duas formas: recursos e grande conhecimento do setor de tevê pago. Daqui a quatro anos, o mercado de tevê por assinatura vai dobrar no Brasil, de acordo com as pesquisas. Não perdemos o trem ainda.
DINHEIRO ? Qual será o diferencial da GVT para conquistar novos clientes. Será preço?
GENISH ? O consumidor vai pagar o mesmo valor cobrado pelos concorrentes, mas vai receber muito mais. Vamos integrar a nossa tevê por assinatura com a internet e o produto terá uma série de recursos interativos que ainda não são encontrados nas ofertas atuais dos concorrentes.
“O mercado de tevê por assinatura vai dobrar em quatro anos. Não perdemos o trem ainda.”
DINHEIRO ? Quando será a estreia e qual a meta de clientes?
GENISH ? Espero que tudo esteja pronto para estrearmos no fim do terceiro trimestre, em setembro, ou começo do último trimestre. De cada três novos clientes, a meta é de que um seja nosso nesse começo da oferta.
DINHEIRO ? O governo federal recriou a Telebrás com a missão de gerir o plano nacional de banda larga. Qual a opinião do sr. sobre a estatal?
GENISH ? O problema na banda larga, no Brasil, está fora dos grandes centros urbanos. Nas grandes cidades, de uma forma geral, há boas opções de serviços, com altas velocidades e preços competitivos. Mas em médios e pequenos municípios não há competição e as operadoras não têm incentivos para investir. O problema do Brasil é a falta de uma infraestrutura nacional de banda larga. O foco do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, é investir na construção dessa infraestutura, que vai ajudar as empresas alternativas a chegar a cidades pequenas. Isso é o melhor jeito.
DINHEIRO ? O discurso em relação à Telebrás mudou no governo Dilma?
GENISH ? A mensagem e os objetivos são bem claros nesse governo. Para tentar levar internet ao consumidor final, o Estado teria de investir uma cifra incrível. Acredito que essa não é a melhor maneira de gastar dinheiro público, ainda mais quando o setor privado tem interesse em investir. O problema para todos nós é que não queremos criar a infraestrutura sozinhos. Pense nos recursos que teríamos de investir para fazer isso em Manaus. Não há negócio que justifique ao acionista. Mas, se for para compartilhar e fazer entre quatro ou cinco operadoras, isso começa a mudar.
DINHEIRO ? Os concorrentes acusam a empresa de recolher ICMS da banda larga de forma incorreta, o que daria uma vantagem de preços sobre eles. É verdade?
GENISH ? O nosso cálculo para recolher o ICMS é diferente. Entendemos que esse é um assunto jurídico, temos méritos bem fortes e ganhamos todos os processos na Justiça até agora. Mas ele acabou se transformando em um assunto político. Nossa concorrência está chateada demais porque ganhamos participação de mercado. E está tentando criar pressão política nos Estados com esse assunto que é irrelevante para o resultado da GVT. Tenho certeza de que vamos chegar em breve a um acordo com o Confaz e resolver esse problema. Não porque não temos mérito, mas porque ele se tornou um assunto político. É melhor para nós sair desse cenário que não faz grande diferença para o nosso negócio. É coisa pequena e irrelevante.
DINHEIRO ? O sr., então, vai recolher o ICMS integralmente, da mesma forma que os seus concorrentes?
GENISH ? A GVT vai chegar a um acordo e vai resolver o assunto de forma satisfatória para todos os interessados.
DINHEIRO ? Qual o valor do desembolso de caixa que a empresa terá de fazer para resolver a questão do ICMS?
GENISH ? Estou falando que isso é irrelevante para nós. Se a GVT vai recolher 100% do ICMS, isso não vai fazer grande diferença no nosso negócio. (O mercado calcula essa conta em R$ 130 milhões.)
“O foco do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, é investir em uma infraestrutura nacional de banda larga”
DINHEIRO ? Nem no preço ao consumidor?
GENISH ? Não, a GVT não vai mudar o preço ao consumidor. Essa é a nossa promessa. Os preços que vamos apresentar em setembro vão ficar ainda mais agressivos.
DINHEIRO ? A GVT tem planos de entrar no mercado de telefonia celular?
GENISH ? Não temos planos neste momento. Acreditamos que o negócio de celular não tem nada a ver com o nosso serviço convergente, que reúne telefonia fixa, banda larga e tevê por assinatura. O celular é um setor que não tem muita sinergia e tem convergência zero. O foco atual da GVT é ganhar participação de mercado e presença nacional em tevê por assinatura. Depois, vamos olhar de novo o setor de celular.
DINHEIRO ? A GVT não cogita nem em investir na tecnologia 4G de telefonia móvel?
GENISH ? Vamos analisar. Mas acho que ainda é cedo para falar sobre isso. É uma tecnologia nova que ainda tem muitas deficiências. Não é um assunto urgente.
DINHEIRO ? Três dos seus principais concorrentes têm operações celulares. A Telefônica, por exemplo, pagou E 7,5 bilhões pela Vivo. Não é também uma desvantagem?
GENISH ? No geral, há algumas vantagens operacionais nas áreas de marketing e vendas. Mas sem convergência de tecnologia. Não acho que esse seja um assunto que me faça perder o sono.
DINHEIRO ? Quando o sr. comprou a licença da empresa-espelho da Brasil Telecom, em 1999, imaginou que iria ficar tanto tempo no Brasil?
GENISH ? Não posso falar que cheguei para ficar. Foi uma oportunidade de negócio clara, uma daquelas que surgem apenas uma vez na vida. Mas não achei que iria ficar até 2011 e a GVT iria ficar desse tamanho. Agora, vou ficar. Estou vivendo aqui em Curitiba e não quero mudar mais.