O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu na noite de quinta-feira maior “honestidade intelectual” ao avaliar o trabalho do governo Lula na área fiscal e atacou a atuação dos governos anteriores na economia, citando diretamente dois antecessores no cargo, os ex-ministros Henrique Meirelles e Paulo Guedes.

Em entrevista ao programa É Notícia!, da RedeTV, Haddad alegou que o governo Lula está fazendo sua parte para equilibrar as contas públicas.

+ Contas do governo têm déficit de R$ 43 bi em 2024, melhor resultado desde 2022

 

“Nós tivemos o governo Temer e o governo Bolsonaro com déficits fiscais muito superiores — mas muito superiores — ao que está sendo observado agora”, afirmou Haddad. “Havia muita retórica de cuidado com as contas públicas, mas nem o Meirelles, nem o Guedes conseguiram produzir um superávit sustentável das contas públicas.”

Os comentários de Haddad surgem em um contexto de mudanças na comunicação do governo neste início de 2025, após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva substituir Paulo Pimenta pelo publicitário Sidônio Palmeira no cargo de ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom).

Desde então, o governo tem se esforçado para divulgar as conquistas alcançadas até esta metade de mandato, contrapondo-se às administrações anteriores.

“O déficit dos sete anos dos governos Temer e Bolsonaro são déficits que somaram 2% do PIB. Ano passado tivemos um déficit de 0,1%”, pontuou Haddad na entrevista. “Então, passa uma ideia falsa de que estava se cuidando das contas públicas antes e não está se cuidando agora”, acrescentou.

Na tarde de quinta-feira o Tesouro Nacional informou que o governo central registrou um déficit primário de 11,032 bilhões de reais em 2024, o equivalente a 0,09% do PIB. A conta exclui quase 32 bilhões de reais em despesas extraordinárias que não serão contabilizadas na apuração da meta fiscal, especialmente os gastos para mitigar efeitos das enchentes no Rio Grande do Sul.

A meta fiscal do governo para 2024 era de resultado primário zero, com tolerância de 0,25 ponto percentual para mais ou para menos. Na prática, o resultado obtido ficou de fato dentro da meta.

Meirelles foi ministro da Fazenda do governo de Michel Temer entre 2016 e 2018, enquanto Guedes ocupou o Ministério da Economia — que unificou o Ministério da Fazenda com outras pastas — durante todo o governo Bolsonaro, de 2019 a 2023.

Dados apresentados pelo Tesouro na tarde de quinta indicaram que nos dois primeiros anos do governo Lula o déficit primário foi equivalente a 1,19% do PIB. No governo Temer, de setembro de 2016 a 2018, o déficit foi de 2,09% do PIB e, no governo Bolsonaro, de 2019 a 2022, foi de 2,43%.

“O (ex-presidente Jair) Bolsonaro produziu o maior déficit da história do país. Uma parte é pandemia, mas tem outra parte que não tem nada a ver com pandemia. E isso mesmo dando calote em precatório, mesmo vendendo estatal na ‘bacia das almas’, como foi o caso da dilapidação da Petrobras e da venda criminosa da Eletrobras”, atacou Haddad. “Gostaria que nós fôssemos mais honestos intelectualmente, e apontássemos os problemas.”

Vídeos falsos e memes

Questionado sobre a possibilidade de se candidatar à Presidência da República em 2026, Haddad voltou a negar. Além disso, lamentou que sua imagem esteja sendo usada em vídeos falsos e na proliferação de memes críticos ao ministério.

Neste mês, um vídeo adu

“Quando você pega a imagem de um ministro da Fazenda, faz uma deepfake (adulteração realista)… eu jamais autorizaria isso contra um adversário”, afirmou.

lterado com a imagem de Haddad circulou pelas redes sociais, com o ministro supostamente anunciando a intenção de “taxar tudo”. Como a Reuters informou, o vídeo é falso e foi criado por inteligência artificial.

O governo também enfrentou em janeiro notícias falsas sobre uma possível taxação do Pix, o que levou à revogação de uma norma da Receita Federal que estabelecia, na verdade, novos parâmetros para monitoramento de movimentações financeiras no sistema.

“Quem é que reajustou a tabela do IR (Imposto de Renda)? Foram eles? Eles mantiveram a tabela sete anos congelada. Eles penalizaram o trabalhador por sete anos. E agora querem se apresentar como defensores dos trabalhadores?”, questionou Haddad na entrevista, em referência à oposição.

Alimentos e inflação

Mais cedo, em trechos da entrevista antecipados no jornal RedeTV News, Haddad havia afirmado que os preços dos alimentos tendem a se acomodar em 2025 em função da safra forte e do dólar mais baixo. O ministro disse ainda que o Brasil tem espaço para crescer 2,5% em 2025, reduzindo a inflação.

Na entrevista completa veiculada mais tarde, Haddad desconversou sobre a possibilidade de o governo adotar alíquotas de importação menores para alimentos que estejam com preços mais elevados no Brasil.

“Não é prudente mexer muito com essas coisas antes de aferir o impacto real. Mas houve algumas indicações neste sentido”, disse o ministro. “Ficou tudo no âmbito dos estudos técnicos.”