No dia após Donald Trump anunciar uma taxa de 50% nos Estados Unidos sobre as importações brasileiras, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, atribuiu o ataque à articulação de “forças extremistas dentro do país”, sobretudo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

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“Família Bolsonaro urdiu esse ataque ao Brasil e com um objetivo específico: escapar do processo judicial que está em curso”, disse Haddad nesta quinta-feira, 10. “Isso não é uma acusação infundada. O próprio Eduardo Bolsonaro disse que se não houver o perdão, as coisas vão piorar.”

Atualmente licenciado da sua atuação no Congresso, o filho de Jair Bolsonaro citado pelo ministro reside desde março nos Estados Unidos, onde articula apoio ao pai nos processos movidos pela Justiça brasileira. Eduardo Bolsonaro (PL-SP) celebrou a taxação imposta por Trump em um vídeo publicado em suas redes sociais na noite de quarta-feira, 9.

“A carta do presidente dos Estados Unidos apenas confirma o sucesso na transmissão daquilo que viemos apresentando com seriedade e responsabilidade. Ao Brasil, todos os avisos foram dados”, disse Eduardo, que pede em seguida a anistia dos acusados de tentativa de golpe de estado. “Sem essas medidas urgentes, a situação tende a se agravar.”

Em entrevista vinculada no canal de YouTube TVT News, Fernando Haddad disse ainda desacreditar na durabilidade da medida de Donald Trump. “O tiro vai sair pela culatra. Isso não pode se sustentar. Até a extrema-direita vai ter que reconhecer mais cedo ou mais tarde que deu um enorme tiro do pé”, disse. “A diplomacia brasileira está à disposição desde sempre do governo americano para buscar a solução de maior parceria e entendimento.”

Haddad defende política externa

Questionado sobre uma possível relação entre as novas medidas de Donald Trump e o fortalecimento buscado pelo Brasil do bloco econômico Brics+, Fernando Haddad defendeu a postura do governo brasileiro. “Nós não estamos dando mais ou menos espaço para quem quer que seja. O Brasil está buscando parcerias para se desenvolver com a maior tranquilidade e pragmatismo possíveis”, disse.

O ministro afirmou ainda que a alíquota efetiva de importação brasileira — calculada a partir do valor de todas as importações brasileiras e as taxas cobradas sobre elas — é de 5,2%. No caso dos Estados Unidos, Haddad afirmou que o número cai pela metade: 2,7%.

“O fato de o Brasil ser um país multilateral, insistir no multilateralismo, não fazer um alinhamento automático e ideológico, não pode servir de pretexto para uma atitude sem nenhuma racionalidade, sem equilíbrio nenhum”, disse. “O Brasil vai seguir seu caminho: o multilateralismo político e econômico. Nós acreditamos que um mundo bipolar é ruim. Alinhamento ideológico é ruim para o Brasil. Para defender interesses nacionais, nós temos que aproveitar as oportunidades que se oferecem pragmaticamente.”

Fernando Haddad voltou então a reiterar sua crença em um recuo das medidas promovidas pelo presidente dos Estados Unidos. “Nós temos que buscar pela diplomacia fazer ver que isso não interessa. Talvez quem ajudou a promover esse ataque vá acabar se arrependendo e se mexendo para tentar reparar”, disse. “O resultado desse tipo de ação vai ser desastroso para quem promoveu.”