O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, elogiou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, por recuar poucas horas após o anúncio de parte das medidas que aumentavam o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Na fala feita durante o XI Seminário Anual de Política Monetária, promovido pela Fundação Getulio Vargas nesta sexta-feira, 23, o economista também declarou ser contra o uso do IOF como medida fiscal.

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“O ministro deixou claro nas medidas de ontem que está buscando atender as metas fiscais. É normal que, nessa busca por alternativas e soluções, possa surgir alguma medida que provoque algum mal estar ou não se insira de maneira adequada, e demande que seja revista ou suprimida”, disse o presidente do Banco Central.

“Acho que todo mundo aqui precisa louvar e reconhecer o ministro, como bom democrata que é, poucas horas após o anúncio da medida, ela já estava suprimida. Antes mesmo de o mercado abrir ele já tinha ouvido a sociedade, ouvido os agentes”, seguiu Galípolo. “Cabe a todos nós reconhecer a tempestividade e a agilidade com que o ministério da Fazenda atuou.”

A Fazenda anunciou na noite de quinta-feira alterações no IOF que buscavam ampliar a arrecadação para cumprir com as metas do atual arcabouço fiscal. Horas depois, parte das medidas foram revogadas diante de críticas de diversos setores do empresariado e do mercado financeiro. O recuo reduziu o ganho de arrecadação do governo em aproximadamente R$6 bilhões até 2026.

Em sua fala, Galípolo elogiou ainda o fato de tanto o anúncio como o recuo terem ocorrido durante as horas em que a bolsa de valores brasileira estava fechada, de modo que o impacto sobre o mercado financeiro foi reduzido.

IOF como medida fiscal

Na sequência, Gabriel Galípolo também declarou em sua fala ser contra o uso do tributo como uma medida de ajuste fiscal.

“Em debates anteriores, em qualquer momento que se discutia o IOF como alternativa para persecução da meta, eu, pessoalmente, para usar um eufemismo, nunca tive muita simpatia sobre a ideia, não gostava da ideia”, disse.

Segundo o presidente do Banco Central, ele não foi informado previamente dos planos da Fazenda sobre esta medida. A descoberta ocorreu durante uma coletiva de imprensa na tarde de quinta-feira, quando o assunto veio à público.

Aumento de IOF incendiou mercados

“O aumento foi criticado porque afetaria estratégias de diversificação internacional de fundos multimercados, desincentivando o envio de recursos para fora”, afirma o economista André Perfeito. “A percepção no mercado foi que o aumento do IOF poderia gerar fuga de capitais e comprometer o equilíbrio fiscal, o que afetou o Ibovespa, dólar e curva de juros”.

Numa reversão de movimentos no fim da tarde de ontem, o dólar subiu, e a bolsa caiu, em meio a incertezas sobre a elevação do imposto, anunciada após o fechamento do mercado de câmbio e nos minutos finais de negociação na bolsa de valores.

O dólar comercial, que chegou a cair para R$ 5,59 no início da tarde da véspera, e subiu para R$ 5,66. A bolsa, que chegou a subir 0,69% durante o dia, reverteu o movimento e fechou o dia em baixa de 0,44%.

Um levantamento feito pela equipe de estratégia da XP com 60 investidores institucionais indicava que o real deveria ter forte desvalorização na abertura do mercado nesta sexta-feira, 23, com a vigência da medida. A expectativa dos investidores institucionais ouvidos pela equipe de estratégia da corretora era de que o dólar chegaria a R$ 5,85 na abertura do mercado.